A crescente busca das pessoas por uma alimentação saudável e sustentável é um tema que vem influenciando cada vez mais os hábitos na agricultura. Apesar de ser um desafio, preservar o meio ambiente através de novas técnicas que resguardem a terra se tornou a missão de mais de 2 mil agricultores que trabalham com atividades sustentáveis na capital, segundo a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Distrito Federal (Emater-DF).
Dentre as práticas encontradas por esses trabalhadores, está a agroecologia, ciência que alia os princípios da natureza com a produção agrícola e conhecimentos tradicionais. A prática desenvolve agroecossistemas com dependência mínima de insumos agroquímicos e, diferentemente da já conhecida produção orgânica, nesta, o contexto é mais amplo.
O cultivo agroecológico prega pela diversificação de plantações, respeitando o perfil biológico de cada solo e bioma. “Neste caso, é muito forte a vocação regional, costumes, uso de variedades, e aplica-se toda uma visão antroposófica sistêmica, que vai desde a lua certa para cada espécie até o dízimo da terra”, explica Joceilson Alves de Sousa, administrador e técnico em agropecuária. Um cultivo agroecológico, sistema agroecológico ou ainda agroecossistemas, buscam imitar os ecossistemas naturais, levando em conta a origem, formas de vida e interações dos animais e plantas. Segundo a Emater, hoje, 2.188 propriedades adotam essas práticas no DF.
Para os alimentos agroecológicos deve-se levar em conta os seguintes fatores:
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Alimentos sem agrotóxicos, tendo o controle de pragas através de métodos e produtos naturais;
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Logística de distribuição sustentável, dando preferência para a venda e consumo dos produtos na mesma região do cultivo;
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Variedade de espécies plantadas, sempre respeitando as características do solo e clima da região;
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Relações de trabalho com viés sustentável e social, oferecendo a valorização dos trabalhadores rurais e o fomento da economia local.
A agroecologia, desta forma, fornece princípios básicos para tratamento de ecossistemas tanto produtivos quanto preservadores de recursos naturais, alinhando-se ao atual contexto, onde, cada vez mais, o consumidor exige produtos limpos, sem resíduos químicos e, claro, que geram menos impacto no ecossistema.
Tal interesse, não apenas por parte da população, mas também dos produtores rurais, surgiu, segundo o Gerente do programa de agroecologia e agricultura orgânica da Emater-DF, Daniel Oliveira, por diversos fatores. “Podemos destacar como principais: o aumento do preço dos insumos convencionais; o maior nível de entendimento, por parte da ciência, de como utilizar esses princípios, a maior resistência dos sistemas agrícolas às intempéries (secas/pragas/calor…), e ainda questões como a disponibilidade de insumos e consultorias especializadas”, pondera o especialista. Este último, segundo ele, deu maior segurança aos agricultores.
Da insatisfação ao próprio negócio
Motivado pela frustração do cultivo de hortaliças no método tradicional, Joceilson decidiu, há 9 anos atrás, entrar no universo agroecológico. “Na prática comum, a regra é pouco obedecida quanto ao uso de agrotóxicos, e essa desilusão ocorreu após o término do curso técnico em agropecuária, em 1991, quando iniciei na produção de hortaliças na propriedade de amigos”, relembra o produtor. “Desde 2000, ano em que adquiri o meu espaço, aplicamos a sustentabilidade, e migrei, oficialmente, de produtor tradicional ao desenvolvimento sustentável, em 2015”, acrescentou o administrador.
A vontade do produtor do Núcleo Rural Taquara, em Planaltina DF, era de buscar pela qualidade de vida, o que acabou de encontro com o serviço público que prestava em 1999. “Minha função era produzir plantas medicinais para doação a comunidade local, dentro da área hospitalar de Planaltina. Lá, funciona a farmácia Viva do Centro de Referências em Práticas Integrativas (CERPIS), o que se alinhou com nosso propósito, que sempre foi qualidade de vida”, conta. Hoje, Joceilson produz, em seus 3 hectares de terra, desde frutas como banana e maracujá, até chuchu, pimentão e tomate.
