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Economia

Previdência privada é a escolha certa para mim? Veja simulações

O plano VGBL (Vida Gerador de Benefício Livre) continua como o produto de maior volume de aportes entre os brasileiros, com R$ 38,9 bilhões em prêmios

FolhaPress

27/11/2022 13h00

Felipe Nunes
São José do Rio Preto, SP

O mercado de previdência privada está mais diversificado, com produtos e estratégias para diferentes níveis de risco e soluções customizadas para atender o objetivo e o perfil do investidor.

Números da Fenaprevi (Federação Nacional de Previdência Privada e Vida) mostram um setor aquecido. No terceiro trimestre deste ano, os planos de previdência privada no Brasil somavam R$ 41,7 bilhões, uma alta de 18,8% em relação ao mesmo período do ano anterior.

O plano VGBL (Vida Gerador de Benefício Livre) continua como o produto de maior volume de aportes entre os brasileiros, com R$ 38,9 bilhões em prêmios e contribuições -crescimento de 19,8% em comparação ao terceiro trimestre do ano passado. Já o PGBL (Plano Gerador de Benefício Livre) tem R$ 2,6 bilhões.

Os indicadores podem ser otimistas, mas isso não significa que a previdência privada seja o investimento mais indicado para todos os casos, dizem especialistas.

João Batista Ângelo, membro da Comissão de Produtos por Sobrevivência da Fenaprevi, diz que saber por quanto tempo manterá o dinheiro investido é importante, pois a previdência privada beneficia investidores que enxergam a longo prazo. Por outro lado, ela não é atrativa para quem espera por retornos mais rápidos, que poderá encontrar mais vantagem em investimentos com alíquotas menores no curto prazo.

Por esse motivo, a previdência não é vista como um produto competitivo absoluto, diz Ângelo. “A gente entende que a previdência é um complemento entre as opções de investimento dos trabalhadores brasileiros que têm a possibilidade de guardar recursos.”

Para o assessor de investimento e colunista da Folha de S.Paulo Michael Viriato, a previdência privada é um excelente instrumento de acumulação, e entre as principais vantagens estão os benefícios fiscais e de facilidade na sucessão de bens.

“Para aproveitamento do benefício fiscal, é importante considerar alguns critérios: o primeiro é o tempo.”

Por exemplo, para quem escolhe a tributação pela tabela regressiva, a alíquota do IR (Imposto de Renda) diminui de acordo com o tempo em que os recursos permanecem aplicados. Se o saque for feito após dez anos, a alíquota é de 10%. Quando o saque é feito em até dois anos, sobe para 35%. Outros tipos de investimento possuem percentuais de IR que variam entre 15% e 27,5%.

Há também a opção da tributação progressiva, que começa em 7,5% e pode chegar a 27,5%, além da parcela a deduzir de cada faixa. Nesse caso, a porcentagem varia de acordo com a renda do investidor.

Walter Mendes, presidente da Vivest, diz que a consciência sobre a importância de garantir um complemento à aposentadoria oficial ainda não é generalizada no país, devido à carência de educação financeira e à instabilidade econômica das últimas décadas.

“O trabalhador só costuma pensar na aposentadoria quando está próxima, quando na realidade a poupança previdenciária é algo a ser construído ao longo do tempo.”

Preocupada em ensinar os filhos e os netos sobre a importância desse planejamento, a pesquisadora e doutora em educação financeira Rosa Vilches, 61 anos, decidiu dar o exemplo. Atualmente, ela investe em três planos de previdência privada, modalidade que escolheu por sentir mais segurança.

Das três apólices, uma foi contratada para ela mesma, que sonha em realizar uma festa de aniversário quando chegar aos 100 anos de idade. As outras duas são para os netos, ambos com três anos de idade.

“Além de garantir uma melhor estrutura para quando eles forem adultos, o objetivo é ensiná-los a pensar no futuro. Por isso, preciso dar exemplo. Só posso educar se eu mostro isso com minhas atitudes.”

