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Política & Poder

Carreira do bolsonarista Roberto Jefferson é marcada por armas e escândalos de corrupção

O uso de armas no ataque contra policiais federais é mais um capítulo da tumultuada carreira política do ex-deputado Roberto Jefferson

FolhaPress

24/10/2022 8h57

Foto: Reprodução/Agência Brasil

FABIO SERAPIÃO E RANIER BRAGON
BRASÍLIA, DF

O uso de armas no ataque contra policiais federais é mais um capítulo da tumultuada carreira política do ex-deputado Roberto Jefferson, cacique do PTB cujo passado abarca a atuação contra o impeachment de Fernando Collor de Mello, a denúncia e condenação no mensalão do PT e a virada ao bolsonarismo quando o governo aderiu ao centrão.

Jefferson reagiu neste domingo (23) à tentativa da Polícia Federal de cumprir um mandado de prisão, deixando dois policiais feridos.

Aos 69 anos, o petebista se projetou para a política participando de programas de televisão sensacionalistas. Eleito deputado federal em 1982, ele participaria nos 40 anos seguintes de uma coleção de escândalos, incluindo ameaças armadas a adversários.

Sempre na base do governo do momento, Jefferson passou pela gestão de Collor (1990-1992), Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), esteve com Lula no primeiro governo até romper por causa do mensalão. Ele aderiu a Jair Bolsonaro assim que o presidente abriu as portas do governo para o centrão.

A adesão ao bolsonarismo veio aliada a mostras públicas do gosto pelas armas e violência como forma de discurso.

O CPDOC (Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil) da Fundação Getulio Vargas, por exemplo, mostra que a relação do ex-parlamentar com armas é antiga.
Registros apontam que em fevereiro de 1988 ele chegou a ser acusado de ter ido armado a uma sessão da Constituinte com o objetivo de resolver desavenças com o então deputado Jorge Uequed (PMDB-RS).

Jefferson negou ter ido armado ao plenário, mas, no entanto, disse que era membro da Confederação Brasileira de Tiro ao Alvo e possuir uma coleção de armas.

A junção da exposição do uso de armas com os ataques virulentos contra autoridades e instituições foram os principais motivos para Jefferson entrar na mira das investigações conduzidas pelo ministro Alexandre de Moraes.

Ele foi alvo das três principais investigações: os inquéritos das fake news, atos antidemocráticos e milícias digitais.

Os investigadores dizem ver na reação de Jefferson contra a PF a continuação dos ataques que ele vem fazendo desde o início de 2020, quando passou a ser alvo das apurações.

Ele passou a ser investigado no inquérito das fake news após uma série de declarações, entre abril e maio de 2020. Em 19 de abril, durante uma live com jornalista bolsonarista Oswaldo Eustáquio, ele “denunciou” golpe supostamente planejado pelo então presidente da Câmara dos Deputados Rodrigo Maia contra Jair Bolsonaro.

A live foi vista pelo próprio presidente, teve mais de 1,8 milhão de visualizações e foi disseminada pela rede bolsonarista na internet. Em 9 de maio de 2020, uma postagem no Twitter sacramentou sua adesão ao bolsonarismo mais radical.

Com uma foto segurando um fuzil, mesmo tipo de arma que mantinha em sua casa e atirou nos policiais, o ex-deputado pediu a Bolsonaro para substituir os 11 ministros do STF.

“Estou me preparando para combater o bom combate. Contra o comunismo, contra a ditadura, contra a tirania, contra os traidores, contra os vendilhões da pátria. Brasil acima de tudo. Deus acima de todos”, escreveu o dirigente partidário à época.

Em seguida, ao participar dos atos antidemocráticos, ele também entrou na mira da investigação iniciada pela PGR e depois anexada ao inquérito das milícias digitais.

Foi no âmbito dessa apuração que resultou a denúncia feita pela PGR contra Jefferson.

Antes da denúncia, ele chegou a ser preso. O pedido foi feito em 4 de agosto de 2021 sob o argumento de que o ex-deputado de forma reiterada divulgava ofensas contra autoridades e incitava seus “pretensos seguidores a agirem ilicitamente” contra o Estado democrático de Direito.

“Não se vislumbra, neste momento inicial, medida alternativa apta a preservar a ordem pública dos ataques promovidos e que podem culminar na efetiva execução de atos de violência, diretamente ou por interpostas pessoas”, afirmou no pedido a delegada Denisse Ribeiro, então responsável pelo caso.

Assim como na atual ordem de prisão, expedida por Moraes após Jefferson atacar a ministra Cármen Lúcia, do STF, o motivo do pedido de prisão em 2021 foram as falas virulentas contra autoridades e ameaça às instituições.

Antes de aderir ao extremismo, Jefferson teve uma carreira política marcada pelo envolvimento em escândalos.

Ele foi alçado pela primeira vez ao topo do cenário político nacional no início dos anos 90, quando assumiu no Congresso a liderança da tropa de choque que tentou evitar o impeachment do então presidente Fernando Collor de Mello.

Com a queda de Collor, em 1992, Jefferson viveu um certo período de ostracismo, mas não demorou a se integrar ao satélite de partidos de centro e de direita que apoiavam o tucano Fernando Henrique Cardoso (1995-2002).

Com a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre José Serra (PSDB), em 2002, Jefferson e o PTB aderiram ao governo petista desde o início. Ainda em 2003 o então deputado federal assumiu a presidência nacional do PTB com a morte de José Carlos Martinez em um acidente aéreo.

A relação PT-Jefferson seria rompida de forma retumbante dois anos depois, em 2005, quando o petebista delatou, em entrevista à Folha de S.Paulo, o esquema de mensalão. Na época, Jefferson, cujo partido estava no centro de uma suspeita de corrupção nos Correios, afirmou que a gestão de Lula comprava apoio parlamentar por meio de pagamentos mensais a partidos.

A crise representou um forte abalo ao governo, o que incluiu a cassação do mandato de José Dirceu (PT), o primeiro ministro da Casa Civil de Lula, e do próprio Jefferson.

O petebista foi condenado pelo STF, preso, e só voltaria aos holofotes nacionais na esteira do apoio ao bolsonarismo.

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