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Política & Poder

Para contrapor atos pró-democracia, governo faz ofensiva na área econômica

FolhaPress

12/08/2022 6h17

Idiana Tomazelli E Matheus Teixeira
Brasília, DF

No mesmo dia da mais ampla manifestação pró-democracia sob a gestão de Jair Bolsonaro (PL), o governo lançou uma ofensiva para alardear medidas econômicas com apelo popular e tentar se contrapor aos atos.

Em manifestações nas redes sociais, o presidente e o ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira, buscaram destacar a queda da inflação no mês de julho e a segunda redução seguida nos preços do diesel -notícias diretamente relacionadas a temas sensíveis para a campanha de Bolsonaro à reeleição.

O anúncio do corte de R$ 0,22 no preço médio do diesel nas refinarias foi feito pela Petrobras no fim da manhã de quinta-feira (11), quando a sede da Faculdade de Direito da USP, no largo São Francisco, centro de São Paulo, ainda era ocupada por milhares de pessoas que se manifestaram em defesa da democracia.

Depois de dias minimizando as convocações, Bolsonaro passou a maior parte desta quinta ignorando os eventos e tratou o anúncio da Petrobras como “um ato muito importante em prol do Brasil e de grande relevância para o povo brasileiro”.

O ministro Ciro Nogueira (Casa Civil), por sua vez, foi mais incisivo e disse que o governo escrevia naquele momento uma outra carta. “Carta ao povo brasileiro: estamos escrevendo a carta que muda o Brasil para melhor. Combustível mais barato, redução do preço do diesel!”, disse.

Em seguida, o chefe da Casa Civil citou também a queda de 0,68% nos preços registrada em julho, divulgada pelo IBGE na quarta-feira (10).

Chefe da equipe econômica, o ministro Paulo Guedes também buscou destacar os feitos econômicos do governo em reunião com economistas de gestoras e bancos, como Itaú, BTG, JP Morgan, XP Investimentos e Bradesco, entre outros. O encontro ocorreu em São Paulo nesta quinta-feira e durou aproximadamente quatro horas.

Interlocutores de Guedes afirmam que a reunião já vinha sendo combinada há tempos e não tem relação com os atos.

Após a reunião, o ex-secretário do Tesouro Mansueto Almeida, hoje economista-chefe do BTG Pactual, disse à reportagem que o encontro foi uma troca de ideias sobre a economia do país após a pandemia de Covid-19, com destaque para o mercado de capitais.

O uso de notícias consideradas positivas na economia para se contrapor às manifestações vem depois de uma série de investidas do governo para tentar debelar a alta de preços, um dos fatores de maior preocupação para a campanha de Bolsonaro. O presidente está em segundo lugar nas pesquisas de intenção de voto, atrás do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Bolsonaro já trocou o comando da Petrobras duas vezes neste ano, numa tentativa de ter maior influência nas decisões da companhia sobre os reajustes. Sob a nova gestão de Caio Paes de Andrade, a estatal já anunciou cortes nos preços da gasolina e do diesel, com a justificativa de que os preços de referência no mercado internacional se estabilizaram em patamar que permitiu a redução. O presidente também apoiou a aprovação, no Congresso, de uma lei que baixou na marra os tributos estaduais sobre combustíveis e energia elétrica.

Em outra frente, Bolsonaro conseguiu emplacar uma mudança constitucional para gastar até R$ 42 bilhões fora do teto de gastos em pleno ano eleitoral, com o objetivo de turbinar benefícios sociais, cujos pagamentos se iniciam neste mês.

Nesta quinta, Bolsonaro escreveu que a deflação era observada “graças à política constante de diminuição de impostos do governo federal”, citando também a redução do ICMS sobre combustíveis.

Apesar disso, como mostrou a Folha de S.Paulo, economistas avaliam que a inflação deve seguir pressionada até as vésperas das eleições de outubro.

Mais tarde, ao participar de forma virtual de um seminário sobre a tecnologia 5G, Bolsonao elogiou Paulo Guedes e disse que o Brasil é “um dos poucos países com PIB [Produto Interno Bruto] positivo” neste ano.

A previsão do governo é que o crescimento da economia seja de 2% neste ano.

Só no fim do dia, em sua live semanal, Bolsonaro mencionou os atos, criticando signatários das cartas. Ele disse que a CUT (Central Única dos Trabalhadores), aliada do PT, subscreveu o texto e que a entidade “está com saudade” do imposto sindical obrigatório. Sobre o apoio de artistas, afirmou eles estão interessados no retorno da Lei Rouanet como era antes de seu governo.

A exaltação de feitos econômicos durante o dia também se contrapõe à manifestação em defesa da democracia assinada por entidades como a Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) e Febraban (Federação Brasileira de Bancos). Diante do isolamento pelo movimento que envolveu diversos atores da sociedade civil, Bolsonaro se convidou para ir à Febraban nesta semana.

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