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Paulo Sousa divide romantismo com gênio forte e é pouco reverenciado em Portugal

A filosofia de um futebol elegante e menos combativo jamais foi esquecida por Sousa enquanto jogador ou treinador

FolhaPress

29/12/2021 18h15

Foto: David Ramos / POOL / AFP

Klaus Richmond

Marcou a vida do novo técnico do Flamengo, o português Paulo Sousa, 51, a influência do ex-atacante Tamagnini Manuel Gomes Batista, o Tamagnini Nenê, dirigente das categorias de base do Benfica durante a década de 1980.
Tamagnini é um ídolo local, jogador com mais partidas na história do clube, mas também ficou conhecido por uma fama curiosa: a de que um bom jogador não precisa sujar os calções para brilhar.

A filosofia de um futebol elegante e menos combativo jamais foi esquecida por Sousa enquanto jogador ou treinador.
“Gosto de ver as minhas equipes expressando todo o seu conteúdo romântico ou poético, individual e coletivo”, disse em entrevista ao site português Tribuna Expresso, em 2020.

O romantismo como técnico e o estilo clássico enquanto jogador também andam parelhos com sua personalidade. Ex-volante de toque refinado –gostava de ser comparado com Paulo Roberto Falcão–, não são raras as vezes em que protagonizou atitudes polêmicas.

Na passagem pela Fiorentina, entre 2015 e 2017, vivia uma espécie de lua de mel com Florença e com os torcedores do clube quando na primeira temporada, sem grandes nomes, conduziu de forma surpreendente a equipe à liderança do Campeonato Italiano entre a sexta e a 12ª rodada.

Terminou a competição na quinta colocação e com elogiadas atuações por um futebol vistoso naquela temporada, mas, meses depois, romperia com a diretoria do clube por não ser atendido em uma série de pedidos de reforços. Ele chegou a proibir que dirigentes acompanhassem os seus treinamentos.

Situação semelhante à que viveu no Bordeaux, em 2019. Após passagem pelo Tianjin Quanjian, eram recorrentes as reclamações públicas ao presidente Frédéric Longuépée em entrevistas pela ausência de reforços. Ao deixar o clube, chamou o francês de “um gigante adormecido”.

O rompimento surpreendente com a seleção polonesa, a três meses do início da disputa da repescagem para a Copa do Mundo, o levou a ser chamado de “desertor” com letras em caixa alta na capa do jornal local Przeglad Sportowy. O presidente da Federação Polonesa (FZPN, na sigla original), Cezary Kulesza, criticou a postura.

Excentricidade e personalidade “Paulo Sousa sempre teve o seu próprio mundo, gostava de ser diferente. Claro que falo de alguém com 19, 20 anos e eu já mais experiente no Benfica. Ele chegava sempre atrasado e, como era um dos capitães, conversava muito com ele sobre isso”, conta Rui Águas, ex-companheiro de Benfica, à reportagem.

Águas também trabalhou com Sousa enquanto auxiliar do técnico Artur Jorge na seleção de Portugal entre 1996 e 1997. “Lembro de uma vez em que apareceu sem meiões para treinar, só de chuteira. Já era consagrado. O Artur Jorge ficou doido com ele, mas mostra um pouco de sua excentricidade e personalidade.”

Paulo Sousa integra a chamada geração de ouro de Portugal ao lado de nomes como Luís Figo, Rui Costa, Vítor Baía, Paulo Futre e Fernando Couto, campeões mundiais sub-20 sob o comando de Carlos Queiroz em Riade, na Arábia Saudita, em 1989.

Curiosamente, a relação é de distância com o país por uma polêmica escolha em 1993. Em meio a uma grave crise financeira vivida pelo Benfica, optou por sair para o rival Sporting. Até hoje, o ato jamais foi perdoado por benfiquistas.
Um ano depois, Sousa rumou para a Juventus e jamais voltaria para Portugal como jogador. Atuou por Borussia Dortmund, sagrou-se bicampeão da Liga dos Campeões, em 1996 e 1997, mas sofreu considerável queda na carreira, prejudicado por lesões no joelho.

Passou ainda por Inter de Milão, Parma e Panathinaikos antes de um fim precoce no Espanyol, aos 31 anos. Assim que encerrou a carreira, trabalhou na Federação Portuguesa de Futebol (FPF) e passou a ter como objetivo o aperfeiçoamento profissional, visitando clubes e participando de cursos.

Como treinador, iniciou nas categorias de base da seleção portuguesa e, posteriormente, como auxiliar de Luiz Felipe Scolari, mas jamais conseguiu treinar um clube local. A primeira chance foi no Queens Park Rangers, em 2008. Na Inglaterra, ainda passou por Swansea e Leicester antes de ir para o Videoton FC, atual Fehérvár, da Hungria, onde conquistou seus primeiros títulos.

Rumou ainda para Maccabi Tel Aviv, de Israel, e Basel, da Suíça, até os desafios mais conhecidos e recentes da carreira por Fiorentina, Bordeaux e a seleção polonesa. Sousa chegou a ser apontado por Patrick Vieira, antigo volante da seleção francesa, como um dos treinadores mais relevantes da França em 2019. Mesmo assim, ainda faltam grandes resultados na carreira. Até aqui, o melhor aproveitamento foi de 63%.

No Flamengo, já pressionado, ele terá a missão de reerguer um time que venceu tudo nas últimas temporadas, mas que sucumbiu nos seus principais desafios em 2021. Personalidade e romantismo não faltarão para isso

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