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Top of Mind 2023

Trabalhos impecáveis, produtos nem tanto

“Liberdade é uma calça velha, azul e desbotada, que você pode usar do jeito que quiser…”

Redação Jornal de Brasília

07/11/2023 0h02

Foto: Divulgação

Quem tem mais de 50 anos, o que é meu caso particular, lembra-se muito bem desta música. Na verdade, um jingle para a marca de roupas US Top, da Alpargatas. Marca durou quase 30 anos no mercado, como um sinônimo de rebeldia, identificado em uma simples… calça jeans. Após quase duas décadas, ela voltará ao mercado, agora nas mãos da Cia do Jeans. 

Para esta mesma faixa de público, é legal lembrar também que a mesma US Top criou a moda como instrumento de ascensão social. Foi quando o personagem “Fernando” sai da pergunta “que novidade é essa, Fernando?”, feita pelo chefe durão, para o bordão “bonita camisa, Fernandinho”, ao mesmo tempo que vai se aproximando da posição dele na mesa, enquanto este mimetiza o seu estilo. O sucesso foi tão grande que catapultou o ator e músico Dany Roland a um estrelato ainda mais significativo que o experimentado como baterista da banda new wave Metrô.

Mas, convenhamos, quem teve uma calça ou camisa US Top sabe que o produto não era para tanto. Não representava liberdade, não levava a um crescimento empresarial. O caimento não era exemplar, o jeans não durava. A marca vendeu seus conceitos, distintos, para calça jeans e camisa. Mas não vendia um bom produto para executivos ou rebeldes. Esperamos que, agora, sob nova direção, consiga vender calças e camisas à altura da publicidade do passado -e da do futuro.

A publicidade criativa, o relacionamento com a mídia e o engajamento nas redes sociais dos dias atuais são ótimas ferramentas. Mas só funcionam quando o produto ou o serviço é bom. Vejamos a brincadeira de agora nas redes, que é a de emular a moça que sussurra “Bentley” enquanto alisa certos detalhes do carrão. Até nos ônibus a trollação foi parar. E é legal. Mas nenhum dos veículos usados nas sátiras chega aos pés do verdadeiro Bentley. E nenhuma zoeira será capaz de arranhar a imagem de um Bentley. Qualidade é qualidade. 

Todos os envolvidos na boa comunicação são pessoas extremamente criativas, do contrário mensagens como estas não durariam tanto tempo na nossa mente. Mas o produto precisa ser bom de verdade. Do contrário, o que fica é o versinho dos bondes de antigamente:

“Veja, ilustre passageiro, 

o belo tipo faceiro que 

o senhor tem a seu lado. 

E, no entanto, acredite,

 quase morreu de bronquite. 

Salvou-lhe o Rhum Creosotado”.

O reclame (vejam só do tempo que estou falando…) era ótimo. Já o rhum creosotado, que teve outros anúncios históricos, nem tanto… A publicidade venceu. O produto, não.

 

Jorge Eduardo Antunes é jornalista e admirador da publicidade d’antanho

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