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Política & Poder

“8/1 teve a participação do Poder Executivo”, diz Bolsonaro

Primeiro presidente que perde disputa por reeleição, Bolsonaro negou ter participado de uma tentativa de golpe no país

Camila Bairros

13/09/2023 8h43

Foto: AFP

Na manhã de ontem (12), o ex-presidente Jair Bolsonaro passou por duas cirurgias para corrigir uma hérnia de hiato e o desvio de septo. Antes, ele deu uma entrevista para a jornalista Mônica Bérgamo, onde fez várias declarações sobre o 8 de janeiro e sobre a delação premiada de Mauro Cid, seu ex-ajudante de ordens.

De acordo com Bolsonaro, Cid é ‘decente e não vai inventar nada’. Além da jornalista e do ex-presidente, também estavam na sala os advogados Fabio Wajngarten, ex-secretário de Comunicação de seu governo, e Paulo Cunha Bueno, além de um assessor pessoal.

Primeiro presidente que perde disputa por reeleição, Bolsonaro negou ter participado de uma tentativa de golpe no país, e disse que “não seria depois do segundo turno que eu faria isso. Muito menos no 8/1. Eu já não era mais nada, estava fora do Brasil”, revelou.

Pessoas que estavam acampadas desde o segundo turno das eleições, em outubro de 2022, protestavam contra a vitória de Lula, e seguam fazendo campanha pró-Bolsonaro no QG do Exército, onde montaram o acampamento. No dia 8 de janeiro deste ano, eles foram para a Esplanada e invadiram a Praça dos Três Poderes, destruindo o Palácio do Planalto, o Congresso Nacional e o STF.

Foto: Agência Brasil

Sobre o 8 de janeiro, Bolsonaro é claro: “foi um movimento que, no meu entender, teve a participação do Poder Executivo [referindo-se ao governo Lula]. O nosso pessoal [apoiadores que se manifestavam durante seu governo] sempre foi de paz. Fez movimentos enormes no Brasil todo, e você não via uma cesta de lixo queimada, uma vidraça quebrada.

O 8/1 foi um movimento que, no mínimo, contou com a omissão do atual governo.

Jair Bolsonaro

O ex-presidente relembrou que estava nos Estados Unidos no dia dos ataques, mas que repudiou os atos. Interrogado sobre a mensagem postada no dia 10 de janeiro, quando questionou novamente o resultado das eleições, ele considerou uma “bobeada”, declarando que estava internado e sob efeito de morfina, o que teria deixado ele confuso.

A mensagem era um vídeo que dizia, sem provas, que Lula não foi eleito, mas sim “escolhido por ministros do STF e TSE”. No início da madrugada do dia 11, o ex-chefe do Executivo apagou o post.

Mauro Cid

Foto: Reprodução

Outro assunto que foi pauta da entrevista foi a delação premiada de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens, no âmbito de inquéritos em que Bolsonaro também é investigado. O ex-presidente revelou, porém, que está tranquilo, já que Cid sempre foi de sua confiança.

“Ele tratava das minhas contas bancárias. Cuidava de algumas coisas da primeira-dama também. Era um cara para desenrolar os meus problemas. Um supersecretário de confiança. Fala inglês, é das forças especiais, é filho de um general da minha turma [Mauro Lourena Cid]. Mas ele não participava de decisões políticas e de governo.”

Ainda defendendo seu ex-ajudante de ordens, Bolsonaro disse que o tenente-coronel Cid sofreu um “esgarçamento emocional por ficar preso quatro meses sem denúncia e sem ter como se defender”, e por isso, concorda com a proposta de delação que foi aceita e homologada pelo Supremo Tribunal Federal.

“O Cid é uma pessoa decente. É bom caráter. Ele não vai inventar nada, até porque o que ele falar, vai ter que comprovar. Há uma intenção de nos ligar ao 8/1 de qualquer forma. E o Cid não tem o que falar no tocante a isso porque não existe ligação nossa com o 8/1. Eu me retraí [depois da derrota para Lula], fiquei no Palácio da Alvorada dois meses, fui poucas vezes na Presidência. Recebi poucas pessoas.

Bolsonaro voltou então a exaltar seu período como presidente, afirmando que, ao tirar os presentes que foram recebidos pelas autoridades estrangeiras e depois vendidas por Cid no exterior, e o 8/1, que já aconteceu após seu mandato, não há o que falar sobre seu governo. “Posso ter tido briga com a imprensa e falado palavrão, porque a gente fica revoltado. Fora isso, não há nada para falar”.

Mauro Cid está preso desde maio por fraude em cartões de vacina da covid-19 e, de acordo com Bolsonaro, é investigado por fake news, algo que não existe no Código Penal. O ex-presidente comparou o caso como “ser acusado de maltratar um marciano”.

Sobre o encontro com hacker Walter Delgatti, que contou com a participação de Cid, Bolsonaro diz não ter se arrependido, já que ele estava em liberdade. “Perguntei o que ele tinha para falar e encaminhei para a comissão de transparência eleitoral”, revelou.

Enquanto manifestantes pediam a intervenção militar em frente ao QG do Exército, Bolsonaro esteve presente e, segundo ele mesmo, “colocou panos quentes”. Ele disse, porém, que quem estava lá pedindo o AI-5, decreto de 1968 que inaugurou o período mais sombrio da Ditadura Militar, nem sabia do que se tratava, e que estava lá para “educar o povo” para que o protesto fosse produtivo.

Questionado sobre a bomba colocada no Aeroporto de Brasília no dia 24 de dezembro do ano passado, Bolsonaro disse que “aparece maluco em tudo quanto é lugar”, e não quis falar mais sobre o caso.

Outros assuntos

Ainda na entrevista e em companhia de aliados, Bolsonaro disse que não pensa, nesse momento, em voltar à presidência, mas que foram criadas várias ‘sementes’ pelo Brasil.

Ele disse ainda que não enxerga, dentro da lei, a possibilidade de ser preso. “Eu teria que ter um julgamento. Eu seria preso preventivamente? Por quê? Eu não estou obstruindo as investigações, não estou conversando com quem [outros investigados] tem medidas cautelares, não estou buscando combinar nada com ninguém, tá certo?”.

Sobre o processo, ele reclama que deveria estar correndo na primeira instância, e não no Supremo Tribunal Federal.

Saúde

De acordo com o boletim médico divulgado pelo Hospital Vila Nova Star, onde Bolsonaro realizou os procedimentos ontem, “as cirurgias transcorreram de forma satisfatória, sem intercorrências e o paciente já se encontra em recuperação no quarto”.

Ele deve permanecer em São Paulo enquanto se recupera das cirurgias, e ficará hospedado no Palácio dos Bandeirantes, residência oficial do governador Tarcísio de Freitas.

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