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Brasília

Agroecologia: Preocupação com meio ambiente cresce na agronomia

Dentre as práticas encontradas por esses trabalhadores, está a agroecologia, ciência que alia os princípios da natureza com a produção agrícola e conhecimentos tradicionais

Mayra Dias

24/01/2024 18h36

FOTOS: ARQUIVO PESSOAL (JOCEILSON)

A crescente busca das pessoas por uma alimentação saudável e sustentável é um tema que vem influenciando cada vez mais os hábitos na agricultura. Apesar de ser um desafio, preservar o meio ambiente através de novas técnicas que resguardem a terra se tornou a missão de mais de 2 mil agricultores que trabalham com atividades sustentáveis na capital, segundo a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Distrito Federal (Emater-DF).

Dentre as práticas encontradas por esses trabalhadores, está a agroecologia, ciência que alia os princípios da natureza com a produção agrícola e conhecimentos tradicionais.  A prática desenvolve agroecossistemas com dependência mínima de insumos agroquímicos e, diferentemente da já conhecida produção orgânica, nesta, o contexto é mais amplo.

O cultivo agroecológico prega pela diversificação de plantações, respeitando o perfil biológico de cada solo e bioma. “Neste caso, é muito forte a vocação regional, costumes, uso de variedades, e aplica-se toda uma visão antroposófica sistêmica, que vai desde a lua certa para cada espécie até o dízimo da terra”, explica Joceilson Alves de Sousa, administrador e técnico em agropecuária. Um cultivo agroecológico, sistema agroecológico ou ainda agroecossistemas, buscam imitar os ecossistemas naturais, levando em conta a origem, formas de vida e interações dos animais e plantas. Segundo a Emater, hoje, 2.188 propriedades adotam essas práticas no DF.

FOTOS: ARQUIVO PESSOAL (JOCEILSON)

 

Para os alimentos agroecológicos deve-se levar em conta os seguintes  fatores:

 

  • Alimentos sem agrotóxicos, tendo o controle de pragas através de métodos e produtos naturais;

  • Logística de distribuição sustentável, dando preferência para a venda e consumo dos produtos na mesma região do cultivo;

  • Variedade de espécies plantadas, sempre respeitando as características do solo e clima da região;

  • Relações de trabalho com viés sustentável e social, oferecendo a valorização dos trabalhadores rurais e o fomento da economia local.

A agroecologia, desta forma, fornece princípios básicos para tratamento de ecossistemas tanto produtivos quanto preservadores de recursos naturais, alinhando-se ao atual contexto, onde, cada vez mais, o consumidor exige produtos limpos, sem resíduos químicos e, claro, que geram menos impacto no ecossistema.

Tal interesse, não apenas por parte da população, mas também dos produtores rurais, surgiu, segundo o Gerente do programa de agroecologia e agricultura orgânica da Emater-DF, Daniel Oliveira, por diversos fatores. “Podemos destacar como principais: o aumento do preço dos insumos convencionais; o maior nível de entendimento, por parte da ciência, de como utilizar esses princípios, a maior resistência dos sistemas agrícolas às intempéries (secas/pragas/calor…), e ainda questões como a disponibilidade de insumos e consultorias especializadas”, pondera o especialista. Este último, segundo ele, deu maior segurança aos agricultores.

 

Da insatisfação ao próprio negócio

FOTOS: ARQUIVO PESSOAL (JOCEILSON)

Motivado pela frustração do cultivo de hortaliças no método tradicional, Joceilson decidiu, há 9 anos atrás, entrar no universo agroecológico. “Na prática comum, a regra é pouco obedecida quanto ao uso de agrotóxicos, e essa desilusão ocorreu após o término do curso técnico em agropecuária, em 1991, quando iniciei na produção de hortaliças na propriedade de amigos”, relembra o produtor. “Desde 2000, ano em que adquiri o meu espaço, aplicamos a sustentabilidade, e migrei, oficialmente, de produtor tradicional ao desenvolvimento sustentável, em 2015”, acrescentou o administrador.

A vontade do produtor do Núcleo Rural Taquara, em Planaltina DF, era de buscar pela qualidade de vida, o que acabou de encontro com o serviço público que prestava em 1999. “Minha função era produzir plantas medicinais para doação a comunidade local, dentro da área hospitalar de Planaltina. Lá, funciona a farmácia Viva do Centro de Referências em Práticas Integrativas (CERPIS), o que se alinhou com nosso propósito, que sempre foi qualidade de vida”, conta. Hoje, Joceilson produz, em seus 3 hectares de terra, desde frutas como banana e maracujá, até chuchu, pimentão e tomate.

