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Muito Prazer, Luisa Miranda
Muito Prazer, Luisa Miranda

O que é sexo para você?

Que tipo de sexo é esse em que a mulher não pode se expressar sexualmente?

Lu Miranda

18/10/2023 15h57

Arte: Lu Miranda

Na semana passada, escrevi aqui um texto perguntando por que mulheres sexualmente seguras assustam os homens e tive muitas respostas contraditórias. Todavia, um comentário em especial me chamou mais atenção. Dizia o seguinte: “Assustam? Nenhum homem sério quer prostituta, que vocês esquerdistas chamam de segura na cama”.

Esse comentário ressoou bastante e gostaria de falar sobre isso.

Nos textos trazidos por mim aqui na coluna, tenho explorado, em diversas abordagens, o impacto que nossa cultura machista e patriarcal tem sobre nossa satisfação na cama e o quanto o nosso prazer e empoderamento são castrados diariamente. Nos manter submissas e sem autoconhecimento emocional e sexual parece uma grande estratégia para manter o homem em um lugar de conforto e dominância. E como isso acontece no sexo?

Sabe-se que muitos desejos podem surgir durante o sexo: lambida e chupão no pé, estimulação prostática, práticas de BDSM… muita coisa pode rolar. Esses momentos de intimidade podem ser incríveis para os dois naquele ato sexual, entretanto, saindo das quatro paredes, pode se tornar um grande problema.

A falta de permissividade em nos expressarmos de uma forma geral já entra como um ponto super relevante. “Mulher casada não fala putaria” é uma frase que já ouvi diversas vezes durante a vida. De forma geral, precisamos estar sempre atentas para não sermos vulgares demais, inteligentes demais, autenticas demais. Para não sermos nós mesmas. E o custo disso é ser espelho para aquele outro que se percebe ameaçado com tais comportamentos.

Sexo sempre esteve vinculado a poder e assim permanecerá, e um dos fatos que contribui para isso é que o sexo é (ou pelo menos deveria ser) um lugar que envolve vulnerabilidades e constrangimentos, e usar isso contra alguém num contexto cruel como o nosso, infelizmente, é muito comum. “Vamos ser chamadas de puta, mesmo. Pelo menos eu gozo gostoso e ganho meu dinheiro. E ainda tem mais: me sinto mais respeitada pelos homens que eu atendo do que por aqueles com quem eu me relaciono amorosamente.”

Eu mesma passei anos ouvindo em meu contexto social que existia mulher para casar, namorar e transar, e que, no final das contas, os homens nunca escolhiam as mulheres que já tiveram muitos parceiros sexuais. Entretanto, o contrário não é visto como um problema, já que pode ser bom o homem ter mais parceiras, se o objetivo for aprender, amadurecer e desenvolver novos repertórios e comportamentos.

Sendo assim, o que é sexo para você?

E que tipo de sexo é esse em que a mulher não pode se expressar sexualmente ou demostrar querer outras coisas que não apenas a penetração? Ou até pode, desde que seja nos moldes da pornografia ou da forma como o homem quer que seja? E o prazer dela, fica aonde? Não por acaso, muitas e muitas mulheres não gostam de sexo. Para elas, raramente é bom, porque nos foi tirado o desejo de desejar.

Olhar e questionar os próprios aprendizados é muito relevante para se ter uma boa relação com a parceria. Se você a ama verdadeiramente, permita e dê espaço para que ela conheça mais sobre o próprio prazer, afinal de contas, uma relação é formada por pessoas individuais que precisam entender suas individualidades para poderem levar o melhor de si para o outro.

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