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Entenda por que virou moda danificar obras de arte, de Van Gogh a Botticelli

Grupos de ativismo ambiental têm feito manifestações colando as próprias mãos e jogando líquidos em quadros famosos

FolhaPress

14/10/2022 13h56

Foto: AFP

LUCAS BRÊDA
SÃO PAULO, SP

Nesta sexta (14), duas ativistas jogaram um pacote de sopa de tomate em “Girassóis”, um dos principais quadros de Vincent Van Gogh. A ação, feita pelo grupo Just Stop Oil, ou Parem Com o Petróleo, em Londres, não é a primeira em que eles danificam uma obra de arte para chamar atenção para assuntos relacionados ao meio ambiente.

Desta vez, as ativistas atiraram a sopa na obra do pintor holandês para pressionar o governo do Reino Unido a decretar o fim do uso de combustíveis fósseis. Mas outros quadros já foram alvo de atos do grupo Just Stop Oil, e também de outros manifestantes na Europa, que comparam o valor dado a uma obra de arte em comparação com vidas que foram perdidas com a crise climática.

“Vocês estão mais preocupados com a proteção de uma pintura do que com o planeta e com a vida das pessoas” disse uma das ativistas nesta sexta, no National Gallery, em Londres, após questionar se a arte valeria mais que a vida.

Em julho, o Just Stop Oil já havia protestado contra novas licenças de petróleo e gás do governo britânico. Na ocasião, eles colaram as mãos -como também fizeram com a obra de Van Gogh- em uma réplica do quadro “A Última Ceia”, de Leonardo Da Vinci, em exposição na Royal Academy, também na capital inglesa.

O grupo de manifestantes pichou a frase “No New Oil”, ou sem óleo novo, logo embaixo do quadro, e falou sobre os riscos das novas licenças para o futuro do mundo. “Quando eu era professor, trouxe estudantes aqui. Parece injusto esperar que eles respeitem nossa cultura quando o governo está determinado a destruir seu futuro com novos projetos de petróleo e gás”, disse na época a ativista Lucy Porter.

Também em julho, alguns integrantes do Just Stop Oil foram ao National Gallery para fazer outro ato, desta vez no quadro “A Carroça de Feno”, de John Constable. Eles cobriram a obra do século 19 com uma versão atualizada, que mostra a visão do mesmo ângulo da pintura original só que trocando o cenário pelo que chamaram de “visão apocalíptica do futuro”, com o campo destruído.

Os ativistas também colaram as mãos no quadro de John Constable, uma prática repetida em outras manifestações no Reino Unido. Eles fizeram o mesmo em um quadro de William Turner em Manchester, em outro de Van Gogh em Londres e em uma obra de Horatio McCulloch em Glasgow.

Na Itália, integrantes do grupo de ativismo ambiental Ultima Generazione, ou Última Geração, colaram as próprias mãos no vidro que protege a tela “A Primavera”, de Sandro Botticelli. A obra do artista italiano, concebida há 540 anos e símbolo da arte renascentista, fica em exibição na galeria Uffizi, em Florença.

“Se o clima entrar em colapso, toda a civilização como a conhecemos entra em colapso. Não haverá mais turismo, nem museus, nem arte”, diz uma publicação do grupo no Twitter. Outra postagem pede o engajamento de todos na causa ambiental. “É hora de parar com os combustíveis fósseis.”

Outro caso que ganhou manchetes recentemente envolve uma das pinturas mais famosas do mundo “Mona Lisa”, de Leonardo Da Vinci. A obra foi atacada por um visitante no Museu do Louvre, disfarçado com uma peruca e uma touca, numa cadeira de rodas.

Na ocasião, em maio, o homem jogou algo parecido com uma torta no quadro. O arremesso, porém, não atingiu a pintura, que é protegida por um vidro resistente, e apenas deixou uma mancha de creme branco no local.

“Pensem na Terra, há pessoas que estão destruindo o planeta. Pensem no planeta, todos os artistas, pensem no planeta. Por isso fiz isso, pensem no planeta”, diz o autor do ataque em um dos vídeos publicados nas redes sociais.

A “Mona Lisa”, datada entre 1503 e 1506, já foi vítima de outros atentados em sua história. Em 2009, um turista jogou uma xícara de chá, que se estilhaçou ao atingir a vitrine que a protege. Já em 1974, em exibição no Museu Nacional de Tóquio, uma mulher usou um spray vermelho, que também não atingiu a pintura.

Antes, em 1956, a obra sofreu dois ataques -um com ácido, que danificou sua parte inferior, e outro de um pintor boliviano, que atirou uma pedra na pintura a óleo, causando também pequenos danos.

Em 1911, o italiano Vincenzo Peruggia roubou a obra do Louvre e a escondeu em seu apartamento. Ele foi descoberto dois anos depois, quando tentou vender a peça para o museu Gallerie degli Uffizi, em Florença.

Há ainda outros casos famosos de ataques a obras de arte. Em 1972, um húngaro chamado Laszlo Toth pulou o altar na basílica de São Pedro e deu 12 golpes de martelo na escultura Pietà, de Michelangelo, danificando severamente a obra renascentista.

Na época, os historiadores de arte ficaram divididos sobre como proceder com a restauração da obra-prima. Alguns queriam que a estátua ficasse danificada como um sinal dos tempos violentos. Outros disseram que deveria ser restaurada, mas com marcas claras que delimitassem as partes avariadas, como um testemunho histórico.

No entanto, o Vaticano decidiu pelo que é conhecido como uma “restauração integral”, um processo que não deixa qualquer vestígio da intervenção visível a olho nu.

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