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Política & Poder

Debate entre Ciro e Duvivier vira alvo da esquerda e munição para bolsonaristas

O pré-candidato à presidência Ciro Gomes é alvo de críticas de parte da esquerda por dizer durante um debate com o comediante Gregório

FolhaPress

22/05/2022 17h18

Os dois já vinham se estranhando nas redes sociais, mas foi só na live que fomos entender em que pé está esta história

Artur Rodrigues
São Paulo, SP

O pré-candidato à Presidência da República Ciro Gomes (PDT) é alvo de críticas de parte da esquerda por dizer durante um debate com o comediante Gregório Duvivier que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não foi inocentado em processos contra ele.

Ao mesmo tempo, a fala do político cearense serviu de munição a políticos bolsonaristas para atacar Lula.

Ciro propôs o debate com o comediante após o humorista, durante seu programa na HBO, Greg News, sugerir que apoiadores de Ciro deveriam migrar para Lula para derrotar o presidente Jair Bolsonaro (PL) no primeiro turno. O convite foi aceito, e o debate aconteceu na sexta-feira (20) durante a live semanal de Ciro.

O trecho que causou maior repercussão foi quando Ciro se referiu a Lula, sem citar seu nome, como um “ignorante corrupto” e Duvivier não concordou. “Eu acho errado chamar o Lula de corrupto exatamente porque ele foi inocentado”, disse o humorista.

Ciro, então, rebateu: “Ele não foi inocentado, é mentira do PT. Lula teve os processos anulados. Ele volta à presunção de inocência, mas ele não foi inocentado”.

Lula passou 580 dias preso após ser condenado no caso do tríplex do Guarujá, no litoral de São Paulo. No ano passado, o ministro Edson Fachin, do STF (Supremo Tribunal Federal), anulou as condenações do ex-presidente Lula na Lava Jato.

Além disso, o Supremo entendeu, por 7 votos a 4, que o ex-juiz Sergio Moro (União Brasil) foi parcial ao julgar o ex-presidente no processo do tríplex. Com isso, as provas colhidas no caso foram consideradas inválidas, e o caso acabou arquivado.

Em março, o ministro Ricardo Lewandowski, do STF, suspendeu a última ação penal que tramitava contra Lula.

O assunto virou um dos mais comentados nas redes sociais.

O ex-deputado federal Jean Wyllys, que deve concorrer de novo ao cargo pelo PT, escreveu em rede social que Ciro é linha auxiliar do fascismo.

“Este é o papel deplorável que este sujeito vem desempenhando na campanha: o de linha auxiliar do fascismo. E ele nem seu fandom venham dizer que não têm consciência disto. Têm sim. Resta saber se o resto do PDT quer participar desse ataque à Democracia”, afirmou.

O presidente do PSOL, Juliano Medeiros, elogiou Duvivier e fez crítica indireta a Ciro. “[Gregório] Teve coragem de se expor num terreno que não é o seu, com todo o desgaste que isso pode trazer. Saiu gigante desse episódio, enquanto outros saíram minúsculos”, escreveu.

Artistas de esquerda e simpáticos ao PT também repercutiram a live.

“Depois de ontem [sexta], os ex-seguidores de Ciro devem na paz da compreensão migrar para um voto democrático e justo em Lula”, escreveu Kleber Mendonça Filho, diretor de Bacurau.

Petra Costa, diretora do documentário Democracia em Vertigem, afirmou que Ciro precisa aprender a ouvir –Ciro foi bastante criticado nas redes por interromper Gregório dezenas de vezes.

Respondendo ao comentário de Petra Costa, a deputada estadual do Rio Grande do Sul, Luciana Brizola, neta de Leonel Brizola, defendeu Ciro. “Ciro tentou se defender da maneira que achou mais adequada. Seu maior erro foi tentar falar de projeto com quem estava mais preocupado em ‘lacrar'”, escreveu a parlamentar.

O próprio ex-presidente Lula, sem mencionar Ciro, reagiu à onda de comentários sobre a questão da inocência. Ele postou um vídeo de seu advogado, Cristiano Zanin Martins, no qual fala sobre o assunto.

“Depois de ser investigado exaustivamente e nada encontrado, só sobraram fake news para atacar Lula”, escreveu o perfil do petista.

Apesar da rixa com Ciro e dos ataques que ele faz ao presidente Jair Bolsonaro (PL), bolsonaristas pinçaram o assunto para atacar Lula.

“O Gregório: ‘acho errado chamar o Lula de corrupto já que ele foi inocentado’. Aí vem o Ciro e joga a verdade na cara: ele não foi inocentado, é mentira do PT”, afirmou a deputada federal Bia Kicis (PL).

Outro bolsonarista, o deputado federal Carlos Jordy, também pegou carona no assunto. “Se tem uma coisa boa no Ciro, é quando ele fala toda verdade sobre seu velho amigo, Lula. O petista não foi inocentado, ele foi descondenado e seus crimes permanecem!”, escreveu.

O presidente Bolsonaro também repercutiu a live, mas para ironizá-la. Ele postou uma imagem em que aparece assistindo ao debate, no que parece ser uma montagem com base em uma live antiga, na qual o presidente aparecia assistindo discurso de Donald Trump.

Após a transmissão, Ciro postou diversos trechos do debate, incluindo a parte que suscitou a discussão relativa à inocência de Lula.

“Talvez a razão de Gregório estar apoiando o PT venha do fato dele acreditar que Lula foi inocentado das acusações que pesam contra ele. Outro equívoco é acreditar que Bolsonaro tentará dar um golpe apenas se for derrotado no segundo turno. E, se perder no primeiro, não tentaria?”, escreveu o pedetista.

O diretor da Quaest Pesquisa, Felipe Nunes, fez um fio no Twitter afirmando que a média de menções a Ciro na rede passou de 25 mil para 90 mil.

“O que Ciro não conseguiu fazer, no entanto, foi provocar uma mudança no sentimento digital das pessoas sobre ele. No começo da semana, o percentual de menções positivas foi de 28%, após o debate, ele chegou a 19%”, escreveu.

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