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Picadas de cobra na Venezuela, entre a ignorância e a falta de antídotos

“Remédios caseiros” como espirrar gasolina na região ou chupar a ferida, podem agravar a situação, e provam o enorme desconhecimento geral

Redação Jornal de Brasília

06/08/2023 8h39

Atualizada 07/08/2023 16h03

Uma menina perdeu a perna após uma picada de cobra na Venezuela: havia recebido o antídoto, mas a família decidiu injetar urina de veado na criança e a amputação se tornou inevitável.

Esses tipos de misturas, assim como outros “remédios caseiros” como espirrar gasolina na região ou chupar a ferida, que podem agravar a situação, são uma amostra do enorme desconhecimento geral sobre como lidar com esses animais, em meio a uma crise crônica no sistema de saúde.

A ONG especializada ‘Fundación Vivarium’ busca “ser parte da solução” com conversas educativas e uma linha telefônica aberta a possíveis vítimas de picadas.

“Picada (na) perna esquerda com edema em membro esquerdo inferior, 6:40 da manhã”: Alexander Puerta, de 53 anos, passa horas no celular respondendo mensagens e telefonemas de várias regiões do país com pedidos de ajuda.

Primeiro, solicita os dados da pessoa picada e, se for possível, fotos da cobra que a picou para identificar a espécie.

A ONG formula perguntas que descartam falsos alarmes antes de ativar seu protocolo, que serve de ponte para as autoridades sanitárias, consulta a médicos e localização de hospitais com antídotos.

Fernando Yanes, também da Vivarium, aponta que em 2022 receberam mais de 700 telefonemas.

“Nosso sonho é que possamos custear exames, a aplicação do soro e o monitoramento do paciente”, explica Yanes sobre a pequena organização, financiada por doações de seus integrantes e autogestão.

A pergunta mais recorrente que o fazem é onde conseguir o soro antiofídico, produzido apenas por um laboratório em Caracas e escasso nos hospitais públicos.

Um kit de cinco ampolas pode custar até 500 dólares nas farmácias e vários devem ser administrados em casos graves, por isso atender um acidente com picadas de cobra pode implicar no pagamento de pelo menos 1.000 dólares em um país com um salário mínimo de 4,50 dólares mensais.

Com cerca de 200 espécies descritas, 20% com veneno potencialmente mortal, a Venezuela apresenta uma alta incidência.

Não existem números, mas estimam-se 10.000 envenenamentos e aproximadamente 60 mortes anuais.

“É um problema de saúde pública porque a Venezuela está entre os 10 a 15 países com maior morbidade e mortalidade por envenenamento ofídico”, aponta o herpetólogo Luis Fernando Navarrete, encarregado do serpentário do Instituto de Medicina Tropical da Universidade Central da Venezuela.

A Organização Mundial de Saúde estima que 5,4 milhões de pessoas são picadas todos os anos por cobras, causando entre 80 e 130 mil mortes, a maioria na Ásia, África e América Latina.

© Agence France-Presse

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