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Meu olho foi parar na nuca, afirma uruguaio que sofreu cotovelada de Pelé

Dagoberto Fontes foi um dos tantos uruguaios que tomaram as ruas do país para celebrar a conquista do título mundial sobre o Brasil

Redação Jornal de Brasília

17/06/2020 13h28

Alex Sabino e Bruno Rodrigues 
São Paulo, SP

Na tarde de 16 de julho de 1950, Dagoberto Fontes foi um dos tantos uruguaios que tomaram as ruas do país para celebrar a conquista do título mundial sobre o Brasil, que entrou para a história como o “Maracanazo”.

Com apenas sete anos de idade e de família pobre, ele recolhia as informações sobre a Copa do Mundo das conversas entre os adultos e dos poucos aparelhos de rádio perto de sua casa na cidade de Maldonado, a duas horas da capital Montevidéu.

“Foi algo extraordinário, o Uruguai inteiro festejava. Não tínhamos nem rádio nessa época. Passamos o Mundial jogando futebol”, conta Fontes, sete décadas depois, à reportagem.

A muitos quilômetros dali, na também pacata Bauru, interior de São Paulo, Edson Arantes do Nascimento viu seu pai, Dondinho, chorar pela primeira vez diante do rádio, desolado com a derrota brasileira. “Um dia vou ganhar a Copa do Mundo para o senhor”, prometeu o pequeno Edson, que tinha nove anos na época.

O garoto, que ganhou o mundo como Pelé, não só cumpriu a promessa feita ao pai como levantou três vezes a taça de campeão mundial. Mas foi só em 1970 que o camisa 10 da seleção brasileira pôde, enfim, devolver aos uruguaios parte da dor sentida por Dondinho e outros tantos que choraram com a perda do título no Maracanã.

Há 50 anos, em 17 de junho de 1970, Brasil e Uruguai se enfrentaram pela semifinal da Copa do México, no estádio Jalisco, em Guadalajara.

Dagoberto Fontes, 20 anos depois de celebrar o Maracanazo, fazia parte do elenco da Celeste que havia vencido nas quartas de final a União Soviética, por 1 a 0, com direito a prorrogação sob o sol escaldante do estádio Azteca, na Cidade do México.

O chaveamento determinava que os vencedores dos confrontos de Brasil x Peru e Uruguai x União Soviética se enfrentariam na capital do país. O Brasil, portanto, teria de deixar Guadalajara e viajar para a Cidade do México. Mas o plano sofreu uma alteração de última hora e os uruguaios foram obrigados a se deslocar para a sede brasileira.

“Chegamos a Guadalajara [no dia 17], ficamos no hotel umas três horas, por aí, e à tarde já tivemos que jogar contra o Brasil. Por isso digo que foi estranho. Essas coisas acontecem com o Uruguai”, afirma.

A escalação de Dagoberto Fontes foi obra do azar. Logo na estreia do Uruguai, contra Israel, o principal jogador e capitão da equipe, Pedro Rocha, lesionou-se e deixou o campo com 12 minutos de jogo.

A ausência forçou o técnico Juan Hohberg a mexer taticamente no time. Depois do empate em 0 a 0 com a Itália, os uruguaios perderam para a Suécia por 1 a 0 no fechamento da fase de grupos, jogo em que Fontes fez sua estreia no Mundial vindo do banco de reservas. Contra os soviéticos, ele já iniciou como titular.

Antes da Copa do Mundo, o uruguaio havia enfrentado duas vezes o Brasil, ambas pela Copa Roca de 1968 e sem a presença de Pelé. Os brasileiros venceram os dois jogos (2 a 0 e 4 a 0). Na semifinal de 1970, os uruguaios usaram a força para tentar igualar o jogo com os brasileiros, o que produziu um dos primeiros tempos mais ríspidos da história das Copas. Com 39 minutos de jogo, o Uruguai vencia por 1 a 0, gol de Cubilla, e já somava três cartões amarelos, entre eles o de Fontes.

O próprio Fontes já havia aproveitado que Pelé estava caído para dar um pisão de leve no camisa 10 brasileiro. Incomodado com a violência dos rivais, o Rei esperou o momento certo para revidar. No segundo tempo, o Brasil havia virado a partida com Clodoaldo e Jairzinho quando Fontes foi tentar roubar a bola de Pelé na linha lateral.

“Quando estávamos na lateral, ele vai correndo, eu saio para marcar e vou por baixo, na bola, e ele, quando salta, dá a cotovelada e pega no meu olho. Não me joguei no chão porque não queria mostrar que doía. Mas a verdade é que meu olho foi parar na nuca”, conta Fontes.

O árbitro espanhol José Ortiz Mendizabal não viu a cotovelada e ainda marcou falta a favor do Brasil.
“Fiquei grato por tê-lo atingido apenas na testa, porque se fosse no nariz ou no queixo, seria fratura na certa. Lembro de pensar: ‘Deus! Como dói o meu cotovelo!’ Imagino como devia estar a testa dele”, publicou Pelé em sua autobiografia, publicada em 2006.

Hoje, aos 77 anos, Fontes diz que não guardou mágoa de Pelé, o maior jogador de futebol que ele viu jogar, e recorda com carinho o confronto com o Brasil no México, que terminou com triunfo brasileiro por 3 a 1 –Rivellino fechou a vitória.

“Apesar de todas as coisas extrafutebol, acho que de qualquer forma eles sairiam campeões. Juntaram um monte de craques e mereceram. Um equipaço. O pior era Félix, que tomava um e eles iam lá e metiam quatro”, brinca.

As informações são da FolhaPress

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