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Cuidados paliativos não significam morte iminente e desistência do paciente

Isso quer dizer que a quimioterapia foi suspensa e que ele segue recebendo medidas de conforto para a \a dor e a falta de ar

FolhaPress

04/12/2022 17h53

Foto: Reprodução

Cláudia Collucci

Cuidados paliativos não significam uma morte iminente, muito menos que a equipe médica desistiu do paciente, como muitos ainda pensam. Não é infrequente que doentes em cuidados paliativos se estabilizem de quadros agudos e tenham alta hospitalar, por exemplo.

O assunto vem sendo muito discutido após a Folha revelar que Pelé não responde mais ao tratamento quimioterápico e está sob cuidados paliativos exclusivos. Isso quer dizer que a quimioterapia foi suspensa e que ele segue recebendo medidas de conforto para a aliviar a dor e a falta de ar, por exemplo, sem ser submetido a terapias invasivas.

Há artigos científicos mostrando que, em certas condições, cuidados paliativos podem resultar em uma sobrevida ainda maior do que a observada em tratamentos quimioterápicos ou outras intervenções consideradas fúteis para pacientes incuráveis. A OMS (Organização Mundial da Saúde) preconiza que os cuidados paliativos envolvam equipes multidisciplinares (médicos, enfermeiros, psicólogos, fisioterapeutas, nutricionistas e terapeutas ocupacionais).

A proposta é que, juntos, promovam qualidade de vida, alívio de sintomas da doença e conforto psicológico e espiritual a pacientes com doenças crônicas graves e a seus familiares. Esse conjunto de cuidados deveria estar acessível a todos os pacientes nessas condições, logo após o diagnóstico, juntamente como a quimio e a radioterapia, por exemplo.

Mas hoje ainda é muito comum que eles só sejam ofertados no fim da vida. Daí o estigma que ainda existe em torno desse tipo de assistência, levando muitas pessoas a associá-la ao paciente à beira da morte.

No Brasil, ter acesso a cuidados paliativos ainda é privilégio de poucos. A ANCP (Academia Nacional de Cuidados Paliativos) tem se reunido com os ministérios da Saúde e da Cidadania para cobrar políticas públicas voltadas a esse tema, mas pouca coisa avançou nos últimos anos.

Segundo dados da ANCP, hoje há em torno de 1,5 milhão de pessoas para cada serviço de cuidados paliativos no SUS. Isso não atende nem 10% da população que poderia ser beneficiada. O Brasil chegou a ocupar o 42° lugar no ranking mundial de qualidade de morte, abaixo de países como Equador, Chile, Argentina e Uruguai.

Segundo um estudo publicado pelo BMC Medicine, haverá um aumento de milhares de casos de câncer e demências até o ano de 2040, situação que pede um planejamento dos gestores de saúde em cuidados paliativos.

A questão também passa pelas especialidades médicas. São comuns as situações em que especialistas se consideram “donos” do paciente, insistem na chamada obstinação terapêutica, ou seja, medidas que buscam prolongar a vida biológica a todo custo, sem levar em conta o custo físico e emocional dessas ações. Há muito o que avançar na educação médica sobre esse tema.
Também é preciso quebrar o tabu que ainda existe na sociedade em torno dos cuidados paliativos, levando mais informações às pessoas sobre o que de fato significa essa assistência para que elas possam reivindicá-la mais em situações de doenças graves e incuráveis.

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