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Presidente da Angola toma posse com Exército nas ruas e oposição resignada

João Lourenço, atual líder de Angola, tomou posse em uma Luanda repleta de militares, de seu segundo mandato de cinco anos

FolhaPress

15/09/2022 12h24

Foto: Divulgação

MAYARA PAIXÃO
GUARULHO, SP

João Lourenço, atual líder de Angola, tomou posse nesta quinta-feira (15), em uma Luanda repleta de militares, de seu segundo mandato de cinco anos à frente da Presidência da nação lusófona.
Fechada para o público, a cerimônia consolidou a trajetória do MPLA no poder, ininterrupta desde a independência, em 1975, e fez naufragar as tentativas da oposição, que alegou fraude e desrespeito ao processo eleitoral, mas teve seus questionamentos frustrados na Justiça.

Com o desafio de se desvencilhar da hegemonia do petróleo, diversificar a economia e elevar índices de bem-estar social, que ainda patinam, Lourenço repediu em seu primeiro discurso partes da fórmula que adotou em 2017, a primeira vez em que foi eleito.

O angolano prometeu concentrar atenções no setor social e na oferta de produtos que sejam produzidos no próprio país, considerável desafio para a nação de 34 milhões de habitantes que basicamente exporta matérias-primas e importa bens de consumo.

Nas ruas, a forte presença militar foi apontada por locais e ativistas como uma prática de intimidação. Tem sido assim desde o início do mês, quando as Forças Armadas anunciaram um “estado de prontidão combativa” até a próxima terça-feira (20), para prevenir o que chamam de incidentes pós-eleições, sobretudo na capital.

Agências de notícias relataram repressão a manifestações contrárias ao governo e detenções de pessoas que concederam entrevistas críticas a João Lourenço e à maneira como o processo eleitoral se desenrolou. Especialistas, antes mesmo do pleito ocorrer, apontavam que o uso da máquina pública pelo governo tornava desleal a competição.

À portuguesa Lusa Francisco Furtado, ministro de Estado e chefe da segurança do presidente, disse que a presença do Exército serve para proteger o povo, não intimidar. E acusou a oposição de ter um plano de subversão para derrubar o governo com base em ajuda externa.

“Notamos há dois anos que havia uma estratégia de subversão da ordem, e é por estes aspetos que as forças têm de estar em prontidão”, afirmou. “Qualquer nação só vale aquilo que for capaz de defender-se”.

Se alardeou críticas aos resultados do pleito, que asseguraram 124 cadeiras em um Parlamento de 220 assentos para o MPLP, a Unita, que ficou com a fatia de 90 lugares -maior cifra histórica da oposição-, agora é acusada por ativistas e movimentos sociais de resignação.

O partido liderado por Adalberto Costa Júnior por mais de uma vez disse que não reconhece os resultados eleitorais e não compareceu à posse de JLo, como é conhecido o presidente, mas, contrariando o que pleiteava parte dos eleitores, anunciou nesta quarta (14) que vai empossar seus 90 políticos eleitos para a Assembleia Nacional.

Costa Júnior, em entrevista coletiva, disse que uma ampla consulta no partido concluiu que a “resistência” seria mais efetiva no seio das instituições de Estado do que fora delas e que essa seria a melhor opção para lutar por maior democratização nas próximas eleições.

O partido é um dos que apoia a manifestação marcada para o próximo dia 24, a primeira grande mobilização contra o que os opositores chamam de fraude eleitoral, e promete seguir questionando na Justiça os resultados, ainda que o Tribunal Constitucional tenha negado, na última semana, um recurso da sigla para revisar o pleito.

Falando a repórteres, Costa Júnior disse que JLo tomaria posse de um “poder auto-atriuído” e de “legitimidade questionável”, consumando um “golpe de força”.

Ainda que, nos números oficiais, tenha levado 51,17% dos votos, o MPLA sofreu derrotas em áreas importantes, sendo Luanda a principal. Na província costeira, 62,25% dos votos foram para a Unita, contra 33,62% para a sigla governista, e o restante para legendas menores.

A participação geral foi de apenas 44,82% dos mais de 14 milhões de eleitores. A cifra, no entanto, não é considerada acurada, uma vez que as listas eleitorais, desatualizadas, contavam inclusive com nomes de cidadãos que já morreram.

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