Menu
Saúde

Casos de covid após vacinação: são incomuns e com sintomas leves, mas nem sempre

Moira Smith, 46 anos, sabia que a família da prima não estava vacinada, mas procurou não pensar muito sobre isso

Redação Jornal de Brasília

01/09/2021 15h48

Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil

Para Moira Smith e sua mãe, julho trouxe um vislumbre de normalidade depois de meses de isolamento. As duas viajaram do Alasca para Houston para visitar a família e comemorar o primeiro aniversário da neta da sua prima. A mãe de Moira comprou um pijama rosa estampado para dar de presente e elas tiraram fotos do bebê com o rosto sujo de chocolate.

Moira Smith, 46 anos, sabia que a família da prima não estava vacinada, mas procurou não pensar muito sobre isso. Ela e sua mãe já haviam recebido as duas doses da vacina da Pfizer meses antes. Do quarto do hotel em que estavam, uma noite, ela ouviu a mãe de Moira ao telefone fazendo um comentário informal para seus parentes. “Vocês podem tirar as máscaras, mas prometam se vacinar”, ela lhes disse.

Na manhã seguinte, as duas estavam prontas para voltar para casa e pegar o avião no aeroporto de Seattle, quando receberam um telefonema: o bebê da sua parente estava com febre e havia testado positivo para a covid-19.

Dois dias depois, Moira acordou sentindo dores no corpo, garganta doendo, e testou positivo para o coronavírus. Na semana seguinte, sua mãe, que tem 76 anos e câncer no pulmão, lhe enviou uma mensagem de texto com um emoji de um termômetro indicando que estava com febre alta e acabou depois numa sala de emergência do hospital com covid.

Moira e sua mãe fazem parte da onda de americanos contraindo a covid mesmo totalmente imunizados.

Especialistas em saúde pública continuam a achar que esses casos são relativamente incomuns e raramente se tornam graves ou necessitando hospitalização. As vacinas disponíveis nos Estados Unidos oferecem uma forte proteção contra uma infecção grave, hospitalização ou morte, decorrentes da covid. Uma recente análise de dados da Kaiser Family Foundation concluiu que mais de nove em 10 casos de covid-19 que resultaram em hospitalização e morte ocorreram entre pessoas que não foram vacinadas com as duas doses necessárias.

“Sempre previmos que surgiriam algumas infecções excepcionais porque as vacinas no máximo são 95% eficazes”, disse o Dr. William Schaffner, professor de doenças infecciosas na Vanderbilt. “As vacinas foram projetadas para prevenir doenças graves e têm tido um sucesso espetacular nesse aspecto”.

Mas à medida que a variante Delta, mais transmissível, se torna dominante nos Estados Unidos, números crescentes de infecções de pessoas plenamente vacinadas vêm sendo reportados, mas a maior parte dos casos são leves.

“A Delta é muito mais contagiosa de modo que à medida que se propaga entre aqueles não vacinados ela também vem se alastrando para a população vacinada. Os não vacinados são uma enorme via de transmissão”.

Como as pessoas infectadas com a variante Delta transportam muito mais vírus no nariz e no trato respiratório superior, a importância do uso de máscaras se tornou primordial. Depois que o CDC – Centros de Prevenção e Controle de Doenças – mudou sua diretriz, recomendando que pessoas vacinadas em áreas de muito contágio voltem a usar máscaras em locais públicos fechados, milhões de americanos totalmente imunizados tiveram dificuldade para adequar suas expectativas para os meses de outono que pareciam oferecer alguma semelhança de normalidade. E um pequeno subgrupo de americanos já viu suas rotinas prejudicadas por este tipo de infecção pós-vacina.

Preocupadas com esse tipo de infecção, autoridades federais de saúde recomendaram recentemente que os americanos que receberam vacinas da Pfizer ou da Moderna sejam vacinados com uma terceira dose nos próximos meses. Esta semana, a Johnson & Johnson informou que um reforço da sua vacina elevou os níveis de anticorpos contra o coronavírus.

Para alguns que receberam as duas doses da vacina, as infecções têm sido sentidas como uma leve alergia, com alguns sintomas como tosse, resfriado e garganta arranhando. No caso de outros, a infecção é mais severa, ficam acamados, com dores no corpo, febre e calafrios. E há ainda outras pessoas que tiveram alguns sinais indicadores de covid, como perda do olfato e do paladar, erupção cutânea e alguma disfunção cognitiva.

“Estamos chamando isso de síndrome da cabeça que flutua”, disse Molly O’Brien, 47 anos, executiva de marketing da Pensilvânia, que testou positivo depois de uma viagem com o marido às Ilhas Virgens Britânicas. “Sentia como se houvesse um enorme marshmallow na cabeça”.

Cientistas acreditam que essas infecções raramente resultam numa doença grave, mas houve casos de hospitalizações prolongadas. O pai de Elaina Cary-Fehr, Isaac, 64 anos, motorista do Uber em Austin, Texas, foi transferido para uma clínica para assistência de longo prazo depois de ser hospitalizado com pneumonia resultante da covid, em junho, e ser depois submetido a uma traqueotomia. Ele teve alta esta semana.

“Acredito na vacina e tinha esperança de que ela ajudaria, e foi o caso.”

Com muitos americanos começando a questionar ou adiar seus planos, cientistas sublinham a importância do uso de máscaras para reduzir a transmissão e as infecções.

“Se você está infectado e expele o vírus quando respira, ele não vai ser transmitido porque a máscara vai impedir”, disse John Moore, professor de microbiologia e imunologia na Weill Cornell. “Esses vírus não têm uma tesoura que corta a máscara”. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

Estadão Conteúdo

    Você também pode gostar

    Assine nossa newsletter e
    mantenha-se bem informado