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Brasília

Clínica é denunciada após recusar atendimento a garoto autista em Taguatinga

A denúncia foi registrada na 17a Delegacia de Polícia do DF, na segunda-feira (29 de maio), como injúria preconceituosa – idoso/deficiente

Amanda Karolyne

02/05/2024 6h59

Foto: arquivo pessoal

Em abril uma clínica de Taguatinga Sul foi acusada de negar atendimento a uma criança de seis anos com Transtorno do Espectro Autista (TEA). A professora Malu Nogueira, mãe da criança, denunciou a clínica para a Polícia Civil do Distrito Federal, depois de ter tentado marcar uma consulta para o filho que está no nível 3 do espectro autista. O caso foi na sexta-feira, 26 de abril.

A denúncia foi registrada na 17a Delegacia de Polícia do DF, na segunda-feira (29 de maio), como injúria preconceituosa – idoso/deficiente.

A professora e psicopedagoga clínica, Malu, contou que ao ser atendida pela clínica, tudo estava normal, até que ela disse que o filho estava no nível 3 da TEA, e eles responderam que não tinham atendimento para esse grau de autismo. “Eu estava marcando pela primeira vez uma consulta. Entrei em contato com a clínica pelo WhasApp”, explicou. Ela tentou marcar para o filho Eduardo, consultas de fono, psicologia e psicopedagogia.

Malu desabafa que esse tipo de tratamento capacitista costuma ocorrer em outros lugares. Mas ela não esperava enfrentar essa situação em uma clínica de atendimento especializado. “Eu jamais imaginei passar por uma situação como essa”, relata. Em escolinhas que ela procurou conhecer para matricular o filho, o atendimento era ótimo, mas quando era mencionado que Eduardo é autista as coisas mudaram. “Eles falavam: acabamos de conferir que não temos mais vagas na turma”. Em uma academia de natação, a mãe e o filho também tiveram o mesmo tratamento, disseram ainda que ele precisava de uma professora particular e os valores seriam mais altos. “Nessas situações, eu nem tive força para bater de frente, tanto que hoje ele realmente tem uma professora particular, porque cansamos de receber esse tipo de tratamento”.

Indignada, Malu afirma que as pessoas questionam muito se a clínica foi honesta. “Falam que deixaram claro que não poderiam atender, mas ninguém tem uma formação pela metade. Se os profissionais são qualificados e capacitados, eles são capacitados para todos os niveis”, reforça. Quando ela foi informada que não tinha atendimento para o nível de autismo de seu filho, ficou em choque. “Não imaginava que um local destinado a crianças como meu filho, teria essa segregação relacionada aos níveis de autismo”. Ela esperava encontrar acolhimento e apoio, além de um tratamento de qualidade, mas vivenciou mais uma vez o capacitismo que já conhecia.

Pela Lei Brasileira de Inclusão (LBI), clínicas multi ou interdisciplinares precisam ter condições de atender todos os níveis da TEA. “Eles reconheceram que é necessário uma capacitação para essa equipe. Mas falta muito para conscientização das pessoas em geral”.

Após compartilhar o ocorrido, Malu conta que recebeu apoio de algumas famílias, que também cobraram um posicionamento da clínica na rede social. “Eles foram extremamente grosseiros, hostis e ameaçadores. Chegaram a dizer que era um “relato fake”. Eu fiquei abismada com a falta de empatia”, comenta. Na segunda-feira (29 de maio), ela ligou na clinica sem se identificar e perguntou como era feito o atendimento e o atendente disse: “só atendemos até o nível 1”. Malu concluiu que não foi um fato isolado. “Era um local com uma postura hostil para famílias como a minha e que só se desculpou após repercutir”, finaliza. Por isso, ela decidiu fazer valer os direitos do filho e denunciou o ocorrido. “Para que não usem palavras bonitas para vender um serviço usando o autismo como comércio. Esse é um trabalho que precisa de muito amor e responsabilidade”.

Erro de comunicação

Para a coordenadora da clínica Allegra, Thalita Macaúba, toda essa questão aconteceu por falta de comunicação entre as partes envolvidas. De acordo com a profissional, a clínica multidisciplinar e interdisciplinar atende o público infantil majoritariamente, com os serviços de fonoaudiologia, psicologia, psicopedagogia, nutrição, pediatria e odontologia. “E atendemos aqui, pacientes no espectro do autismo de todos os níveis, atendemos Síndrome de Down, paralisia cerebral e as demais síndromes que existem”.

O que acontece, é que segundo a coordenadora, quando a mãe do Eduardo entrou em contato com a clínica, ela foi atendida por uma funcionária em treinamento, e o mal entendido aconteceu. A recepcionista que atendeu Malu, disse que não tinha atendimento para o nível 3 devido a estrutura da clínica. “Nós sabemos que o conselho de psicologia e o conselho de fonoaudiologia abraça a gente, e que não é toda clínica que tem suporte para atender pacientes nível três”.

Ela alega que esse atendimento é feito na clínica, o paciente tem que realizar uma consulta ou com Thalita ou com o dono da clínica. Não, não vamos conseguir atendê-lo. “E aí essa mãe parou na recepção, não chegou a me conhecer, nunca veio aqui na clínica. E aí por essa mensagem, a mãe se sentiu desprezada, foi no grupo de mães atípicas e elas foram rede social metralhar um a gente com palavras de baixo calão”.

De acordo com Thalita, a clínica tem espaço para autistas de todos os graus, mas a mãe não chegou a conhecer. “Ela nem sequer pediu para conversar com algum responsável”. Thalita reforça que procurou Malu para conversar na segunda-feira (29). “Ela não quis me ouvir. E já foi denunciando a gente em todas as mídias. Ela se sentiu lesada, agredida e, mas foi uma denúncia equivocada”.

A partir da denúncia, foi feito um convite para todas as mães e para Malu para conhecerem a clínica e conversarem, e Thalita reforçou que a funcionária já foi afastada da área de autismo do estabelecimento. Além disso, foi feita uma reunião com o supervisor de recepção para treinar todos os recepcionistas.

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