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Peru enfrenta surto de síndrome de Guillain-Barré

As doenças autoimunes ocorrem quando o sistema imunológico ataca células saudáveis por engano. A SGB, como o lúpus, é uma delas

Redação Jornal de Brasília

14/07/2023 12h20

Foto: AFP

O Peru enfrenta um aumento de casos de síndrome de Guillain-Barré (SGB), uma doença do sistema nervoso pouco comum, mas que já afetou 191 pessoas e matou quatro, e levou o governo a acionar a emergência sanitária.

O que é SGB?

As doenças autoimunes ocorrem quando o sistema imunológico ataca células saudáveis por engano. A SGB, como o lúpus, é uma delas. Embora suas causas não tenham sido comprovadas, esta síndrome, que afeta o sistema nervoso periférico, costuma aparecer após uma infecção por vírus ou bactéria.

“Esta doença causa um enfraquecimento muscular progressivo nas extremidades até chegar a um nível de paralisia”, explicou o médico infectologista Augusto Tarazona, do Colégio Médico do Peru, conselho que reúne os médicos do país.

A maioria das pessoas começa a se recuperar depois de quatro semanas do início dos sintomas, mas em outras o processo é mais longo e em casos raros, leva à morte. A SGB não é contagiosa.

O que está acontecendo no Peru?

O país sul-americano enfrenta uma onda incomum de SGB. Até 8 de julho, 191 casos foram notificados – incluindo quatro fatais – frente aos 225 registrados no ano todo de 2022, segundo dados oficiais divulgados pela Organização Pan-Americana da Saúde (Opas).

No entanto, os números atuais ainda estão longe dos 900 casos reportados em 2019. Os estudos posteriores relacionaram o surto deste ano a uma infecção gastrointestinal, provocada pela bactéria Campylobacter jejuni.

“Existe uma altíssima probabilidade de que (a atual onda) se deva precisamente à transmissão desta bactéria que está por todos os lados (…) consequência da inadequada manipulação de alimentos, circunstância que aumenta o risco” de SGB, indicou Ricardo Peña, médico epidemiologista e assessor do Ministério da Saúde.

Segundo o médico, 31 pessoas, diagnosticadas com a síndrome, estão hospitalizadas no Peru.

Fatores ambientais incidem sobre a SGB?

Diante da probabilidade de que a bactéria Campylobacter jejuni também esteja relacionada ao atual aumento dos casos, os especialistas acreditam que os fenômenos climáticos possam estar influenciando indiretamente.

A SGB “ocorre como consequência de outras doenças infecciosas que a pessoa possa ter tido um mês ou dois meses antes”, afirmou Tarazona.

Peru, com 33 milhões de habitantes, tem enfrentado mudanças bruscas do clima como consequência, primeiro, de um ciclone que afetou as costas no início e, mais recentemente, do fenômeno El Niño.

As chuvas danificaram sistemas de água potável e drenagem, propiciando surtos de dengue, leptospirose e diarreias, principalmente em regiões pobres ou vulneráveis.

Se a SGB está relacionada a infecções gastrointestinais anteriores então se deve “às condições sanitárias, da água, do manejo de alimentos (…) Os serviços sanitários lamentavelmente têm sido muito afetados por (…) inundações, especialmente na parte norte do país”, observou Tarazona.

O maior número de casos de SGB se concentra precisamente em departamentos do norte peruano, como Libertad e Piura, os pontos mais castigados pelas chuvas.

Qual o propósito da emergência sanitária?

Para enfrentar o surto de SGB, o governo de Dina Boluarte, muita criticada pelo manejo da atual epidemia de dengue, a pior desde os anos 90, decretou em 9 de julho estado de emergência sanitária por 90 dias.

Com esta medida, o governo pode agilizar compras de insumos para o tratamento da doença e aplicar recursos no sistema de saúde.

A SGB é tratada principalmente com imunoglobulina, um medicamento cuja oferta está baixa no mundo neste momento, segundo o médico Peña.

“Lamentavelmente iniciamos este problema da Guillain-Barré com um déficit de medicamentos”, complementa Tarazona.

© Agence France-Presse

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