O filme nacional Antônia, terceiro longa de Tata Amaral (Um Céu de Estrelas e Através da Janela), nasceu pelo avesso. Era para ter estreado antes da série homônima exibida com sucesso pela Globo. Chega às telonas com a segunda temporada do seriado confirmada para este ano. Se era para ser um musical, tem música de menos; se era para ser um drama, não tem força para tanto e acaba tendo música demais.
É assim, no meio de uma briga entre o drama e o musical, que as batalhadoras Preta (Negra Li), Barbarah (Leilah Moreno), Lena (Cynthia Menezes) e Mayah (Quelynah) chegam às telonas em busca do sonho de despontar como cantoras de rap em um mundo em que o machismo ainda impera e dá as cartas.
Juntas as quatro amigas de infância que moram na favela paulista Vila Brasilândia se rebelam contra o destino de ficar sempre escondidas nos backing vocals de bandas masculinas e resolvem aparecer.
Para isso, fundam o grupo Antônia ("Dá para acreditar que nossos quatros avôs se chamavam Antônio?", pergunta Barbarah) e enfrentam vários obstáculos, de machismo dos namorados a problemas técnicos e tempestades emocionais.
Fora das telonas também é assim. Aos poucos, é que as vozes femininas começam a aparecer neste cenário – e aí a cantora Negra Li tem tanta importância que soa como uma homenagem que Preta seja interpretada por ela. Outras figuras importantes do cenário musical (principalmente do paulista) estão no elenco. Assim como na TV, Thaide é o produtor das meninas e Tobias da Vai Vai e uma deslocada e carioca Sandra de Sá são os pais de Preta.
As guerreiras não desistem nunca de lutar. "Não vou desistir/Ninguém vai me impedir/ Se eu tenho força pra lutar/Nada pode me parar", diz a letra de Nada Pode me Parar, música composta pelas quatro cantoras especialmente para a trilha do filme. Eclética, a trilha também tem outra parceria do quarteto, Antônia, que tem o refrão-chiclete "Antônia brilha/Antônia sou eu, Antônia é você". Sair do cinema sem uma das duas na cabeça é praticamente impossível.
Afinadas e boas cantoras, Negra Li e companhia cantam pouco, mas mostram que dão conta de ir ao pop de Como uma Onda, ao black de Killing me Softly acompanhadas apenas de um órgão e ao soul de Olhos Coloridos, cantada pelas quatro à capela. As cenas delas compondo dentro de uma van (ou de uma perua, para combinar com o espírito paulista do filme) são igualmente boas e foi assim, de improviso, que nasceram as músicas inéditas do filme. Fica um gostinho de quero ouvir mais.