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Política & Poder

Guerra na Ucrânia representa raro ponto de convergência entre Bolsonaro e Lula; leia análise

Na visão tanto do governo atual quanto do petista, o Brasil deve preservar seus laços comerciais e políticos com todas principais potências

Redação Jornal de Brasília

06/05/2022 6h37

Dos EUA à Alemanha até Israel e Índia, a guerra na Ucrânia tem gerado debates acirrados sobre como reagir ao conflito de consequências cada vez mais globais. No Brasil, país polarizado onde há profundas discordâncias sobre diversos temas da política internacional — de mudanças climáticas à pandemia e instituições internacionais —, seria de se presumir que a invasão russa na Ucrânia também geraria um embate sobre como o Brasil deve se posicionar.

No entanto, apesar das posições muito diferentes no espectro ideológico entre Bolsonaro e Lula, o conflito na Ucrânia – tema em alta no noticiário internacional – é um dos raros pontos de convergência entre os dois principais líderes políticos brasileiros. Na visão tanto do governo atual quanto do petista, o Brasil deve preservar seus laços comerciais e políticos com todas as principais potências e se opor às sanções ocidentais que buscam isolar a Rússia – nessa visão, manter laços com a Rússia (e a China) é fundamental para gerenciar a relação assimétrica do Brasil com os Estados Unidos. Não por acaso, um dos principais defensores da decisão de manter a viagem de Bolsonaro a Moscou – no auge das tensões e poucos dias antes da invasão – foi Celso Amorim, o principal assessor de política externa de Lula e seu ex-chanceler.

Da mesma forma, a presidente Dilma Rousseff resistiu, em 2014, à pressão ocidental de desconvidar Vladimir Putin da cúpula dos BRICS em Fortaleza, alguns meses depois da invasão russa à Crimeia. Tanto como hoje, o Brasil manteve seu compromisso com o grupo BRICS e trabalhou para evitar o isolamento diplomático russo – apesar de a Rússia obviamente ter violado o direito internacional e dos numerosos indícios de que tropas russas cometeram crimes de guerra no país vizinho.

Essa ambiguidade estratégica – o Brasil apoiou algumas resoluções condenando Moscou na Assembleia Geral, mas se absteve da resolução suspendendo a Rússia do Conselho dos Direitos Humanos da ONU – é fruto de um profundo ceticismo em relação ao papel dos EUA, e do Ocidente como um todo, na política internacional. É também reflexo da crítica brasileira em relação ao apoio seletivo de Washington à regras e normas internacionais – simbolizado pelo não-reconhecimento dos EUA do Tribunal Internacional Penal (TPI) em Haia, postura que limita as chances da instituição um dia chegar a investigar as atrocidades cometidas em várias cidades ucranianas.

Bem gerenciada, a estratégia brasileira de ficar em cima do muro pode funcionar bem. Mas tanto Bolsonaro quanto Lula cometeram, nos últimos meses, erros que podem afetar a relação do Brasil com o Ocidente. Pouco antes do conflito, Bolsonaro disse em Moscou que era solidário à Rússia – uma afirmação que gerou perplexidade no Ocidente e produziu poucos benefícios. Da mesma forma, as afirmações recentes de Lula, segundo as quais Putin e Zelenski teriam idêntica responsabilidade pela guerra, causou espanto em capitais ocidentais, sobretudo na Europa do Leste, onde a população teme futuras agressões russas.

Estadão Conteúdo

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