O Despertar de uma Paixão, drama de John Curran que estréia hoje nos cinemas, tem seu encanto. As credenciais apontam para o filão, quase sempre estéril, da superprodução de época de estirpe nobre, legitimada pela base literária (no caso, o romance O Véu Pintado, de W. Somerset Maugham). Mas detalhes permitem ao resultado ir além do filme-à-caça-de-Oscar.
Aliás, O Despertar de uma Paixão foi praticamente ignorado, limitando-se a ganhar um Globo de Ouro de trilha sonora. O filme decepciona quem espera puro academicismo, talvez pela estrutura um pouco truncada, pela substância densa que permeia a relação entre os personagens e pela forma com que os atores os defendem.
Edward Norton (O Ilusionista) e Naomi Watts (King Kong) apresentam trabalhos de rara sutileza. Não fazem questão de tornar seus personagens simpáticos à primeira vista. Watts, sobretudo: sua Kitty é uma garota cheia de caprichos, que se casa por puro medo de quebrar convenções sociais. Na primeira parte do filme ela é desagradável e desinteressante – uma atuação sem concessões.
Trama
De família rica, Kitty cede à pressão da mãe e aceita se casar com o biólogo classe-média Walter (Norton). Vai para a China, onde ele trabalha, e lá não demora a se envolver com o vice-cônsul Charlie Towsend (Liev Schrieber). Walter descobre e, para se vingar, aceita o posto na direção de um hospital numa cidade do interior assolada por uma epidemia de cólera.
A experiência será redentora. Não só para Kitty, mas também para Walter, que assume sua responsabilidade pelo fracasso do casamento. O personagem mais interessante é Waddington (Toby Jones), um típico britânico decadente que chegou à China pelas vias do colonialismo e há anos vive ali com uma concubina chinesa. É ele quem conduz a melhor seqüência, uma estranha noite regada a bebida e ópio, em que Walter e Kitty enfim se descobrem.
É esse caminho narrativo inverso – um casamento que começa errado e se descobre possível que fazem a diferença em O Despertar de uma Paixão.