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Política & Poder

Sheik desiste de convênio de ‘ONG de prateleira’ com governo Bolsonaro

A informação foi divulgada nesta terça-feira (5) pela pasta, após o jornal Folha de S.Paulo revelar o uso de uma “ONG de prateleira” para a assinatura do convênio

FolhaPress

05/04/2022 18h50

Foto: Reprodução

O ex-atacante Emerson Sheik desistiu do convênio de R$ 2,7 milhões firmado entre a sua ONG e o Ministério da Cidadania para projetos esportivos.

A informação foi divulgada nesta terça-feira (5) pela pasta, após o jornal Folha de S.Paulo revelar o uso de uma “ONG de prateleira” para a assinatura do convênio.

De acordo com o ministério, a iniciativa para o cancelamento do acordo partiu do instituto, que enviou ofício na última sexta-feira (1º) para a pasta. Sete dias antes, em 23 de março, Sheik havia sido procurado pela primeira vez pela reportagem para falar sobre o convênio.

“Por motivo de mudanças internas na entidade que impossibilitariam o cumprimento do objeto da proposta, o Instituto Emerson Sheik solicitou, por meio de ofício enviado no dia 1º/04, o encerramento do convênio No 914010/2021 com o Ministério da Cidadania”, afirmou a pasta, em nota.

A desistência de Sheik foi tomada em consenso com o deputado Hélio Lopes (PL-RJ), responsável pela emenda parlamentar da bancada do Rio de Janeiro que destinou R$ 2,7 milhões ao projeto do ex-jogador.

De acordo com informações de pessoas próximas ao deputado, houve uma reunião com Sheik e ficou decidido não efetivar o convênio para evitar questionamentos futuros.

O dinheiro seria usado, segundo o projeto, para a instalação de três núcleos esportivos em escolas públicas de Mangaratiba (RJ) e Queimados (RJ).

A desistência foi informada pelo ministério após a reportagem da Folha de S.Paulo mostrar como o ex-jogador assumiu uma “ONG de prateleira” para driblar a exigência de três anos de existência para firmar convênios com a União.

A ONG que agora leva o nome do Sheik estava inativa até poucos meses antes de o ex-jogador apresentar ao governo federal seu projeto para a instalação dos núcleos esportivos.

Além de Sheik, o lateral direito Daniel Alves também recorreu à mesma manobra para obter R$ 3,7 milhões em convênio com a Secretaria Especial do Esporte. A verba também não foi liberada ainda.

Membros do Ministério Público e parlamentares ouvidos pela Folha de S.Paulo afirmam que “ONGs de prateleiras” têm sido usadas para escapar da regra que estabelece a necessidade de as entidades da sociedade civil existirem há pelo menos três anos para firmar acordos com o governo federal.

Sheik assumiu o instituto de seu nome meses antes de apresentar proposta de convênio ao governo. Antes disso, o CNPJ era utilizado pelo Instituto Qualivida, fundado há 26 anos, mas que nunca realizou projetos sociais voltados aos esportes.

Logo em seguida, o ex-jogador alterou o estatuto, os membros e o nome da entidade. Para comprovar a capacidade técnica necessária para a execução dos projetos ao ministério, Sheik listou feitos da carreira como jogador e imagens suas durante partidas de futebol.

O Instituto Emerson Sheik, novo nome da ONG, apresentou em julho do ano passado seu primeiro projeto ao governo federal. Em dezembro, foi assinado o convênio.

A Folha de S.Paulo foi até o endereço apresentado ao governo por Sheik como sede da ONG, numa conta de luz da empresa Ceni Compra e Venda e Locação de Imóveis Próprios Ltda, de propriedade do ex-jogador. A sala indicada, porém, está vazia.

O Instituto Emerson Sheik buscou comprovar experiência técnica na área do projeto –outra exigência da lei– listando partidas organizadas pelo ex-jogador com arrecadação de alimentos para doações e descrevendo suas conquistas como atleta.

“Emerson Sheik nunca esqueceu as dificuldades enfrentadas no decorrer da vida e seu desejo de ajudar o próximo esteve sempre presente em seu caminho”, afirma o documento.

Sheik aparece com frequência em fotos ao lado de bolsonaristas, como o filho mais velho do presidente, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), com quem conversou sobre projetos sociais para Mangaratiba em seu gabinete em Brasília em 2020.

Ele também apoiou a campanha da ex-mulher do presidente e mãe de seus três filhos mais velhos, Rogéria Bolsonaro, para vereadora do Rio em 2020. É próximo do deputado estadual bolsonarista Anderson Moraes (PL-RJ), que emprega Rogéria em seu gabinete.

Além disso, o ex-jogador transita pela Secretaria Nacional de Esportes, órgão com quem celebrou o convênio. No ano passado, ele foi convidado pelo secretário Marcelo Magalhães para ser embaixador dos Jogos Escolares Brasileiros (JEB’s).

Sheik passou a última festa de virada de ano junto com o secretário-adjunto da pasta, André Barbosa Alves, no resort Portobello, em Mangaratiba, onde o ex-jogador tem uma casa.

Na mesma imagem, aparece o atual presidente da ONG de Sheik, Marcos Vinicius Antunes, amigos e parentes do atleta que também integram a instituição.

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