No entanto, o principal diferencial do produtor de Planaltina é sua produção medicinal. “Temos em plena produção o primeiro Horto medicinal particular do DF, com melaleuca, erva baleeira, alecrim, pimenta, boldo, etc”, comenta o trabalhador. “Desde que comecei, só consegui ver vantagens. Vantagem de não ter carga tóxica, rastreável e sustentável em todo o processo de cultivo. Existe uma consciência maior alinhada com a manutenção e cura do planeta”, avalia o agrônomo. “É importante consumir produtos livres de agrotóxicos e, além disso, contribuir com o meio ambiente, para que ele se mantenha vivo”, defendeu.

O empresário destaca ainda os ganhos profissionais. “Obtivemos uma melhor captação e retenção de água, o aumento da fauna e flora e produção de 70% de nossa alimentação atual”, compartilha. “Os retornos vêm desde pecúnia em parceria com Adasa/Emater com o programa produtor de água, até o aumento na produção de frutas e verduras. Isso possibilitou a criação de uma CSA que, no auge, chegou a alimentar 80 famílias diretamente com retorno financeiro; Sem contar a sombra para refrescar a terra e os animais e a matéria orgânica gerada pela floresta”, finalizou Joceilson.

Mas se engana quem acha que os benefícios se limitam aos consumidores e produtores. De acordo com Daniel Oliveira, as vantagens para o meio ambiente variam entre o uso de insumos locais, o menor uso de agroquímicos, o aumento da biota do solo, a maior fixação de gás carbônico no solo, bem como uma maior qualidade nutricional dos produtos.

FOTOS: ARQUIVO PESSOAL (JOCEILSON)

 

Algumas práticas utilizadas na agroecologia:

 

-Adaptação de material genético vegetal/ melhoramento participativo;

– adubação verde simples ou coquetel;

– análise de solo/foliar e equilíbrio nutricional;

– biofertilizantes;

– calda de microrganismos benéficos;

– cobertura do solo;

– compostagem e manejo de resíduos orgânicos;

– consorciação e policultivos;

– controle biológico de pragas (inundativo e conservativo);

– cultivo de agroflorestas / sistemas agroflorestais;

– cultivo de espécies do cerrado;

– cultivo de outros sistemas agroecológicos;

– cultivo de quintais;

– desenho ou redesenho agroecológico de agroecossistemas;

– extrativismo sustentável;

– Incentivo e implementação de pomar doméstico;

– incremento da biodiversidade em agroecossistemas – enriquecimento de pomares;

– introdução de biodiversidade funcional ou produtiva;

– manejo ecológico da vegetação espontânea (mato) ;

– manejo ecológico de pragas;

– minhocultura;

– permacultura;

– Cultivo mínimo;

– plantio em faixas alternadas com vegetação arbustiva/arbórea;

– pousio e roçagem;

– produção agroecológica de sementes de cultivares adaptadas/crioulas;

– quebra-ventos/cercas vivas/arborização de sistemas de produção;

– rochagem / biomineralização – uso de adubos minerais naturais;

– rotação de culturas;

– sucessão ecológica/vegetativa

– alimentação e formulação de rações apropriadas;

– arborização de pastagens / pastagens nativas/pastagens consorciadas;

– banco de proteínas;

– manejo de instalações e do rebanho – Conforto e respeito ao comportamento animal;

– manejo ecológico de enfermidade das criações;

– melhoramento / adaptação genética ou zootécnica;

– sistemas (introdução e manejo) agrossilvipastoris ou ILPF;

– utilização de bioinsumos (homeopatia, fitoterapia, outros);

 

 Em 2023, a Emater-DF realizou 3.453 atendimentos referente ao Manejo e Conservação de Água e Solo que contemplam: orientação aos agricultores sobre a necessidade da conservação ambiental, identificação de possíveis beneficiários e recomendação técnica para reflorestamento de Área de Preservação Permanente (APP) e Reserva Legal (RL), levantamento planialtimétrico para orientação de construção de terraços e adequação de estradas (barraginhas e ondulações transversais).

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