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Política & Poder

Depredações em Brasília, um enorme dano ao Patrimônio

Os três prédios depredados são joias da arquitetura modernista desenhadas por Oscar Niemeyer

Redação Jornal de Brasília

10/01/2023 11h51

Foto: CARL DE SOUZA / AFP

Telas danificadas, estátuas pichadas, um relógio do século XVII destruído: a horda de bolsonaristas que invadiu as sedes dos Três Poderes, em Brasília, destruiu tudo em seu caminho, incluindo obras de arte de valor inestimável.

Os três prédios depredados — o Palácio do Planalto, o Supremo Tribunal Federal e o Congresso Nacional — são joias da arquitetura modernista desenhadas por Oscar Niemeyer.

As construções futuristas, com curvas emblemáticas, projetadas pelo arquiteto genial na capital federal, renderam a Brasília a inclusão pela Unesco no Patrimônio Cultural da Humanidade, em 1987.

Cada um dos três prédios vandalizados também estava cheio de móveis raros e obras de arte de renomados artistas brasileiros, além de doações artísticas feitas por outros países ao Brasil.

O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) “lamenta profundamente os danos causados” e assegurou, em nota, que em breve fará uma perícia para “definir as ações de conservação e restauração”.

Confira a seguir uma lista das peças mais icônicas danificadas.

“A Justiça” pichada

Esculpida em 1961 pelo brasileiro Alfredo Ceschiatti, a estátua de granito “A Justiça” fica na entrada do Supremo Tribunal Federal, na Praça dos Três Poderes, de frente para o Palácio do Planalto.

Esta obra monumental, com mais de três metros de altura, representa uma mulher de joelhos, com os olhos vendados e uma espada na mão. No domingo, teve pichada na altura do peito a legenda “Perdeu, mané”.

Essa frase foi usada pelo ministro do STF, Luís Roberto Barroso, em resposta a um bolsonarista que o questionou sobre a confiabilidade das urnas eletrônicas em novembro passado, durante uma viagem do magistrado a Nova York, pouco após a derrota de Jair Bolsonaro para Luiz Inácio Lula da Silva no segundo turno das eleições presidenciais, em 30 de outubro.

Relógio da época de Luís XIV

No chão do terceiro andar do Palácio do Planalto foi encontrado um relógio fabricado por Balthazar Martinot, relojoeiro do rei francês Luís XIV, de marchetaria Boulle. Sua caixa marrom e dourada estava quebrada e, no lugar do mostrador, havia apenas um buraco.

Segundo a Presidência, o objeto foi um presente da Corte do “Rei Sol” à coroa portuguesa, trazido por Dom João VI para o Brasil em 1808, quando o monarca fugiu de Lisboa para evitar as tropas de Napoleão.

Este relojoeiro fabricou apenas dois modelos deste tipo. O outro, que tem metade do tamanho do presenteado ao Brasil, está exposto no Castelo de Versalhes, na França.

A restauração do exemplar de Brasília é considerada “muito difícil” por Rogério Carvalho, encarregado do Patrimônio dos Palácios Presidenciais, citado em nota à imprensa.

Obra-prima modernista

O quadro “As mulatas”, de Emiliano Di Cavalcanti, um dos mestres do modernismo brasileiro, exposto no Salão Nobre do terceiro andar do Palácio do Planalto, foi seriamente danificado.

A tela, que data de 1962, e retrata quatro mulheres com uma vegetação exuberante ao fundo, foi “encontrada com sete rasgos” feitos pelos invasores, segundo a Presidência.

“Seu valor é estimado em 8 milhões de reais, mas este tipo de obra costuma ser vendido por cinco vezes mais nos leilões”, de acordo com as autoridades.

Mesa histórica como barricada

A “mesa de trabalho de Juscelino Kubitscheck”, o ex-presidente visionário por trás da concepção de Brasília, a capital erguida do zero no meio do Cerrado e inaugurada em 1960, também foi danificada.

A mesa de cor marrom-escura, projetada por Oscar Niemeyer e sua filha única, Anna Maria, foi derrubada e usada como barricada pelos radicais para bloquear o acesso das forças de ordem ao recinto, informou a Presidência.

© Agence France-Presse

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