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Política & Poder

Crianças e adolescentes ficaram em triagem com pais presos em ato golpista; conselho tutelar atendeu 23

O diretor-presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Renato Sérgio de Lima, afirmou que a avaliação das condições do local para crianças cabe ao Conselho Tutelar

FolhaPress

10/01/2023 19h05

Foto: AFP

RAQUEL LOPES

Crianças e adolescentes foram mantidos na Academia Nacional da Polícia Federal durante a triagem de pessoas detidas por participar de atos de vandalismo em Brasília no domingo (8).

Questionada pela reportagem, porém, a Polícia Federal não deu nenhum tipo de detalhe –como a quantidade, as idades e as condições.

A PF disse apenas que liberou as mães com crianças e idosos com problemas de saúde na noite de segunda-feira (9), dando preferência à triagem desse público. E afirmou que não tem balanço de quantas pessoas foram liberadas e das já encaminhadas ao Complexo Penitenciário da Papuda, em Brasília.

O Conselho Tutelar do Distrito Federal afirmou, em nota, que esteve no local às 15h de segunda-feira e passou a acompanhar os atendimentos que estavam sendo realizados pelos policiais federais junto às famílias que estavam com crianças. Disse que foram atendidas aproximadamente 20 famílias e 23 crianças e adolescentes.

“Todas saíram acompanhadas de seus representantes legais, sendo certo que não foi necessário, pelo Conselho Tutelar, realizar nenhum abrigamento. De igual modo e considerando que todos os atos necessários foram realizados pela Secretaria de Justiça e Cidadania Secretaria/Conselho Tutelar”, disse, em nota.

Pessoas ouvidas pela Folha de S.Paulo que participaram do atendimento de saúde dos detidos disseram que o local não era adequado para crianças. Disseram também haver gente com doenças crônicas, desidratação e falta de acesso à alimentação adequada.

O diretor-presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Renato Sérgio de Lima, afirmou que a avaliação das condições do local para crianças cabe ao Conselho Tutelar.

“Caso o conselho avalie que há condições para ficarem por algumas horas com os pais durante a triagem, isso seria possível”, disse.

Luciano Santoro, advogado e doutor em direito penal, avalia que as crianças deveriam ter sido encaminhadas para um familiar próximo ou serem encaminhadas pelo Conselho Tutelar para um local com tratamento adequado.

“Nenhum extremismo é aceitável. Não podemos aceitar a forma como estão sendo realizadas as detenções. O mínimo é respeitar os direitos individuais, as crianças jamais poderiam estar naquela situação”, disse.

A reportagem procurou o Ministério da Justiça e Segurança Publica e a Polícia Federal, mas não houve resposta até a publicação do texto.

O ministro dos Direitos Humanos, Sílvio de Almeida, disse nas redes sociais que mantém contato com o Ministério da Justiça a fim de monitorar a situação das pessoas detidas.

“Por oportuno, o Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania gostaria de expressar sua preocupação com todas as pessoas deste país que se encontram em situação de cárcere –sem exceção– e que, em sua grande maioria, são pessoas pobres e desamparadas.”

A OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) disse, por nota, que mais de 300 pessoas já haviam sido liberadas com transporte assegurado até a rodoviária, havendo ônibus à disposição delas.

“[A PF diz] terem sido liberados os idosos, as gestantes, as pessoas com comorbidades e as que estavam acompanhadas de crianças. Houve esforço das autoridades para liberar pais, mães e responsáveis com crianças. O delegado-chefe da PF explicou que foram fornecidos aos detidos almoço e jantar”, disse a OAB, em nota.

Pessoas que participam desses processos de prisões disseram à Folha de S.Paulo que não há vagas para todos os presos na Papuda. Autoridades cogitam a possibilidade de levar algumas pessoas para o presídio de Goiás.

Como a Folha de S.Paulo mostrou, a Polícia Federal vai indiciar os golpistas presos em flagrante na noite de domingo em Brasília por suspeita de crimes cometidos nos atos de vandalismo.

Houve aproximadamente 1.500 detidos, de acordo com o ministro Flávio Dino (Justiça e Segurança Pública) e com o Ministério Público Federal no Distrito Federal.

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