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Torcida

O futuro dos clubes de futebol no pós-pandemia

Relatório do Itaú sobre contabilidade do setor aponta perspectiva de perda de receitas de até R$ 1,7 bilhões este ano

Redação Jornal de Brasília

04/08/2020 17h57

Atualizada 05/08/2020 13h19

Hylda Cavalcanti
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Um relatório do Itaú BBA sobre a situação financeira dos times de futebol do país, divulgado recentemente, pode ajudar na previsão sobre o futuro dos clubes no período pós pandemia. O estudo analisou demonstrações financeiras dos 24 clubes melhores colocados no ranking esportivo da CBF. Constatou que a receita total somada desses clubes cresceu 9% no ano passado (R$ 5,953 bilhões), impulsionada por vendas de atletas (+22%) e publicidade (+11%).

Mas mostrou, por outro lado, que os clubes podem sofrer perdas enormes neste ano devido à pandemia e que, por isso, precisam de mais contratos com emissoras de TVs, canais de streamings, publicidade e outras alternativas para angariar recursos que os ajudem a superar o período.

Conforme o estudo, os principais clubes do país mostraram, em 2019, que possuem em comum uma relação entre a dívida bruta de curto prazo e suas receitas totais em nível inferior a 45%. O que faz com que tenham uma previsão oscilando entre 15 a 19 anos para pagamento do total de suas dívidas.

Entre times que apresentaram boas performances despontam Flamengo, Palmeiras e Grêmio. Já entre os que apresentam caminho para um equilíbrio financeiro são citados Athletico-PR, Bahia, Fortaleza, Ceará e Goiás. E como exemplos de má gestão Corinthians, São Paulo, Internacional, Atlético Mineiro, Santos e Sport Clube do Recife.

O Flamengo, que teve aumento de 50% nas receitas totais (R$ 841 milhões) aparece em primeiro lugar no ranking dos bem administrados. Em segundo lugar está o Palmeiras, cujo aumento levou a uma receita total de R$ 635 milhões.

‘Tudo é gestão’

Na avaliação do professor de finanças e designer de negócios de empresas privadas Aloísio Sotero, tudo está voltado para cuidados com a gestão e com o modelo de negócios. Sotero tomou como referência para sua avaliação sobre o estudo o livro The Numbers Game, do jornalista Chris Anderson, para quem tudo que se pensa sobre futebol está errado.

“Assim como qualquer outro segmento, a gestão do futebol vai além das estatísticas antes dos jogos, depois dos jogos e dentro do campo”, afirmou. “Como o futebol lida com emoção e paixão, a gestão dos clubes precisa combinar eficiência empresarial e a gestão política, como um partido político, porque envolve capacidade política de administrar tensões”, destacou ele.

De acordo com o professor, conforme esse levantamento, os clubes brasileiros dividem-se entre ‘equilibrados’ nas finanças e os que ‘vivem no século passado’. Na avaliação de Sotero sobre o resultado dos clubes citados no estudo, o Flamengo teve um bom resultado porque é um clube que “está sabendo gerenciar emoções com bons resultados financeiros”.

Outros bons exemplos citados no relatório, o Ceará, o Fortaleza e o Bahia, são clubes, conforme disse o especialista, “que começam a ter uma visão de como administrar a emoção”. O que faltou, segundo ele, em relação ao único clube pernambucano mencionado no trabalho, o Sport Clube do Recife. “O Sport tentou ser um clube empresa, mas administrou mal esse lado da emoção”, destacou.

Alertas

O relatório do Itaú traz ainda três alertas. Primeiro, a expectativa de que a pandemia pode levar a uma perda de receitas destes times de futebol, no total, da ordem de R$ 1,3 bilhão a R$ 1,7 bilhão este ano.

O segundo é a necessidade dessa renovação da forma de pensar dos clubes quanto à administração, que precisa ser uma constante, daqui por diante. “A performance dos jogadores é um negócio complexo que envolve atletas, trocas e transferências, passivos e ativos trabalhistas , contratos de direitos de imagem, ativos emocionais que vão desde lançamentos de produtos a aplicativos de apostas e contratos de TV, streaming digitais , gestão de sócios torcedores e patrocínios”, explicou Sotero.

E o terceiro é a Medida Provisória 984, editada em junho pelo governo. A MP permite que o time mandante de uma partida de futebol negocie os direitos de transmissão do jogo, o chamado “direito de arena” e está em tramitação no Congresso.

De teor polêmico, a MP vale por 60 dias, prorrogáveis por mais outros 60 dias. Quatro meses, portanto. Se o seu conteúdo não for apreciado por deputados e senadores após 45 dias, ganha status de “urgente” e tranca a pauta de votações da Câmara e do Senado. Mas se não for aprovado nestes quatro meses, perde a validade.

 

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