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Opinião

Das neuroses a invenção do humano, a caçada de Lázaro no cerrado do planalto!

Longe do nome bíblico que foi ressuscitado por Jesus Cristo o nosso Lázaro pode não ter muita coisa de serial Killer

Gilberto Rios

20/06/2021 9h38

Foto: Reprodução

Acusado de assassinar brutalmente uma família no Distrito Federal, o baiano Lázaro Barbosa de Sousa, 32 anos, está sendo perseguido por centenas de agentes de segurança, helicópteros e cães farejadores sem sucesso há dias, assim inicia uma das matérias do Jornal de Brasília. Longe do nome bíblico que foi ressuscitado por Jesus Cristo o nosso Lázaro pode não ter muita coisa de serial Killer, imaginamos ao ler este inicio da matéria. “Até agora, não há elementos suficientes para classificar sua ação criminosa como a de um serial killer”, nos relata nesta mesma matéria a criminóloga e escritora Ilona Casoy, autora de livros sobre o tema, como “Arquivos Serial Killer” (DarkSide). “É muito cedo para entendermos se existem questões sociais, psiquiátricas ou biológicas envolvidas”, conclui.


Com cerca de duzentos caçadores, o nosso vilão da história se embrenha pelas matas do cerrado cercadas por belas cachoeiras da região. Lázaro não tem a cara do “pequi roído”, o fruto apreciado e usado na culinária goiana, tem a cara de vários outros Lázaros que foram abandonados pelas políticas públicas e do excesso de concentração de renda nas mãos de meia dúzia de outros brasileiros, uma política perversa da sociedade que ajuda nesta produção de Lázaros.


Nesta semana a nossa coluna JBr Literatura entrevistou o escritor Adam Mattos, podemos aqui dizer um especialista neste tema, aliás, Lázaro mexeu nas mentes perturbadoras, como um autêntico inventor do humano. Adam que esta lançando o livro “Devaneios de uma mente perturbadora” (Veja a entrevista – https://jornaldebrasilia.com.br/jbr-tv/jbr-literatura/jbr-literatura-015/) nos leva a vários questionamentos do tipo. “O ser humano nasce mau ou torna-se com o tempo”? Na matéria de Adam eu escrevo que, desde Platão, os filósofos vêm colocando o pensamento antes do sentimento, a percepção antes da sensação, o conhecimento objetivo antes da experiência subjetiva. Talvez algum dos leitores possa está pensando: Você não está defendendo este facínora, não é? Queria ver se ele tivesse exterminado a sua família você estaria escrevendo estas bobagens, diria outro. Não, não estou defendendo Lázaro. Lázaro tem pagar por seus erros e ser julgado de forma jurídica como todo bandido sem escrúpulo deve ser julgado e pegar a sua pena máxima pelos crimes cometidos.


Mas, como foi à formação de Lázaro, isto é que intriga os estudiosos das mentes perturbadoras. Como podemos trazer o Lázaro para o mundo do faz-de-contas e imaginarmos que não é a realidade e sim uma fantasia. Antes de discorrer sobre o assunto, vamos virar a nossa lupa para poucos metros da Ceilândia, o vizinho de Taguatinga onde a história deste pseudo personagem do Faroeste caboclo goiano iniciou. Não estamos tratando da narrativa da música da banda Legião Urbana, estamos falando de um personagem real que convive com a sociedade e em todos os lugares. Ah sim, vários Lázaros perto de nós, próximo de cada brasileiro. Mas, virando a nossa lupa para o Congresso Nacional, podemos perceber a ausência dos governantes em políticas públicas que vem desde a implantação da nossa jovem democracia. Sarney, Itamar, Collor, FHC, Lula, Dilma, Temer e o Bolsonaro nunca tiveram uma política focada na formação da juventude, estamos falando aqui de escolas em tempo integral para garantir perspectivas de futuro aos nossos jovens e não produzirmos mais Lázaros para a sociedade. Não estamos falando das bobagens que permeou as últimas eleições presidenciais, estamos falando de educação, educação está que a Coréia do sul enxergou e o fez deste pequeno país asiático a potência que é hoje. Mas, porque virarmos a nossa lupa para o Congresso Nacional, porque é de lá que saí às decisões políticas.


Infestados de personagem o nosso Congresso tem muitos políticos com a cara do “pequi roído”, ou poderíamos dizer os nossos Lázaros, ou será, Iagos de paletó e gravatas e eleitos democraticamente pelo povo brasileiro. Quem, antes de Iago (Otello – William Shakespeare), na literatura ou na vida, dominou com tanta maestria as artes da desinformação, desorientação e desordem? Isto te lembra de algo do que ocorre hoje? A tragédia humana que o Brasil está acompanhando como gênero dramático, não é, necessariamente, metafisica, mas Iago personagem de Shakespeare, que afirma ser tão somente crítico, é, também, tão somente metafisico. Sua grande bravata não difere muito dos nossos políticos. A famosa frase de Iago – “Nunca mostro quem sou” – contradiz propositadamente, São Paulo: “Com a graças de Deus, sou quem sou”. Quer algo mais maquiavélico? Assim como Otello se enganou com Iago, percebemos o quanto os brasileiros se deixaram serem enganados por alguns políticos.


