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Brasília

Blocos lamentam cancelamento de Carnaval

Segundo o presidente da Liga dos Blocos, Paulo Henrique, o cancelamento é algo triste, mas já era consenso entre os blocos associados

Redação Jornal de Brasília

06/01/2022 18h55

Foto: Agência Brasília

Amanda Karolyne e Gabriel de Sousa
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Na manhã desta quinta-feira (06), o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), afirmou à imprensa que as festas públicas do feriado do Carnaval de 2022 serão canceladas. O motivo do cancelamento foi devido à alta de casos de infecções por coronavírus no DF, e pelo receio de um avanço da variante ômicron no DF. “Será muito difícil termos festas de Carnaval no DF”, afirmou o governador.

Segundo o presidente da Liga dos Blocos, Paulo Henrique, o cancelamento é algo triste, mas já era consenso entre os blocos associados que o carnaval não fosse realizado novamente. “É um quadro que preocupa, mas a secretaria de cultura fez um edital, e nós estamos fazendo ensaios em nossas sedes, que estão nos ajudando a respirar”, informa.

Pertencem à Liga dos Blocos, alguns dos blocos mais antigos do Distrito Federal, como Baratona, Raparigueiros e Galinhos. E segundo Paulo, a Liga não teria condições sanitárias de atender os foliões neste momento.

Nesta quinta, a taxa de transmissão do coronavírus no Distrito Federal chegou a 1,45. O número acima de 1, segundo especialistas, indica que o vírus está fora de controle em uma determinada região.

O Governo do Distrito Federal (GDF) deve publicar nos próximos dias, um decreto no Diário Oficial do Distrito Federal (DODF) que irá oficializar o cancelamento das festas de Carnaval nos próximos dias. O secretário da Cultura, Bartolomeu Rodrigues, informou para a imprensa que na nova prerrogativa, deve haver também restrições para os eventos do setor privado.

O produtor cultural Lucas Formiga, do bloco Cafuçu do Cerrado, conta que ficou preocupado quando viu sobre o cancelamento do carnaval. “Aparentemente, não entendem que com a descontinuidade do evento, a gente fica sem subsídio”, comenta. São dois anos que o setor cultural, e principalmente de eventos, enfrenta essa crise, e Lucas espera que o governo crie políticas públicas para não deixar quem vive do período do Carnaval ficar sem renda. “Não adianta cancelar os eventos, e não criar plano de contingência para salvaguardar a economia de outra forma, seja através de edital ou de premiação”, exemplifica.

Ele relata que o evento foi cancelado mais uma vez, mas as contas para pagar não param de chegar, portanto, ele e a classe de eventos esperam notícias de um edital que abrace os blocos alternativos de Brasília. “Eu murchei quando vi que esse decreto sairia, por mais que a gente tenha que se preocupar com a questão de saúde, mas desde o início da pandemia a área de cultura está a duras penas”, ressalta. Ele acredita que esse cancelamento não afeta só o carnaval, e sim os eventos como um todo, então ele aguarda para saber quais são os planos do governo. “O evento em si é o ganha pão da gente, porque os blocos geram aquecimento na economia, mas agora os blocos não vão sair e vamos ficar sem renda”, completa.

De acordo com Pablo Feitosa, do bloco Suvaco de Asa, o Suvaco preza pela saúde da população e colabora com toda e qualquer medida de segurança sanitária. No entanto, ele afirma que existe uma cadeia de profissionais da cultura e do setor de serviço que está a deriva. “Mas, acredito que a decisão de não ter carnaval, devido o aumento dos casos de covid seja uma decisão acertada”, comenta.

Ainda segundo Pablo, salvo algumas conversas com a Secretaria de Cultura, nada foi feito para socorrer a categoria prejudicada com o cancelamento do carnaval nesses dois anos de pandemia. Ele faz questão de informar que o bloco Suvaco oportuniza mais de 300 postos de trabalhos direto, no dia do seu desfile. “Fora o que é feito antes e toda a cadeia de trabalhadores ambulantes”, finaliza.

O decreto foi lançado oficialmente nesta sexta, então a maioria dos organizadores dos bloquinhos só sabiam até então que se tratava do cancelamento do carnaval de rua e de festas privadas. Segundo Dayse Hansa do Carnaval de Todas as Cores, mesmo sem saber dos detalhes do decreto, a pandemia é algo muito preocupante.

