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Mundo

Rebeldes do Iêmen declaram guerra a navios dos EUA

A ação mostra que os houthis permanecem na ofensiva após EUA e o Reino Unido terem lançado ataques contra suas posições

Redação Jornal de Brasília

15/01/2024 15h43

Foto: Reprodução/ AFP

Por Igor Gielow
São Paulo, SP (Folhapress)

Rebeldes aliados ao Irã e ao Hamas no Iêmen atingiram nesta segunda-feira (15) um navio mercante americano com um míssil e declararam guerra a todas as embarcações de Washington no mar Vermelho. Logo depois do incidente, explosões foram ouvidas perto de um aeroporto operado pelos houthis.

Segundo a empresa de segurança naval Ambrey e o Comando Central das Forças Armadas dos Estados Unidos, três mísseis foram lançados contra um cargueiro americano perto de Áden, no sul iemenita. Um deles atingiu a embarcação, mas não houve vítimas, e os danos não impediram que ela seguisse viagem.

A ação mostra que os houthis permanecem na ofensiva após EUA e o Reino Unido terem lançado ataques contra suas posições. Não está claro se as explosões relatadas nesta segunda são resultado de novos bombardeios.

Segundo o porta-voz rebelde Nasruldeen Amer disse à rede qatari Al Jazeera, os EUA “estão perto de perder sua segurança naval” na região. Ele afirmou que embarcações comerciais e militares serão alvos do grupo, que até aqui dizia apenas atacar navios que considerava ligados a Israel.

A crise no Oriente Médio decorre da guerra Israel-Hamas, que completou cem dias no domingo (14). Aliados do grupo terrorista palestino e, como ele bancados pelo Irã, os rebeldes houthis do Iêmen passaram a atacar embarcações mercantes naquelas águas desde 19 de novembro passado.

Os EUA e o Reino Unido montaram com outros países uma força-tarefa naval para tentar proteger rotas comerciais. Na sexta (12), os dois aliados principais fizeram o primeiro ataque a bases e instalações militares dos houthis na guerra, empregando mísseis lançados de navios, submarinos e caças.

Um segundo ataque, de menor intensidade, ocorreu no sábado (13), mas os houthis não se acanharam. Na sexta e no domingo (14), lançaram mísseis contra navios na região. O incidente do fim de semana foi uma ação militar pura, direcionada contra o destróier americano USS Laboon, um dos que mais abatem drones e mísseis na região.

Um míssil de cruzeiro antinavio foi interceptado por um caça americano. Diferentemente do que ocorreu em outros episódios, a aeronave dos EUA não foi lançada pelo porta-aviões USS Dwight Eisenhower, mas sim de uma base terrestre não relevada na região -o primeiro engajamento do tipo e um sinal de que o conflito está ganhando complexidade.

Ainda que pontuais, as duas ações que se somaram a 26 ataques anteriores mostram que os houthis seguem desafiando o Ocidente. Nesta segunda, o ministro da Defesa do Reino Unido, Grant Shapps, disse ao Parlamento que a política dos aliados será a de “esperar para ver”, e que Londres não tem interesse em entrar numa guerra com os houthis.

O grupo -que, assim como 40% da população iemenita e a maioria da do Irã, segue um ramo minoritário do islamismo chamado xiismo- luta uma guerra civil pelo controle do país desde 2014. Domina a capital, Sanaa, e a porção oeste do território, que margeia o mar Vermelho, e hoje vive um precário cessar-fogo patrocinado pela Arábia Saudita, que apoia militarmente o governo reconhecido.

Resta saber se o que Shapps descreveu como um “golpe dado aos houthis” com os bombardeios anglo-americanos terá efeito em reduzir a intensidade das ações.

Qatar suspende trânsito de gás

A deterioração da segurança para o transporte no mar Vermelho fez com que o Qatar, maior exportador mundial de gás natural liquefeito, suspendesse o trânsito de seus navios com o produto pela região nesta segunda.

Segundo a QatarEnergy, empresa que explora com a ExxonMobil americana o maior campo de produção de gás do mundo, com 10% das reservas conhecidas e 208 poços, quatro navios receberam ordens de parar e esperar o desenvolvimento da situação.

Isso é um problema em particular para a Europa, que passou a comprar gás qatari e dos Emirados Árabes Unidos para substituir o produto russo, do qual buscou reduzir a dependência após Vladimir Putin invadir a Ucrânia em 2022. Ainda assim, até ironicamente, os europeus ainda compram uma parte de seu gás da Rússia por meio de gasodutos que passam pelo território ucraniano.

O impacto comercial desta frente da guerra é significativo. Antes da decisão qatari sobre o gás, diversas empresas petroleiras desviaram seus navios ligando o Oriente Médio à Europa por rotas alternativas em torno da África, o que aumenta o custo do frete e o tempo de viagem -no caso do Qatar, são adicionados 9 aos 18 dias usualmente consumidos no trajeto.

Há outros efeitos. Nesta segunda, a fabricante de carros japonesa Suzuki anunciou que terá de paralisar a produção em sua fábrica em Esztergom, na Hungria, devido ao atraso na chegada de motores e componentes para os automóveis por mar.

Cerca de 15% do comércio marítimo do mundo passa pela região. No canal de Suez, que liga o mar Vermelho ao Mediterrâneo, o trânsito caiu 90% até aqui -má notícia adicional para o Egito, que o controla e aufere R$ 50 bilhões anuais em pedágios.
O preço das commodities energéticas também sofre com a crise, mas ainda está sob controle. Como os depósitos de gás europeus estão em altos níveis, cortesia do pavor de ficar sem aquecimento com a crise na Ucrânia, houve uma queda marginal nos preços futuros nesta segunda. Sem desabastecimento de petróleo, houve estabilidade após uma subida decorrente dos ataques de sexta.

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