Menu
Torcida

‘Apitar com portões fechados será mais difícil’, diz chefe de arbitragem da CBF

A promessa do dirigente é que depois da estreia no último ano, o recurso do árbitro de vídeo (VAR) vai apresentar melhoras nesta temporada

Redação Jornal de Brasília

11/08/2020 13h11

O árbitro Anderson Daronco, durante partida entre São Paulo FC e Santos FC, válida pela trigésima primeira rodada do Campeonato Brasileiro 2017.

O chamado “novo normal” do Campeonato Brasileiro também vai trazer desafios para quem apita as partidas. Em entrevista ao Estadão, o presidente da Comissão Nacional de Arbitragem da CBF, Leonardo Gaciba, afirmou que os jogos sem a presença de torcida serão um obstáculo para a concentração de quem precisa acompanhar atentamente aos lances.

A promessa do dirigente é que depois da estreia no último ano, o recurso do árbitro de vídeo (VAR) vai apresentar melhoras nesta temporada, principalmente por causa da experiência acumulada com o uso da tecnologia.

Apitar com portões fechados será mais difícil ou mais fácil?

No quesito concentração é mais difícil. Em um jogo com estádio lotado, o árbitro de futebol tem um nível de concentração maior. Tem uma adrenalina. Em um jogo com estádio fechado, o desafio é o de manter a concentração no jogo. O momento que estamos passando ninguém passou. Não temos referência. Temos relatos de outros países que já começaram a ter jogos de que a própria postura de jogadores e comissão técnica é diferente em relação ao que acontecia. Nós vamos ter de descobrir isso agora durante o campeonato.

Não ficará mais fácil apitar sem torcida, por não ter pressão?

A torcida no estádio, para nós, vou ser bem sincero, é só motivação. No andar da carreira, a gente vai crescendo e gostando de estádios lotados. É o que a gente mais quer. Isso é sinal de que o árbitro está em um grande jogo. O árbitro terá de se habituar, porque é uma situação nova. Aquele papo entre árbitro e jogador dentro do campo vai mudar um pouco. Nós estamos voltando para devolver essa paixão ao povo brasileiro. E esse produto tem de ser de qualidade.

Quais orientações o senhor tem passado para os árbitros?

Em primeiro lugar, é a questão de segurança e de responsabilidade. Todo mundo tem de pensar na segurança do futebol como um todo e na saúde dos envolvidos. O que vem de diferente é o cuidado, acima de tudo, é o seguimento de protocolos, seja da diretriz brasileira ou das regras da arbitragem. Isso será fundamental para a questão do sucesso. A gente precisa de todo mundo dentro do campo.

Os árbitros também vão precisar passar por testes e, portanto, vão precisar ter cuidado na rotina pessoal. Quais as recomendações?

O protocolo para arbitragem é mais amplo. Como os árbitros estão sempre em deslocamento, estamos falando mais dos cuidados. Junto com o departamento médico a gente fez um trabalho de conscientização, cuidados dentro do avião e de carro, maneira como chega ao vestiário, cuidados no hotel e todas as particularidades. Até o sistema de escalas está mudado. Nós vamos ter de fazer as audiências com mais antecedência. Após designados, os árbitros se deslocam para testes e só viajam se forem testados negativamente. A logística da arbitragem é bem mais difícil. Nós estamos espalhados pelo Brasil inteiro. Nos clubes, os jogadores estão sempre juntos.

Se um assistente testar positivo, como será feita a montagem da equipe de arbitragem para o jogo?

Vamos ter dois momentos. Um é a testagem prévia, com o resultado do exame no dia do embarque para o jogo. Se tiver algum problema, o árbitro não embarca e vai outro no lugar dele. Pode ser um substituto até de outro Estado. Vamos ter de fazer trio misto, desde que seja neutro (do mesmo Estado de um dos times). Mas diferente dos clubes, que têm reserva, a partir do momento que os árbitros viajam e já estão no local do jogo, respondem questionário e têm teste de temperatura. Nesse momento, já não tenho mais como enviar alguém neutro. Então vamos ter casos específicos que se um árbitro tiver febre, o árbitro reserva vai entrar e ele é local. É uma adaptação que teremos de fazer.

E o que pode ser feito para evitar que o árbitro do jogo seja do mesmo Estado que um dos times?

Na Série A nós vamos tomar o cuidado de colocar um dos membros da cabine do árbitro de vídeo com experiência para poder apitar o jogo diretamente do campo. Se acontecer um problema com o árbitro central, desce um da cabine a faz o jogo. Mas na Séries B e C terá de ser o local.

Quais melhorias pretende ver na utilização do VAR?

Já temos o conhecimento de mais de 400 jogos. Vamos terminar a temporada com praticamente mil jogos com o VAR. Isso vai nos dar uma experiência grande. A performance vai melhorar. O próprio público já conhece mais o recurso. Muitas das críticas que vieram, foram por falta de conhecimento do protocolo do árbitro de vídeo. Passamos para os clubes um documento chamado “Linha de Atuação de Arbitragem Brasileira”, com todos os critérios que a gente tem, inclusive para o árbitro de campo. O que é considerado toque de mão, o que merece cartão vermelho, o que é falta tática. A pandemia fez a gente se adaptar à nova realidade e nos deu esse tempo para conseguir passar uma mensagem para os árbitros e público em geral.

No ano passado os times reclamaram da demora para a revisão dos lances. Como será agora?

No segundo turno tivemos um tempo de avaliação semelhante ao padrão da Fifa e ao da Europa, de aproximadamente 1min30. No primeiro turno demoramos mais porque era algo novo e tinha um processo de adaptação. Nós temos trabalhado muito com os árbitros a questão da comunicação, a linguagem entre a cabine e o campo. Isso é fundamental para a evolução, assim como a metodologia de quais lances preciso ver ou não em velocidade reduzida no replay. Acredito eu que teremos um progresso nesse ponto. O árbitro de vídeo veio para ajudar e melhorou muito o nível de arbitragem brasileira. Em um campeonato tão parelho, podemos dizer que nenhum erro de arbitragem mudou a colocação de um time. Sempre há espaço para melhorar.

Durante a quarentena, houve alguma preparação especial?

Analisamos tranquilamente mais de 5 mil jogadas. Todo o meu quadro, de Norte ao Sul do Brasil, analisou. Tenho certeza que vamos conseguir analisar bem. Participaram umas 750 pessoas.

E qual a sua preocupação com a parte física dos árbitros? Eles também vão trabalhar em muitos mais jogos e com mais frequência.

Nós tivemos o cuidado há um tempo atrás, quando foi anunciado o retorno, todos receberam um plano de retorno às atividades. Os árbitros de elite são monitorados por relógios e enviam os treinos para o nosso diretor físico. Todos foram avaliados.

Estadão Conteúdo

    Você também pode gostar

    Assine nossa newsletter e
    mantenha-se bem informado