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Brasília

As verdadeiras damas do tiro esportivo

A atividade é regulamentada e fiscalizada pelo exército. Esporte que divide opiniões tem conquistado cada vez mais as mulheres

Redação Jornal de Brasília

05/04/2022 13h04

Foto: Beatriz Vilas Boas/ Foto: Hélio Pereira

Tereza Neuberger
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“Pista quente!”, é o jargão utilizado pelos praticantes de tiro esportivo como um sinal sonoro de segurança para avisar aos demais presentes no local de que um disparo será realizado. O esporte, que divide opiniões, envolve concentração, agilidade, autocontrole e tem conquistado cada vez mais o interesse feminino pela prática.

O Jornal de Brasília conferiu de perto como funciona a prática em um clube de tiro esportivo do Distrito Federal. Ao chegar no local, são apresentadas as primeiras normas de segurança em relação a quem porta arma de fogo, em seguida vem as instruções sobre o manuseio e a conduta na pista de tiro para garantir a prática saudável e sem intercorrência de acidentes.

Empoderamento é a palavra da atualidade no que diz respeito às mulheres, e a presença feminina cada vez maior nos clubes de tiro do Distrito Federal representa essa busca. Não só como uma prática de defesa mas o simples conhecimento acerca do tiro e de como funciona um armamento trazem segurança para as mulheres.

“Dentro desse universo nem todas as mulheres se interessam por comprar uma arma de fogo, elas simplesmente querem aprender e ter o conhecimento.”, destaca a instrutora de tiro Beatriz Vilas Boas, de 43 anos. A instrutora é policial civil e ministra aulas de tiro para civis há quatro anos, com um forte público feminino também aplica instruções de defesa pessoal. Porém, de acordo com Beatriz, 40% das mulheres que procuram o curso já sofreram algum tipo de violência e desejam se defender, os outros 60% são de mulheres que nunca sofreram nenhum tipo de violência e desejam somente a instrução.

“Até 2018 eu ministrava instruções de tiro somente para novos policiais, em 2018 eu entendi a necessidade das pessoas civis de se instruírem e resolvi passar para esse mundo também.” conta Beatriz, que é instrutora de tiro desde 2008 e inicialmente passava instruções apenas a novos colegas da polícia civil.

De acordo com a instrutora, ao ministrar a modalidade de tiro de defesa não só a técnica do tiro é ensinada. A modalidade engloba pontos importantes que são transmitidos aos praticantes, entre eles a conscientização, a prevenção e a preparação. De forma a preparar as adeptas da modalidade para todo tipo de situação e ponderar sobre a necessidade do uso ou não de um armamento.

A servidora pública Jacqueline Neves, de 34 anos, teve os primeiros contatos com o mundo do tiro esportivo em 2015 através das redes sociais. Logo em seguida, buscou instrução em um clube de tiro, para conseguir a emissão do Certificado de Registro (CR), necessário para se tornar uma atiradora esportiva. “Esse momento do curso foi um divisor de águas na minha vida, porque depois disso nunca mais larguei o mundo do tiro.”

Atualmente a servidora pública treina e participa de várias competições de tiro esportivo, afirma que dentre as dificuldades enfrentadas pelos praticantes ainda há grande preconceito em relação ao esporte. “O amor que temos, as nossas responsabilidades, nossas abdicações, o quanto precisamos justificar o nosso esporte.” explica Jack Neves, como é conhecida no mundo do tiro, e acrescenta que mesmo diante de tudo isso continua treinando e auxiliando outras pessoas a entenderem sobre esse universo.

“No começo todo mundo tinha medo e preconceito, mas com os anos e vendo minhas atitudes a respeito das armas e do tiro esportivo algumas até começaram a atirar e outras mesmo não querendo ter contato começaram a ver com uma certa naturalidade.” conta Jack. Outra dificuldade enfrentada pela servidora no mundo do tiro, foi a barreira de gênero.

“É um cenário em que a maioria é masculina”, porém Jackeline descobriu a capacidade do esporte de igualdade. O tiro ele costuma nivelar todo mundo, não escolhe o gênero. O cara que atira bem no alvo e a mulher que atira bem ali no centro você não vê gênero.”

A atividade de tiro esportivo é fiscalizada e regulamentada pelo Exército Brasileiro. Os CACs na legislação brasileira, é a designação dada aqueles cidadãos, que cumprindo as demandas impostas, relativamente à antecedentes criminais e habilitação de manuseio e disparo, têm o direito à possuir uma arma de fogo e munições para que se possam exercer as atividades de colecionismo, tiro desportivo e caça, podendo exercer uma, duas ou as três atividades.

Beatrice Carvalho, tem apenas 12 anos e já acompanha de perto o mundo do tiro esportivo desde que tinha 9 anos na companhia do pai, o advogado Jadson Carvalho. Após sofrerem um assalto à mão armada, o advogado que já praticava tiro esportivo, percebeu que a filha ficou bastante insegura e assustada, ele resolveu então levar a filha para o clube de tiro. “O trauma praticamente sumiu após levá-la aos estandes.” conta o advogado.

“O tiro desportivo como vários outros tipos de esporte faz com que a gente trabalhe muito a disciplina.”, conta o advogado que leva esporadicamente a filha aos estandes, e acredita valer a pena, mesmo diante da burocracia. Para que crianças e adolescentes pratiquem o esporte nos clubes de tiro além de estarem acompanhados e com a autorização de um responsável legal. Menores de 14 anos devem ter uma autorização judicial para a prática.

A “Dama de Vermelho”

Após o episódio conhecido como “Dama de Vermelho” que trouxe grande repercussão, não só no Distrito Federal, acerca do uso de armamento por Caçadores, Atiradores e Colecionadores (CACs), muitas questões foram levantadas em relação ao tiro esportivo. A Federação de Tiro Prático do Distrito Federal emitiu uma nota de repúdio em relação ao vídeo da “Dama de Vermelho”, onde um grupo de pessoas portando armas, interrompe o trânsito na avenida Samdu, localizada em Taguatinga-DF, para a travessia de uma mulher que participava de um ensaio fotográfico.

O caso está sendo investigado pela Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF), e o Exército Brasileiro fez uma inspeção no local. Os oito homens armados e os responsáveis pelo clube de tiro que participaram da ação no vídeo tiveram o CR cancelado.

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