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Torcida

Um ano do incêndio e pouca coisa foi realizada

Menos da metade das famílias das vítimas chegaram a acordo com o Fla e ninguém foi condenado pelo descaso

Petronilo Santa Cruz de Oliveira Neto

07/02/2020 7h26

A fire truck is seen in front of the training center of Rio’s soccer club Flamengo, after a deadly fire in Rio de Janeiro, Brazil February 8, 2019. REUTERS/Ricardo Moraes

Eram aproximadamente 5h quando em 8 de fevereiro de 2019, o Brasil acordou com a notícia da maior tragédia em um Centro de Treinamento de clube do futebol brasileiro. Dez meninos entre 14 e 16 anos estavam dormindo no Ninho do Urubu, onde o Flamengo treina, morreram com o incêndio que tomou conta de um contêiner, sem alvará e em péssimas condições para servir como alojamento.

Amanhã, a tragédia no Ninho do Urubu completa um ano. As investigações da Polícia Civil do Rio de Janeiro ainda estão em curso, depois que o Ministério Público devolveu o inquérito por duas vezes, a última no dia 19 de dezembro para a apuração de novas informações. Possíveis culpados pelo incêndio que deixou dez adolescentes mortos e três feridos ainda não foram apontados, tampouco qual será o enquadramento jurídico.

A expectativa é de que este mês a polícia entregue o inquérito pela terceira vez ao MP. De acordo com a 42ª DP novas diligências estão sendo feitas.

“Esse inquérito vai ser encaminhado pelo promotor responsável pelo caso, vindo da delegacia, e o promotor vai analisar e verificar se há a hipótese de oferecer a denúncia nesse caso”, disse Pedro Rubim, promotor do Ministério Público.

Em junho, foram indiciados por dolo eventual o ex-presidente do Flamengo, Eduardo Bandeira de Mello, e outras sete pessoas, incluindo engenheiros do clube e da empresa “NHJ”, responsável pelos contêineres, além de um técnico de refrigeração. O fogo no alojamento no Ninho começou em um aparelho de ar condicionado.

Vice-jurídico do Flamengo, Rodrigo Dunshee disse em vídeo divulgado pelo clube – pois o presidente Rodolfo Landim e seus parceiros ainda não deram sequer uma coletiva em que a imprensa pudesse perguntar para sanar as dúvidas de familiares e do povo – que a tragédia foi um acidente, e reconheceu a responsabilidade do clube de indenizar a família das vítimas. “O Flamengo sabe da responsabilidade, independente de culpa. De tudo que vimos, nos aparenta ter sido um acidente. Mas temos responsabilidade como guardiões dos adolescentes”.

“Explicações” só por vídeo

Neste mesmo vídeo, ao lado do presidente Rodrigo Landim e do CEO Reinaldo Belotti, Dunshee afirmou ainda que o Flamengo vai esperar a conclusão das investigações para avaliar a necessidade de ações internas. Veja a íntegra das declarações dos dirigentes no vídeo abaixo.

“No Flamengo fazemos investigações internas para pequenas infrações. Essa situação é enorme e importante, que está sendo vista pela polícia e justiça. No dia que concluírem, tirarem as conclusões, apontarem as causas e eventuais culpados, aí o Flamengo vai se manifestar internamente. Não seria correto intervir em uma questão que ainda está nas mãos das autoridades”, declarou.

O Ministério Público deseja que a polícia intime a CBF e Federação de Futebol do Rio de Janeiro (Ferj) a fornecerem informações sobre a concessão do certificado de clube formador ao Flamengo. Na ocasião do incêndio, o presidente da CBF era Marco Polo Del Nero. O clube conseguiu o certificado em 2015, quando a Ferj informou que todas requisitos haviam sido atendidos. A ideia é entender os motivos para a aprovação.

Há também um pedido para que a polícia peça explicações para a empresa “NHJ do Brasil” sobre a venda e fornecimento de contêineres para o Flamengo. Com base em informações do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do RJ (Crea-RJ), a “NHJ Brasil Container´s” encerrou suas atividades no dia 17 de março de 2014 e não poderia comercializar esse produto.
Após as novas diligências, a polícia vai devolver este mês o inquérito ao Ministério Público.

Saiba mais

Os indiciados no momento são Danilo da Silva Duarte, engenheiro da NHJ; Edson Colman da Silva, técnico em refrigeração; Eduardo Bandeira de Mello, ex-presidente do Flamengo; Fábio Hilário da Silva, engenheiro da NHJ; Luis Felipe Pondé, engenheiro do Flamengo; Marcelo Sá, engenheiro do Flamengo; Marcus Vinícius Medeiros, monitor do Flamengo; Weslley Gimenes, engenheiro da NHJ.

Werley, zagueiro do Vasco, falou ontem à noite sobre o primo Pablo Henrique, uma das 10 vítimas do incêndio no Ninho do Urubu, CT do Flamengo. “A gente sabe que está difícil. Faz um ano e o inquérito não foi fechado. As coisas estão paradas. A gente só quer que os culpados sejam punidos. Alguém é culpado”, declarou o jogador.

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