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Papa emérito Bento XVI é acusado de inação em casos de pedofilia na Alemanha

Em comunicado enviado aos advogados, o papa emérito, de 94 anos rejeitou “estritamente” qualquer responsabilidade

Redação Jornal de Brasília

20/01/2022 10h59

Foto: Reuters

O papa emérito Bento XVI foi severamente criticado em um relatório independente apresentado nesta quinta-feira (20) na Alemanha sobre agressões sexuais contra menores nas arquidioceses de Munique e Freising, que ele liderou entre 1977 e 1982.

O então cardeal Joseph Ratzinger, antes de se tornar papa, não fez nada para afastar quatro clérigos suspeitos de abusos sexuais contra menores, disseram os advogados do escritório Westpfahl Spilker Wastl (WSW) neste relatório.

Em comunicado enviado aos advogados, o papa emérito, de 94 anos e que se retirou da vida pública desde sua renúncia em 2013, rejeitou “estritamente” qualquer responsabilidade, posição que os autores do relatório não consideram “credível”, segundo declarou o advogado Martin Pusch.

Isso porque, em dois casos, os envolvidos eram membros do clero que cometeram várias agressões comprovadas, inclusive pelos tribunais, ressaltou. Os dois padres permaneceram dentro da Igreja e nada foi feito, acusou.

Os especialistas disseram estarem convencidos de que Ratzinger estava ciente do passado pedófilo do padre Peter Hullermann, que chegou em 1980 da Renânia do Norte-Vestfália, na Baviera, onde continuou a praticar abusos por décadas sem ser incomodado.

Em 1986, um tribunal o condenou a uma pena de prisão com sursis. Mas ele foi então transferido para outra cidade da Baviera, onde teria reincidido. Foi apenas em 2010 que este padre foi forçado a se aposentar.

Joseph Ratzinger negou conhecer o passado do padre, cujo caso ganhou as manchetes dos jornais em 2010, na época do pontificado de Bento XVI.

Os autores do relatório também apontam para o cardeal Reinhard Marx, atual arcebispo de Munique e Freising, por ser negligente em dois casos de padres suspeitos de abusos sexuais contra crianças.

Foi precisamente o cardeal Marx que encomendou o relatório. Ele deve falar brevemente por volta das 15h30 GMT.

No geral, o relatório denuncia o acobertamento sistemático de casos de violência contra menores entre 1945 e 2019 com o objetivo, segundo eles, de “proteger a instituição da Igreja”.

“O reconhecimento das vítimas continua insuficiente sob muitos pontos de vista, também depois de 2010”, quando foram revelados os primeiros escândalos de pedofilia na igreja alemã, considera.

A Santa Sé fez saber que tomará nota do relatório, cujo conteúdo ainda desconhece.

“Reiterando seu sentimento de vergonha e remorso pela violência contra menores cometida pelos clérigos, a Santa Sé assegura a todas as vítimas sua proximidade e confirma o caminho que percorreu para proteger os pequenos, garantindo-lhes um ambiente seguro”, disse Matteo Bruni, chefe de comunicação da Santa Sé.

A investigação de Munique constitui um novo capítulo na elucidação de atos de pedofilia que afetam a Igreja Católica em todo o mundo.

Há quatro anos, um relatório revelou que pelo menos 3.677 crianças foram agredidas sexualmente desde 1946 por mais de mil clérigos alemães. A maioria nunca foi punida. Desde então, cada diocese encomendou investigações locais.

Após um pedido oficial de desculpas, a Igreja estabeleceu uma indenização – considerada insuficiente pelas vítimas – de até 50.000 euros por pessoa, contra 5.000 euros até agora.

Na terça-feira, Matthias Katsch, que dirige a associação de vítimas Eckiger Tisch, pediu “compensação apropriada” em vez de “palavras vazias”.

Resta saber que consequências terão as revelações dos advogados de Munique.

No ano passado, o arcebispo de Hamburgo, Stefan Hesse, acusado de negligência no tratamento de casos de pedofilia na diocese de Colônia, onde havia oficiado, apresentou sua renúncia ao papa Francisco, que a recusou.

O arcebispo Marx também renunciou em junho para “compartilhar a responsabilidade pela catástrofe dos abusos sexuais cometido”. Neste caso também, o papa recusou.

© Agence France-Presse

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