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Coreia do Norte usa caças em nova provocação aos EUA e aliados

Com a ditadura de Kim Jong-un realizando um raro exercício de bombardeio ao longo da fronteira estabelecida pelo cessar-fogo de 1953

FolhaPress

06/10/2022 11h17

Foto: STR/KNCA VIA KNS/AFP

IGOR GIELOW
SÃO PAULO, SP

A escalada diária de tensão em torno da península coreana ganhou um novo degrau nesta quinta (6), com a ditadura de Kim Jong-un realizando um raro exercício de bombardeio ao longo da fronteira estabelecida pelo cessar-fogo de 1953 da guerra com Seul.

O episódio se soma à sequência de provocações da semana: na terça (4) a Coreia do Norte fez um bem-sucedido teste com um míssil de alcance intermediário com capacidade nuclear e alcance para atingir até Guam, a principal base americana no Pacífico Ocidental.

O projetil sobrevoou o norte do Japão, levando pânico a moradores. A resposta na quarta (5) foi um exercício coordenado de caças avançados dos aliados, enquanto a Coreia do Sul testou ataque com bombas de precisão e disparou quatro mísseis de curto alcance -um deles pifou no ar e caiu, sem ferir ninguém.

Ao mesmo tempo, os EUA enviaram seu porta-aviões USS Ronald Reagan, que voltava de uma manobra naval com sul-coreanos e japoneses, para o o mar do Japão, também conhecido como mar do Oriente, que são as águas que separam o arquipélago da península coreana, dividida entre o Norte comunista e o Sul capitalista.

Na manhã desta quinta (noite de quarta no Brasil), Pyongyang disparou mais dois mísseis, esses de curto alcance, contra o mar. E fez o inusual sobrevoo da fronteira com oito caças e quatro bombardeiros, todos modelos bastante obsoletos soviéticos.

Apesar disso, Seul enviou cerca de 30 caças para o norte de seu território, visando coibir quaisquer violações de espaço aéreo, mas isso não ocorreu.

O padrão de provocações sugere que, após 40 lançamentos de mísseis neste ano, Kim esteja sinalizando que irá fazer um novo teste nuclear para assustar os EUA e seus aliados regionais, buscando retomar as negociações acerca das sanções que atingem o país.

Pyongyang sempre agiu desta forma, e em 2017 Kim conseguiu, após demonstrar um míssil capaz de atingir a costa oeste dos EUA e explodir uma bomba de hidrogênio de mais de 150 quilotons (dez vezes a força do artefato americano que destruiu Hiroshima em 1945), que o governo de Donald Trump negociasse.

O ditador se encontrou três vezes com o americano, mas as conversas acabaram estagnadas. Os EUA querem alguma forma de desnuclearização da península, o que para Kim significa perder maior peça de barganha.

Por outro lado, o isolamento adicional de um dos países mais fechados do mundo devido à pandemia, que funcionou até a chegada a variante mais transmissível ômicron, gerou caos econômico adicional. Há relatos do próprio governo acerca de fome nas províncias.

Isso pode explicar a agressividade de manual de Kim neste ano. Até aqui, o governo de Joe Biden não piscou e, com aliados mais beligerantes em Tóquio e Seul, está dando respostas militares proporcionais a cada uma das provocações, embora haja limite até onde ir sem arriscar a obliteração da capital sul-coreana mesmo com artilharia convencional.

A crise também se insere no contexto da Guerra Fria 2.0 entre EUA e China, na qual Pequim tem Vladimir Putin a seu lado, e da Guerra da Ucrânia, iniciada pelo russo em fevereiro. Os EUA acusaram, em reunião do Conselho de Segurança da ONU, ambos os rivais de fomentarem tecnologicamente Kim para poder fazer suas provocações.

Em 2017, um estudo sustentou que os motores usados em um míssil intercontinental testado eram de desenho soviético, originários do mercado ilegal ou russo ou ucraniano, e o país asiático usa material militar soviético e chinês.

Por outro lado, Kim sempre agiu sozinho e seguindo seus interesses, e neste momento não parece interessar ao líder Xi Jinping uma crise de grandes proporções no seu entorno -ele irá ser ungido com um terceiro mandato, algo que nunca ocorreu, pelo Partido Comunista no congresso que começa dia 16.

No campo especulativo, contudo, mais distração estratégica para os EUA enquanto a Rússia tenta estabelecer seus termos e está sob pressão militar na Ucrânia teoricamente é bom para Putin.

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