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Ciência da Psicologia
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Chega de falsos gurus

Cansei dos falsos gurus usando a psicologia para enganar e criar uma legião de adoradores de bezerros de ouro

Demerval Bruzzi (CRP 01/21380)

30/05/2023 10h19

Confesso a vocês que cansei dos falsos gurus usando a psicologia para enganar e criar uma legião de adoradores de bezerros de ouro.

Como se não bastasse a turma da constelação familiar, perpassando a saúde publica até os desacreditados tribunais, agora temos de conviver com pessoas resuscitando a já ultrapassada teoria dos temperamentos de Galeno, misturada com a religião.

Travestidos de estudiosos, tais gurus utilizam-se da “ignorância” de seus seguidores para transformar uma falácia em verdade, como, por exemplo, aqueles que creditaram à Maslow a criação da pirâmide das necessidades, sendo que Maslow, em sua teoria, nunca criou a pirâmide. O verdadeiro criador foi Charles McDermid, em uma apresentação em 1960, data bem distante da publicação da teoria por Maslow em
1943, na revista revista Psychological Review.

Agora, os falsos gurus se interessam pela teoria dos temperamentos de Galeno. Segundo essa doutrina, a condição de saúde depende do equilíbrio de humores corpóreos, e sua combinação ocasiona os temperamentos; e existem relações entre caráter temperamento, aparência física e afetos do homem.

A teoria humoral tinha tanto aspectos médicos propriamente ditos como psicológicos. Talvez por isso os aproveitadores viram uma oportunidade de explorar o tema pouco conhecido, se beneficiando e atribuindo seu conhecimento ao estudo da teologia, antropologia, neurociências e, claro, filosofia.

E o pior é que sequer conseguem se aprofundar na teoria propriamente dita, já que a teoria dos temperamentos parte de informações contidas em alguns tratados do Corpus Hippocraticum (coletânea de cerca de 60 tratados que, embora tenha sua autoria vinculada a Hipócrates de Cós, não pode ser atribuído a nenhum autor em especifico) e contribuições de Galeno, bem como alguns de seus desdobramentos. Ou seja, nossos gurus sequer sabem com profundidade a teoria na qual baseiam seus “tratados”.

Talvez alguns poucos tenham pelo menos lido, ou mesmo tentado plagiar a ideia do livro de Enio Starosky: “Temperamentos & Religião – Tipologia e compreensão de perfis religiosos: uma análise a partir de David Keirsey”.

E mesmo a teoria da tipologia de Myers-Briggs (1995), em seu famoso teste MBTI (Myers-Briggs Type Indicator) reabilitado, em versão contemporânea, não consegue se sustentar e hoje é superada pelo modelo do Big Five.

Mas destaca-se que, na antiguíssima doutrina dos temperamentos, Keirsey fornece uma poderosa ferramenta para auxiliar na compreensão do modo de ser de cada um, preferências de gosto, conhecimento, modo de agir e de reagir aos estímulos exteriores, estilos, enfim, sua instalação no mundo., Tanto que até hoje, desavisados gestores de RH e diversos coachs e gurus utilizam-se do teste MBTI em empresas, para contratação e/ou promoção de profissionais.

Talvez por isso, as empresas sofram tanto na mão de consultorias e gestores que não sabem contratar. Assim, o ditado: “Contrato pela técnica, demito pelo comportamento”, nunca esteve tão errado, afinal, contratou-se errado.

Diante do exposto, amigo leitor, teorias como a dos temperamentos, ou mesmo as de Leopoldo Szondi, ou as que amparam o DISC, MBTI, entre outras, são fascinantes, marcantes, porém, sem a devida sustentação prática, nos restando uma teoria aceita internacionalmente, cuja cientificidade se origina no Big Five.

Então, não caia no conto do vigário. A teoria da personalidade sustentada teoricamente apresenta cinco grandes domínios, que se sustentam, por conseguinte, em diversas facetas, que, por sua vez, são apresentadas como traços.

Tal teoria reforça ainda mais a ideia de Maturama e Varella de que somos seres autopoiéticos, cujo rizoma é alterado a cada nova descoberta.

Give me five e até a próxima!

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