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Política & Poder

Lava Jato diz que Walter Faria é ‘grande operador de propina’

Segundo a PF, o grupo teria auxiliado a empreiteira Odebrecht a fazer pagamentos ilícitos por meio de operações dólar-cabo

Aline Rocha

31/07/2019 12h59

A Lava Jato rotulou o empresário Walter Faria, do Grupo Petrópolis, como “grande operador de propina”. Alvo de mandado de prisão da fase 62 da operação, denominada Rock City, Faria mantinha controle de 38 empresas offshore distintas com contas bancárias no EFG Bank de Lugano, segundo a força-tarefa do Ministério Público Federal no Paraná. A Lava Jato 62 apura o pagamento de propinas disfarçadas de doações de campanha eleitoral realizadas por empresas do Grupo Petrópolis.

Segundo a PF, o grupo teria auxiliado a empreiteira Odebrecht a fazer pagamentos ilícitos por meio de operações dólar-cabo – troca de reais no Brasil por dólares em contas no exterior.

De acordo com a Lava Jato, provas colhidas na investigação mostram que Walter Faria, em troca de dólares recebidos no exterior e de investimentos realizados em suas empresas, “atuou para gerar recursos em espécie para a entrega a agentes corrompidos no Brasil e entregar propina travestida de doação eleitoral no interesse da Odebrecht; e transferir, no exterior, valores ilícitos recebidos em suas contas para agentes públicos beneficiados pelo esquema de corrupção na Petrobras”.

Os investigadores sustentam que o Setor de Operações Estruturadas, criado pela Odebrecht para o repasse de propinas para agentes públicos e políticos, “sobretudo no esquema criminoso que vitimou a Petrobras”, costumava utilizar três camadas de contas no exterior em nome de offshores.

“Havia ainda, em determinadas situações, a utilização de complexa estrutura financeira de contas no exterior relacionadas às atividades do grupo Petrópolis”, diz a Procuradoria.

Destaca, ainda, que a investigação está “amplamente fundamentada em diversas provas, incluindo declarações prestadas por investigados que celebraram acordos de colaboração com o Ministério Público Federal”.

Segundo o procurador da República Felipe D’Elia Camargo, “as investigações apontam para um esquema milionário de lavagem de dinheiro em que o grupo Petrópolis atuou em favor da Odebrecht na gestão, disponibilização e destinação de valores ilícitos”.

De acordo com Camargo, foram identificados “bens milionários, adquiridos a partir das contas utilizadas para o pagamento de propina, que ainda são mantidos no exterior”.

Defesas

“O Grupo Petrópolis informa que seus executivos já prestaram anteriormente todos os esclarecimentos sobre o assunto aos órgãos competentes. Informa também que sempre esteve e continua à disposição das autoridades para o esclarecimento dos fatos”

A reportagem busca contato com a defesa do empresário Walter Faria. O espaço está aberto para manifestações de defesa.

Combate à corrupção ‘segue em curso’

Membros da Polícia Federal (PF), da Receita e do Ministério Público reafirmaram nesta quarta-feira, 31, na deflagração da 62ª fase da Lava Jato, nomeada de Rocky City, que a operação segue em curso e que ainda há crimes que têm de ser desvendados

Em coletiva de imprensa em Curitiba, o coordenador da operação pela Polícia Federal, Tiago Javarotti, disse que a ação desta quarta-feira, 31, “dá claros indícios que há um longo caminho a percorrer no combate aos crimes de corrupção e desvio de recursos públicos”.

Com uma equipe de 120 policiais, foram cumpridos 33 mandados de busca e apreensão e três dos cinco de prisão temporária. A prisão preventiva de Walter Faria, executivo do grupo Petrópolis, ainda não foi realizada.

A equipe investiga a ligação dos grupos Petrópolis e Odebrecht em um esquema de lavagem de dinheiro para posterior pagamento de propinas. Estima-se que foi levantado R$ 340 milhões.

De acordo com os investigadores, havia duas frentes. A Odebrecht transacionava no exterior recursos de propina com o grupo Petrópolis em uma delas. Em outra, o grupo Petrópolis fazia doações eleitorais direcionadas pela Odebrecht, e conseguia desconto em obras que a construtora fazia em suas unidades.

“O grupo Petrópolis agiu como banco de propina da Odebrecht, realizando a gestão, a disponibilização e a destinação de valores a pagamentos ilícitos. Tanto para pagamentos ilícitos no País, em espécie, tanto para doações eleitorais”, comentou o procurador Felipe Camargo.

 

Estadão Conteúdo

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