No entanto, o principal diferencial do produtor de Planaltina é sua produção medicinal. “Temos em plena produção o primeiro Horto medicinal particular do DF, com melaleuca, erva baleeira, alecrim, pimenta, boldo, etc”, comenta o trabalhador. “Desde que comecei, só consegui ver vantagens. Vantagem de não ter carga tóxica, rastreável e sustentável em todo o processo de cultivo. Existe uma consciência maior alinhada com a manutenção e cura do planeta”, avalia o agrônomo. “É importante consumir produtos livres de agrotóxicos e, além disso, contribuir com o meio ambiente, para que ele se mantenha vivo”, defendeu.
O empresário destaca ainda os ganhos profissionais. “Obtivemos uma melhor captação e retenção de água, o aumento da fauna e flora e produção de 70% de nossa alimentação atual”, compartilha. “Os retornos vêm desde pecúnia em parceria com Adasa/Emater com o programa produtor de água, até o aumento na produção de frutas e verduras. Isso possibilitou a criação de uma CSA que, no auge, chegou a alimentar 80 famílias diretamente com retorno financeiro; Sem contar a sombra para refrescar a terra e os animais e a matéria orgânica gerada pela floresta”, finalizou Joceilson.
Mas se engana quem acha que os benefícios se limitam aos consumidores e produtores. De acordo com Daniel Oliveira, as vantagens para o meio ambiente variam entre o uso de insumos locais, o menor uso de agroquímicos, o aumento da biota do solo, a maior fixação de gás carbônico no solo, bem como uma maior qualidade nutricional dos produtos.
Algumas práticas utilizadas na agroecologia:
-Adaptação de material genético vegetal/ melhoramento participativo;
– adubação verde simples ou coquetel;
– análise de solo/foliar e equilíbrio nutricional;
– biofertilizantes;
– calda de microrganismos benéficos;
– cobertura do solo;
– compostagem e manejo de resíduos orgânicos;
– consorciação e policultivos;
– controle biológico de pragas (inundativo e conservativo);
– cultivo de agroflorestas / sistemas agroflorestais;
– cultivo de espécies do cerrado;
– cultivo de outros sistemas agroecológicos;
– cultivo de quintais;
– desenho ou redesenho agroecológico de agroecossistemas;
– extrativismo sustentável;
– Incentivo e implementação de pomar doméstico;
– incremento da biodiversidade em agroecossistemas – enriquecimento de pomares;
– introdução de biodiversidade funcional ou produtiva;
– manejo ecológico da vegetação espontânea (mato) ;
– manejo ecológico de pragas;
– minhocultura;
– permacultura;
– Cultivo mínimo;
– plantio em faixas alternadas com vegetação arbustiva/arbórea;
– pousio e roçagem;
– produção agroecológica de sementes de cultivares adaptadas/crioulas;
– quebra-ventos/cercas vivas/arborização de sistemas de produção;
– rochagem / biomineralização – uso de adubos minerais naturais;
– rotação de culturas;
– sucessão ecológica/vegetativa
– alimentação e formulação de rações apropriadas;
– arborização de pastagens / pastagens nativas/pastagens consorciadas;
– banco de proteínas;
– manejo de instalações e do rebanho – Conforto e respeito ao comportamento animal;
– manejo ecológico de enfermidade das criações;
– melhoramento / adaptação genética ou zootécnica;
– sistemas (introdução e manejo) agrossilvipastoris ou ILPF;
– utilização de bioinsumos (homeopatia, fitoterapia, outros);
Em 2023, a Emater-DF realizou 3.453 atendimentos referente ao Manejo e Conservação de Água e Solo que contemplam: orientação aos agricultores sobre a necessidade da conservação ambiental, identificação de possíveis beneficiários e recomendação técnica para reflorestamento de Área de Preservação Permanente (APP) e Reserva Legal (RL), levantamento planialtimétrico para orientação de construção de terraços e adequação de estradas (barraginhas e ondulações transversais).