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Irã ameaça rever doutrina nuclear em caso de novo ataque de Israel

As ameaças de Teerã relacionadas à sua política nuclear não são inéditas. Em 2021, o então ministro da inteligência do país

Redação Jornal de Brasília

18/04/2024 15h10

Foto: AFP

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

O regime do Irã vai rever a doutrina nuclear do país se Israel responder ao ataque inédito feito por Teerã no último sábado (13), afirmou nesta quinta-feira (18) um comandante da Guarda Revolucionária iraniana.

O processo de enriquecimento do urânio conduzido pela nação persa levanta preocupações da comunidade internacional, embora autoridades digam que os fins são “estritamente pacíficos”.

“As ameaças do regime sionista contra as instalações nucleares do Irã possibilitam a revisão de nossa doutrina nuclear e o desvio de nossas considerações anteriores”, disse Ahmad Haghtalab, comandante encarregado da segurança nuclear, segundo a agência de notícias iraniana Tasnim.

As ameaças de Teerã relacionadas à sua política nuclear não são inéditas. Em 2021, o então ministro da inteligência do país disse que a pressão ocidental poderia levar o regime a buscar armas nucleares.

Em janeiro, Rafael Grossi, o diretor-geral da AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica), afirmou à Folha de S.Paulo que o Irã havia cruzado “todas as linhas vermelhas” rumo à bomba atômica. Há dois anos e meio, o acesso de inspetores da agência no escopo do acordo nuclear de 2015 está virtualmente cortado, com exceções pontuais. O arranjo tinha sido capitaneado pelos Estados Unidos sob o governo democrata de Barack Obama, mas foi rompido por seu sucessor republicano, Donald Trump, em 2018.

O acordo, a grosso modo, previa o relaxamento de sanções econômicas contra Teerã em troca do compromisso, monitorado pela AIEA, de que o programa nuclear do país teria apenas fins pacíficos.

Segundo Grossi, porém, o Irã voltou a operar seu programa de forma acelerada e sem vigilância.
Teerã lançou no último sábado (13) um ataque sem precedentes contra Israel em resposta ao bombardeio à embaixada iraniana em Damasco, na Síria, que matou membros da Guarda Revolucionária do Irã, em 1º de abril –o regime iraniano responsabiliza Tel Aviv, que não assumiu autoria.

Os cerca de 300 mísseis e drones iranianos foram, em sua maioria, interceptados pelas forças israelenses e aliados. Tel Aviv, porém, diz que responderá à ofensiva para preservar a credibilidade de seus meios de dissuasão. Já o regime iraniano afirma considerar o assunto encerrado, mas ameaça realizar um novo ataque a depender da resposta de Israel.

Israel é 1 das 9 potências nucleares do mundo –e a única que não o admite. Seu arsenal é estimado por entidades como a Federação dos Cientistas Americanos em 90 ogivas. Teerã, por sua vez, prega o fim do Estado judeu, assim como o aliado Hamas, em guerra com os israelenses, e seus parceiros como o Hezbollah libanês e os houthis do Iêmen.

Antes, o comandante Haghtalab já havia ameaçado novos ataques contra Israel em caso de um revide. “Se o regime sionista agir contra nossos centros e instalações nucleares, certamente e categoricamente retribuiremos com mísseis avançados contra suas próprias instalações nucleares”, disse ele.

Enquanto líderes mundiais pedem moderação, o gabinete de guerra de Israel tem feito encontros diários numa tentativa de tentar definir como será a resposta ao Irã. Militares confirmaram que o país irá retaliar, mas diferentes propostas de ação continuam à mesa. Na quarta (17), durante visita dos ministros das Relações Exteriores do Reino Unido, David Cameron, e da Alemanha, Annalena Baerbock, o premiê israelense, Binyamin Netanyahu afirmou que Tel Aviv vai tomar as “próprias decisões” na crise.

Analistas acreditam que Netanyahu tem interesse em prolongar o conflito com o Irã. O premiê enfrenta acusações de corrupção e, fora do poder, pode ser preso. Uma guerra com Teerã seria uma maneira dele se perpetuar no cargo, uma vez que em momentos de crise a tendência é de unidade contra um inimigo.

O professor Shibley Telhami, da Universidade de Maryland, disse ao jornal americano The New York Times que o conflito contra o Irã ainda serve a Netanyahu como “uma distração dos horrores” da Faixa de Gaza.

Desde o início da guerra, quase 34 mil palestinos foram mortos no território palestino, e a comunidade internacional vem pressionando Tel Aviv pelo estabelecimento de uma trégua.

Numa tentativa de apaziguar a crise e persuadir a coalizão liderada por Netanyahu a evitar o endosso a um ataque direto ao Irã, os Estados Unidos e o Reino Unido impuseram novas sanções nesta quinta contra o programa de drones, a indústria siderúrgica e fabricantes de automóveis de Teerã.

As sanções de Washington visam “16 indivíduos e 2 entidades que permitem a produção de drones iranianos”, incluindo os Shahed, que foram usados no ataque de 13 de abril. As de Londres são direcionadas a “organizações militares iranianas, indivíduos e entidades envolvidas na indústria iraniana de drones e mísseis balísticos”.

Se Israel avalia retaliar o Irã, o país estuda também invadir a cidade de Rafah, no extremo sul de Gaza, onde está metade dos 2,3 milhões de habitantes locais. De acordo com o jornal britânico The Guardian, autoridades israelenses enviaram artilharia e veículos blindados à região, num indicativo de que a operação terrestre está mais próxima.

Líderes mundiais pedem para Israel suspender a ação, que poderia “resultar em uma perda massiva de vidas”, de acordo com a ONU. Diante da crise, autoridades americanas e israelenses marcaram uma reunião virtual para discutir a possível operação em Rafah –Washington tenta dissuadir Tel Aviv de intensificar as ações em Gaza e de fazer ataques retaliatórios.

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