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Brasília

Cigarras voltam e anunciam chegada da primavera em Brasília

Apesar de não possuir relação com as águas pluviais, o canto desses insetos sempre esteve associado à chegada das chuvas

Vítor Mendonça

25/09/2023 6h10

Foto de Bill Nino na Unsplash

Elas voltaram e já enchem a cidade com a cantoria. Anunciando a virada de estação para a primavera, iniciada no último sábado (23), as cigarras já preenchem o silêncio de áreas arborizadas com o canto característico desta época do ano, que na crença tradicional da população brasiliense – e de outras espalhadas no Brasil – significa a chegada das chuvas.

O coro que anuncia a chegada da primavera significa, na verdade, a chegada do período de acasalamento das cigarras, uma vez que o canto entoado é feito apenas pelos machos. Em busca de uma parceira, os insetos produzem os sons agudos para atraí-las à procriação da espécie. Em outras ocasiões, porém, pode ser uma arma de defesa contra ameaças de pássaros, servindo ou para afugentá-los pelo som estridente ou para alertar que estão por perto.

Após acharem uma parceira, as cigarras macho param de cantar, procriam e morrem. As fêmeas, por sua vez, antes de morrerem, colocam os ovos nas fendas dos galhos nas árvores ou em folhas. Após eclodirem, pequenas ninfas nascem e seguem caminho para debaixo da terra, onde ficam se alimentando da seiva das raízes das plantas.

Enterradas, o tempo de amadurecimento das ninfas das cigarras presentes em Brasília dura aproximadamente quatro anos, sempre debaixo da terra. As que ouvimos atualmente, portanto, são fruto do acasalamento de 2019. Antes do período de chuvas, elas finalmente saem da terra, sobem nos troncos das árvores e passam por um processo de transformação para se tornarem adultas de fato, deixando para trás os exoesqueletos encontrados em cascas de árvores.

Para Maria das Virgens, 56 anos, o som produzido pelas cigarras é encantador porque “representa o chamado das chuvas”. “De onde eu vim [Rio Grande do Norte], na nossa cultura, isso significa chuva. Estive ouvindo as cigarras cantando e já sei que vai chover. Não tem coisa mais linda do que ouvir o canto das cigarras, é um bicho que fica escondido, mas muito belo”, disse.

Babá no Sudoeste, ela costuma levar a criança que cuida nas áreas verdes da Região Administrativa e permanece ouvindo as cigarras por um tempo. “De certa forma é como um mito que traz avisos de coisas boas. É muito lindo”, disse. “Cigarra cantou, é chuva. Está muito quente, então espero que vá chover mesmo, estamos precisando refrescar. Acredito que elas vão cumprir o que estão prometendo, porque elas só chamam a chuva quando ela vem mesmo.”

A característica única dos insetos costuma aparecer na época mais quente do ano, mas não há estudos que correlacionam o início do canto dos invertebrados com as chuvas. De acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), as águas pluviais, porém, podem demorar a chegar em Brasília, o que significa que o tempo quente e seco deve perdurar na capital por pelo menos duas a três semanas antes que as chuvas retornem.

Onda de calor

Foto: EBC

Enquanto as chuvas não chegam, temperaturas altas como as registradas no início da primavera devem se tornar cada vez mais constantes. No último sábado (23), Brasília registrou o dia mais quente do ano, com 35,7°C no Gama. Em razão da falta de chuvas e nuvens neste início de estação, que bloqueiam parte da incidência solar, outros recordes devem ser alcançados nos próximos dias.

De acordo com o prognóstico climático de primavera elaborado pelo Inmet, trata-se de “um período de transição entre as estações seca e chuvosa no setor central do Brasil”. “Também é possível notar o processo de convergência de umidade vinda da Amazônia, que define a qualidade do período chuvoso sobre as regiões Centro-Oeste e Sudeste e em parte do centro-sul da Região Norte”, diz o estudo do órgão.

Desde o dia 16 de setembro, a estação meteorológica de Brasília, no Sudoeste, não registra temperaturas máximas abaixo dos 30°C. A maior foi registrada sábado, com 33,6°C. No Gama, o índice máximo está acima da terceira dezena desde o dia 8 deste mês. Até quinta-feira (28), a previsão feita pelo Inmet é que todas as temperaturas máximas cheguem a 35°C.

Nesta segunda, a umidade relativa do ar também deve variar entre 55% e 20%, com poucas nuvens e névoa seca na cidade. Da mesma forma, este padrão deve se repetir até quinta-feira, com umidade ainda mais baixa, chegando a 15% na mínima e entre 50% e 55% na máxima.

Manter-se hidratado, portanto, é essencial para preservar a saúde física e mental. O calor costuma trazer sensação de cansaço e fadiga, e os níveis de água no corpo precisam permanecer elevados. A recomendação geral é para ingestão mínima de pelo menos 2 litros d’água todos os dias e a não exposição ao sol nos horários mais quentes do dia, entre 11h e 15h.

As queimadas permanecem como sério risco à saúde humana, vegetal e animal no DF. Com o clima mais quente e seco, além da ação do vento, as chamas podem se alastrar mais facilmente.

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