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Política & Poder

Exército divulga reunião de comandante com Bolsonaro após polêmica sobre vacina

Bolsonaro é crítico da imunização contra a Covid-19 e generais manifestaram internamente o receio que as diretrizes divulgadas por Oliveira gerassem uma nova crise

FolhaPress

13/01/2022 18h37

Foto: Palácio do Planalto/Divulgação

Ricardo Della Coletta e Vinicius Sassine
Brasília, DF

Dias depois de o Exército ter debatido um esclarecimento público sobre as diretrizes de vacinação dos militares contra a Covid-19, para evitar uma nova crise com o Planalto, a Força divulgou nesta quinta-feira (13) que o comandante Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira se encontrou com o presidente Jair Bolsonaro (PL).

Trata-se da segunda reunião entre Bolsonaro e o comandante do Exército desde que militares de alta patente debateram a publicação de uma nota sobre vacinação na instituição.

Bolsonaro é crítico da imunização contra a Covid-19 e generais manifestaram internamente o receio que as diretrizes divulgadas por Oliveira gerassem uma nova crise com o governo.

Segundo um comunicado divulgado no site do Exército, Oliveira esteve na segunda (10) no Palácio da Alvorada, residência oficial da Presidência. Também participaram da reunião o chefe do estado-maior do Exército, general Marcos Antonio Amaro, e o comandante das operações terrestres, general Marco Antônio Freire Gomes.
Também foram publicadas fotos da reunião.

“Foram tratados assuntos referentes aos Projetos Estratégicos do Exército e outros assuntos de interesse da Força”, disse o Exército, no comunicado divulgado nesta quinta.

No fim de semana, Bolsonaro já havia revelado um encontro anterior com Oliveira. Os dois se reuniram no sábado (8). “Não, exigência nenhuma. Não tem mudança. Pode esclarecer. Hoje tomei café com o comandante do Exército. Se ele quiser esclarecer, tudo bem, se ele não quiser, está resolvido, não tenho que dar satisfação para ninguém de um ato como isso daí. É uma questão de interpretação”, afirmou o presidente, em entrevista a jornalistas na ocasião.

As normas que irritaram Bolsonaro foram publicadas no dia 3. São 52 diretrizes a serem seguidas por órgãos de direção e comandos militares de área na atual fase da pandemia.

O item 22 propõe “avaliar o retorno às atividades presenciais dos militares e dos servidores, desde que respeitado o período de 15 dias após imunização contra a Covid-19”.

O comandante deixou em aberto a possibilidade de análise de casos de não vacinados: “Os casos omissos sobre cobertura vacinal deverão ser submetidos à apreciação do DGP (Departamento Geral do Pessoal), para adoção de procedimentos específicos.”

A vacinação contra Covid-19 não é obrigatória nas três Forças Armadas, ao contrário da imunização contra doenças como febre amarela, hepatite B e tétano.

O documento confeccionado pelo comandante do Exército recomenda ainda o uso de máscaras, distanciamento social e o não compartilhamento de fake news sobre a pandemia.

Além de questionar a eficácia de vacinas, Bolsonaro é um crítico do uso de máscaras de proteção facial e do distanciamento social. Ele já disseminou diversas notícias falsas sobre a pandemia.

Integrantes da cúpula do Exército manifestaram preocupação com novos atritos com o presidente. Em março de 2021, Bolsonaro demitiu o então ministro da Defesa, Fernando Azevedo, e os três comandantes das Forças, na maior crise militar desde a década de 70.

O atual ministro da Defesa, Walter Braga Netto, entrou no circuito e manteve conversações com o comandante do Exército.

Interlocutores afirmam, porém, que não houve recomendação expressa para a confecção de uma nota com esclarecimento sobre a diretriz baixada por Oliveira.

De acordo com militares, o Exército passou a avaliar a publicação de uma nota esclarecendo que a vacinação não será obrigatória na Força para aplacar o descontentamento de Bolsonaro.

No final, nenhum tipo de esclarecimento foi divulgado.

Na esteira da divulgação de notícias sobre a contrariedade de Bolsonaro com as diretrizes, generais que integram o Alto Comando do Exército passaram a atuar para blindar Nogueira.

Eles afirmaram que o episódio não detonou uma crise entre militares e o governo. Também disseram, sob condição de anonimato, que o documento produzido pelo comandante foi uma peça burocrática, sem motivo para um novo capítulo de estremecimento das relações entre Bolsonaro e o comando da Força.

A orientação foi minimizar o curto-circuito e repisar que o documento do comandante do Exército não difere muito da diretriz de seu antecessor no ano passado, general Edson Leal Pujol, e da própria orientação apresentada por Braga Netto no fim do ano.

Segundo integrantes do alto comando do Exército, o entendimento segue o mesmo, apesar das diretrizes definidas no último dia 3: a vacinação contra Covid-19 não é obrigatória nas Forças Armadas, o que está alinhado aos desejos do presidente, comandante supremo das Forças conforme a Constituição Federal.

Também nesta quinta, o ministro Braga Netto anulou um ato que designava o comandante do Exército como seu substituto na pasta. Ele designou o comandante da Aeronáutica, brigadeiro Carlos de Almeida Baptista Junior, para a função, durante férias agendadas para o período de 17 a 26 de janeiro.

Desde 2016, um decreto estabelece que um comandante de Força deve substituir o ministro da Defesa em caso de vacância. E uma portaria prevê alternâncias sucessivas entre os comandantes de Marinha, Exército e Aeronáutica.

O último a substituir Braga Netto foi o comandante do Exército, durante um afastamento do ministro do país em novembro de 2021. O próximo, pelas regras, é o comandante da Aeronáutica, o mais bolsonarista dentre os três comandantes.

Integrantes da Defesa afirmam que o ato é corriqueiro e que, inicialmente, o brigadeiro Baptista Junior havia relatado uma impossibilidade de assumir o cargo de ministro nas férias do titular. Depois, ele teria comunicado a disponibilidade, o que levou à anulação do ato que designava o general Oliveira.

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