Mas, o Lázaro em perseguição assombra o país, debocha da sociedade reduzindo á todos para uma incoerência homicida. O sucesso de Lázaro (se é que podemos chamar de sucesso) no gênero da tragédia (nem quero falar do sistema Coercitivo Aristotélico, como empatia, anagnórise e outros do gênero que não cabe neste caso), pode superar aos dos nossos políticos. Lázaro para alguns há de morrer torturado, calado, mas terá deixado, como memorial, uma realidade mutilada para a nossa sociedade, ele se tornou um prato cheio para as mentes doentias.


Para Lázaro, o que antes talvez fosse o culto de guerra da sobrevivência sem as oportunidades, tornou-se pra ele o jogo da guerra para a sua sobrevivência, o jogo a ser jogado em toda parte contra a sociedade, porque ele sabe que todos querem Lázaro…morto! Pois, a morte em devoção torna-se um importante instrumento desta caçada na invenção do humano. Porém morto, não iremos compreender Lázaro, vivo teremos muito que aprender a não produzir mais Lázaros. Não somos Jesus para ressuscitar Lázaro, na cruz Jesus disse para um bandido criminoso crucificado ao seu lado á época: “Ainda hoje estarás comigo no reino dos céus”.


No entanto, o nosso vilão que não é da literatura Shakespereana, está tendo uma “honra” nefasta de ocupar uma posição inatingível neste 11º dia de captura. Por mais que fosse o seu intelecto, o nosso vilão detém uma agilidade adquirida na escola da vida, a arte para maldade heroica. Isto foi construído em algum momento na sua formação e Lázaro até chamava as suas professoras de pró, seria pré-maturo afirmar a sua esquizofrenia? O prognóstico dos casos de esquizofrenia é extremamente complicado pela dificuldade de entender com exatidão. Se o esquizofrênico consegue restabelecer relações, pode ainda acontecer que torne a colapsar, se ocorrerem acontecimentos como está ocorrendo, pois, a primeira aceitação da realidade das pessoas neste caso Lázaro, é somente e tão somente um estágio intermediário no caminho de afastar-se. O cara é do mau e eu sou do bem, ele é agressivo, eu não!


Mas, será este o caso de Lázaro? Senão vejamos! Em outra matéria temos a seguinte declaração de uma vítima violentada há 12 anos nos arredores da comunidade do Sol Nascente, favela que fica vizinha à Ceilândia, apesar do GDF negar a existência de favelas por ter um solo plano, as favelas da nossa capital se misturam ao barro vermelho do solo e estão lá aos olhos vistos. A mulher violentada afirma que: “Ele gosta de violentar mulher. O negócio dele é com mulher, a raiva é com mulher”, disse ela ao Estadão, sob a condição de anonimato. “Eu me mudei, minha família vendeu a chácara. Vi até pela Polícia Civil que ele voltou atrás da gente depois do ‘saidão’. Não era para estar solto”, entretanto, o nosso código civil permitiu que Lázaro fosse solto e jogado dentro de uma cela. Mas, que políticas públicas o estado anda desenvolvendo com os apenados?


A psicanálise nos aponta algumas possibilidades de respostas para o fato dele ser violento com as mulheres, mas, Freud referiu a este processo como “o medo da castração”. É através da castração que o sujeito acede ao simbólico, origem da “tragédia” individual de cada sujeito, traduzida pelo pai da psicanálise através do mito edipiano. A angústia de castração funciona, na neurose, como permanência do desejo recalcado, permanência da fantasia como resposta a esse desejo, resposta ao não-sentido do desejo.


Mas, porque estamos dando tanta ênfase ao caso do Lázaro com tantos outros casos á soltas por aí? A resposta é simplória, poucos indivíduos fizeram o estado de bobo eu diria até de palhaço, onze dias de caçada, gasto astronômico, aparato policial (Civil e Militar de dois estados, mais as Policias Federais e Rodoviários e alguns cães farejadores, drones e helicópteros), um aparato digno de um roteiro de Bollywood onde veremos ao final deste roteiro duas torcidas produzindo o seguite desfeixo. Pra aqueles que torcem para que o Lázaro continue bailando o estado e o quer vivo para entender e aqueles que o querem a sete palmas abaixo do solo imaginando que ao eliminar Lázaro, eles estariam extirpando todo mau, toda a crueldade que o cerca.

Mas, cuidado! Lembra da nossa historieta de Iago contada aqui? Pois bem, eu temo que o nosso Congresso Nacional possa ressuscitar ou mesmo produzir outros Lázaros se não se preocuparem com a nossa juventude, Lázaro não é uma invenção do humano!

Gilberto Rios
Jornalista, Psicanalista, Diretor Teatral e escritor

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