O produtor do bloco Sereias Tropicanas, Guylherme Almeida, conta que eles estão acompanhando as atualizações da pandemia e suas variantes e sabem que é um cenário muito delicado. “Mas nós trabalhadores da cultura precisamos continuar trabalhando, já é o segundo ano sem carnaval no DF, o que prejudica não apenas os artistas, mas milhões de profissionais envolvidos na festa, de costureira a músicos, roadies, etc. Nós queremos a realização de um carnaval controlado, em ambientes fechados, em que se possa exigir a cobertura vacinal”, destaca.

Para Guylherme, Brasília tem o formato de carnaval setorizado, sendo assim, é fácil conseguir ter um amplo controle de acesso. Ele entende a posição do governo em cancelar o carnaval, mas lamenta ter que ficar mais um ano sem emprego.

Segundo Thiago Fanis, produtor do Bloco Charretinha+Tropicaos, esse ano por conta da pandemia, o bloco não irá sair para as ruas de Brasília. Para Thiago, o retorno do carnaval seria muito importante para poder fomentar os vários setores da economia que ficaram parados e sem renda nesse período. “No entanto, assumir a responsabilidade de aglomerar as pessoas em um momento tão delicado é algo que nós decidimos não fazer”, complementa.

Para Juliana de Andrade, coordenadora da Rede Carnavalesca de notícias, memórias e informações do carnaval no DF, o que está sendo discutido é a maior festa do planeta. “O maior tesouro cultural do nosso país, e numa situação de pandemia, o que deveria acontecer com o carnaval, era ele ser protegido”, aponta. Ela esperava que no mínimo tivesse um tratamento especial com a memória do carnaval, como aconteceu em outros estados, com o auxílio para quem vive do evento. Ela acredita que o carnaval é uma humanização dos tempos, e que existe uma desinformação a respeito da Lei do Carnaval. “Algo muito grave que está acontecendo, é como esse debate está sendo feito, e ao invés dos órgãos públicos que têm o dever de lutar pela cultura, estão na verdade atacando”.

Juliana é representante da Praça dos Prazeres, uma plataforma do carnaval, que mantém o carnaval vivo tem 16 anos, e ela sabe que no momento em que estamos lidando com a pandemia, algumas áreas são mais afetadas. Mas Andrade questiona o que está sendo feito para salvaguardar a cultura. A principal questão destacada por ela, é a fragilização do carnaval que vem em consequência do modo como a categoria é tratada. Ela frisa que o carnaval não é só aglomeração, e que essa interpretação é brutal. Para ela, o semiárido feito pela Secretaria de Economia e Cultura foi a única política pública feita, e mesmo assim deixou a desejar em vários aspectos.

Quanto ao cancelamento do carnaval, ela tem dúvidas sobre como isso vai acontecer, se as festas já estão acontecendo. “Vai fechar os bares? Como é que fica isso? Acontecem festas desde quando os casos estavam mais altos?”, finaliza. Ela explica que é importante saber que o carnaval é organizado espontaneamente, ‘debaixo para cima’, e não necessariamente as pessoas são institucionalizadas. “Alguns blocos são institucionalizados, e o gestor da política pública se aproveita disso para impedir que as pessoas acessem seus direitos, é muito cruel”, afirma.

De acordo com Juliana, não existe mais um dado econômico atualizado sobre o carnaval que, de 2013 para cá, cresceu muito no Brasil todo, mesmo sem políticas públicas voltadas para ele. “E o carnaval movimenta muito a economia, a gente não tem um dado econômico de um tesouro criativo cultural e nós estamos no país do carnaval, isso é muito sério”.

Segundo ela, no DF são 156 blocos de carnaval, 2 plataformas e 21 escolas de carnaval, com 14 atuantes. Mas não há desfile das escolas desde 2014.

Já no caso das escolas de samba no DF, segundo o presidente da Associação Recreativa Cultural Unidos do Cruzeiro (Aruc), Rafael Fernandes, eles contam com o edital da Secretaria de Cultura para promover atividades e manutenção. A escola estava trabalhando contando com dois cenários, e como o carnaval de rua será cancelado, a programação vai ser convertida para o formato on-line. A Associação irá realizar um concurso para escolha do samba-enredo durante o pré-carnaval, transmitido pelo canal no YouTube.

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