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Política & Poder

Bíblia, boi, bala: os três ‘Bs’ ainda relevantes para os bolsonaristas

A admiração de policiais, evangélicos e empresários pelo presidente Jair Bolsonaro vem antes de sua vitória nas eleições de 2018

Redação Jornal de Brasília

06/09/2022 10h46

Foto: Agência Brasil

Boa parte dos eleitores do presidente Jair Bolsonaro (PL) se alinha a um dos três ‘Bs’ com os quais o governo se identifica: bíblia, boi e bala, em alusão aos evangélicos, ao agronegócio e aos setores pró-armas.

Confira alguns testemunhos coletados pela AFP em Rio de Janeiro, São Paulo e Luziânia (Goiás).

Elitusalem Gomes, o major da PM do Rio que se sentiu valorizado

A admiração do policial da reserva Elitusalem Gomes Freitas por Bolsonaro é anterior à sua eleição em 2018, em “uma época em que nenhum político se prestava ao papel de dar condolências às famílias dos policiais mortos” em serviço.

“Eu conheço Jair Messias Bolsonaro dessa época. Era um simples deputado federal, mas ia no sepultamento dos nossos colegas, prestava homenagem, reconhecia um policial como um cidadão”, explica este homem corpulento de 42 anos, que após mais de duas décadas como policial militar foi suplente de vereador, chegou a ocupar um assento na Câmara municipal e agora é candidato a deputado federal pelo AGIR do Rio de Janeiro.

Em suas redes sociais, ele posa com o semblante sério, uma camiseta preta com a inscrição “Bolsonaro”, uma bandeira do Brasil nos ombros e segurando uma carabina. Ele se define como “pai de família”, “conservador”, “pró-armas” e “terror da esquerda”.

“Na primeira eleição do Bolsonaro, se gerou uma expectativa muito grande entre os conservadores. Só que os problemas de 30 anos não se resolvem em quatro”, acrescentou.

“O PT roubou em Copa do Mundo, em Olimpíada, em dias normais. O governo Bolsonaro mostrou que há lisura”, acrescentou Gomes Freitas, convencido de que no último mandato não houve corrupção.

Reproduzindo o discurso do presidente, assegura que nas altas cortes se trama uma “contagem de votos secreta” com a intenção de cometer fraude nas eleições e impedir a vitória de Bolsonaro.

“Aqueles que acusam o presidente Bolsonaro de golpe, na verdade estão invertendo a narrativa. Eles são golpistas”, acrescentou.

Mariza Russo, a evangélica zelosa de seus valores

Mariza Russo Feres, professora de matemática aposentada de 68 anos, reza “todos os dias pelo nosso Brasil, pelo presidente que Deus vai escolher”.

Esta mulher de tez branca e cabelos castanhos inquieta-se com a possibilidade de que o ex-presidente Lula (PT) volte ao poder: “Tenho medo do comunismo, do socialismo, isso muda totalmente a nossa vida”, explica, sentada em um banco da igreja evangélica liderada por seu marido pastor em Pinheiros, bairro de alto poder aquisitivo em São Paulo.

Ela acredita que é Bolsonaro quem melhor vai defender os valores cristãos, como “os princípios da família”, sobre os quais aprofunda em reuniões semanais com outras mulheres da congregação.

“Por exemplo o aborto é uma coisa anticristã, então a gente se preocupa se um candidato pensa dessa maneira (…), impõe isso para nós”, ressalta, em alusão a declarações dadas por Lula em defesa da interrupção da gravidez antes de se retratar.

Russo, que já votou em Bolsonaro em 2018, teme também que Lula imponha uma educação contrária a suas crenças: “Os meus netos são pequenos. Que futuro eles vão ter com ideologia de gênero ensinada nas escolas?”, diz, em alusão ao conteúdo sobre diversidade sexual e de gênero.

Com a bíblia nas mãos, Mariza se ajoelha, fecha os olhos e ora pelo Brasil.

Carlos Alberto Moresco, o ruralista favorecido

Na fazenda Onça, onde Carlos Alberto Moresco trabalha, não há nenhum cartaz bolsonarista. É que longe de qualquer “idolatria”, este produtor rural assegura defender os fatos, isto é – afirma -, que o presidente favoreceu como nenhum outro governo recente o agronegócio, com a abertura de novos mercados na Ásia e planos de infraestrutura que favoreceram as exportações, sustenta.

“Foi muito inteligente na escolha da escala do seu governo, dos seus ministros. Se você olhar, nossa ministra da agricultura, ela foi uma engenheira agrônoma, conhecedora das dificuldades que a gente tem no setor”, diz Moresco em alusão à ex-ministra Tereza Cristina, na fazenda que arrenda em Luziânia, em Goiás, com uma extensão de 1.500 hectares, onde cultiva produtos como milho e soja.

Aos 47 anos, de estatura mediana e cabelos grisalhos, Moresco também destaca a entrega de títulos de propriedade rural, mais de 350.000 entre 2019 e 2022, para agricultores: Bolsonaro “deu dignidade a estas pessoas que estão lá no assentamento porque antes só ganhavam a cesta básica. Hoje, com o título da terra, podem captar financiamento, plantar sua roça e ter sua dignidade”.

“Eu sou uma pessoa leal a quem é leal com os valores e princípios que eu acredito, e o nosso presidente tem esses valores morais e sabe valorizar tanto pobre quanto rico. Então, por isso, eu acho que ele é merecedor de ter mais quatro anos para concluir o trabalho que se propôs a fazer no país”, conclui.

© Agence France-Presse

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