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Política & Poder

Bolsonaro teria recebido uma caixa de pedras preciosas, não registrou e guardou em cofre

O conteúdo dos e-mails foi obtido pela CPMI do 8 de Janeiro, na caixa de e-mails deletados de um militar amigo de Bolsonaro

Redação Jornal de Brasília

03/08/2023 8h33

Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

Registros do e-mail do Palácio do Planalto, que foram obtidos pela Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do 8 de Janeiro, sugerem que Jair Bolsonaro (PL) ficou com presentes recebidos em Teófilo Otoni-MG durante a campanha eleitoral. Ele e a primeira-dama Michelle Bolsonaro receberam um envelope e uma caixa com supostas pedras preciosas e, de acordo com o e-mail, eles não foram cadastrados oficialmente.

Os e-mails foram trocados pelos primeiros-tenentes do Exército Adriano Alves Teperino e Osmar Crivelatti e pelo segundo-tenente da Força Cleiton Henrique Holzschuk, todos ajudantes de Ordem da Presidência da República durante o governo Bolsonaro. Crivelatti era braço direito do tenente-coronel Mauro Cid, preso desde maio por inserção de dados falsos de vacinação da covid-19 no sistema do Ministério da Saúde. O jornal O Estado de São Paulo obteve acesso à mensagem.

As duas mensagens são listas numeradas com detalhes das atividades que os militares deveriam cumprir. A CPMI obteve trocas de e-mails entre 26 de outubro e 11 de novembro do ano passado.

A mensagem de 27 de outubro, às 18h21, é assinada pelo então coordenador administrativo da Ajudância de Ordens da Presidência da República, Cleiton Henrique Holzschuk. O militar envia os afazeres aos dois colegas. O item de número 36, intitulado “Presente PR”, trata das supostas pedras.

“Em 27/10/2022, foi guardado no cofre grande, 01 (um) envelope contendo pedras preciosas para o PR (presidente da República) e 01 (uma) caixa de pedras preciosas para a PD (primeira-dama), recebidas em Teófilo Otoni em 26/10/2022. A pedido do TC Cid, as pedras não devem ser cadastradas e devem ser entregues em mão para ele. Demais dúvidas, Sgt Furriel está ciente do assunto”, indica o e-mail.

Já o outro e-mail, enviado em 31 de outubro, às 18h58, é assinado por Osmar Crivelatti. Nesta mensagem, as “pedras preciosas” são tratadas no item 24 da “passagem de serviço”, o que indica que outros afazeres que constavam da lista já haviam sido finalizados.

Em campanha no 2º turno das eleições de 2022, Bolsonaro visitou a cidade mineira no dia 26 de outubro, um dia antes do e-mail trocado.

Crivelatti é, atualmente, um dos assessores pessoais de Bolsonaro. As mensagens foram obtidas pela CPMI do 8 de Janeiro na caixa de e-mails deletados do militar.

“Essas pedras nunca foram registradas nem como presente ao presidente da República e à primeira-dama nem em lugar nenhum”, afirmou a deputada Feghali (PCdoB-RJ), durante sessão da CPMI realizada na terça-feira (1). Ela disse que vai denunciar o caso ao Tribunal de Contas da União (TCU), ao Supremo Tribunal Federal (STF) e à Polícia Federal (PF).

“Ele era presidente à época, então, presta contas ao TCU”, disse. “Pedimos a quebra de sigilo da Michelle, do Bolsonaro e a movimentação do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) dos dois. Importante saber o volume de recursos que circularam. ”

Sempre que um presidente da República recebe um presente, o procedimento de praxe é cadastá-lo. Os bens ficam sob responsabilidade da Diretoria de Documentação Histórica, que faz parte do gabinete da Presidência. O órgão analisa o que vai para o acervo pessoal do presidente e o que deve ser incorporado ao patrimônio da União – e só o que vai para esse segundo grupo tem seu valor avaliado. A listagem não possui o valor dos bens.

Bolsonaro recebeu mais de 19 mil itens enquanto esteve na Presidência da República. A lista oficial de presentes recebidos por ele indicam que, em Teófilo Otoni, o então presidente ganhou uma placa do Sindicato Rural da cidade, um quadro e o livro “Cinco minutos com Jesus”, de apoiadores, e um item de consumo da Indústria e Comércio Mate Cola LTDA.

E essa não foi a primeira polêmica de Bolsonaro envolvendo presentes não cadastrados. Em março, foi divulgado que o governo do ex-presidente tentou entrar ilegalmente no Brasil, em 2021, com um conjunto de joias da marca Chopard, de valor milionário, que seria um presente do governo da Arábia Saudita para ele e a ex-primeira-dama.

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