Opção para quem quer se aposentar e complementar a renda

Saber o que fazer quando o recurso for resgatado é também importante antes de aderir a um plano de previdência privada. Um dos objetivos buscados pelos investidores é contar com o dinheiro como um complemento à aposentadoria.

Para especialistas, a previdência é um produto interessante para quem está em busca deste objetivo.

Segundo Viriato, um trabalhador que começar a aplicar mensalmente R$ 4.000 em um plano VGBL (indicado, no geral, para contribuintes que fazem a declaração simplificada do IR) de renda fixa a partir dos 40 anos conseguirá se aposentar aos 65 anos com uma renda extra de R$ 10 mil por mês.

“Para o caso do investimento na aposentadoria com prazo de acumulação de 25 anos, a vantagem da previdência é grande. Há uma economia de Imposto de Renda e há o ganho pela ausência de come-cotas [antecipação semestral do IR sobre rendimento de fundos de renda fixa, multimercados e cambiais].”

Em um investimento de longo prazo, o retorno é maior para um plano VGBL de renda fixa, que rende IPCA mais 6% ao ano, do que um fundo com o mesmo tipo de retorno.

“Assumi que o IPCA mais 6% ao ano equivale a um retorno esperado de 12% ao ano. Poupando R$ 4.000 por mês em VGBL com esta rentabilidade, o investidor terá o necessário para se aposentar com R$ 10 mil a valores de hoje.”

Para pagar a faculdade dos filhos, previdência não costuma ser a melhor opção Se o objetivo é poupar dinheiro para pagar a faculdade dos filhos, a previdência talvez não seja a melhor opção, afirma Cintia Senna, educadora financeira da DSOP.

Novamente, é preciso considerar o quesito ‘tempo’ para avaliar se é um bom negócio.

Considere o caso de pais que desejam fazer um investimento para pagar seis anos de faculdade do filho, ao preço estimado de R$ 7.000 por mês.

Em uma simulação, para conseguir pagar essa mensalidade de R$ 7.000 por mês ao longo de seis anos seria necessário acumular uma quantia próxima de R$ 504 mil, desconsiderando a inflação do período e o Imposto de Renda.

Para obter essa quantia seria necessário fazer uma aplicação mensal de R$ 820,23, pelo período de 18 anos, considerando um rendimento de 0,85% ao mês, estimativa feita com com base nas taxas praticadas atualmente no mercado.

Segundo a educadora financeira, devido ao impacto do IR que seria cobrado sobre o valor total aplicado, mais a taxa de administração, outros tipos de aplicação seriam mais indicados para esse objetivo. Dentre as sugestões estão fundos de investimentos de renda fixa, CDBs, Tesouro Direto (Tesouro IPCA), LCI e LCA entre outros.

Produto é indicado para plano de sucessão de bens

A previdência privada é indicada para quem faz o planejamento sucessório de bens. Neste caso, o plano mais indicado seria o VGBL, no qual o IR incidirá apenas sobre o montante que render, e não sobre todo o valor investido.

A DSOP fez uma simulação com um homem de 70 anos que planeja deixar parte da herança aos netos. Considerando que ele tenha patrimônio de R$ 5 milhões e deixe esse valor aplicado por um ano -utilizando a tabela progressiva– teria uma alíquota de 27,5% sobre o que rendeu. Neste caso, a base é o valor que rendeu para cada um dos netos, se for mais de dez netos, a alíquota pode cair para 22,5%. Já se fosse considerada a tabela regressiva, a alíquota seria de 35%.

Além da questão fiscal, o plano de previdência é interessante neste caso já que o valor aplicado não passa por inventário.

Outra vantagem é que os avós conseguem definir o percentual que cada neto poderá receber. Ou seja, serve como se fosse o testamento.

“É interessante observar que os valores definidos em previdência privada, a depender do estado, são livres do ITCMD [Imposto sobre Transmissão Causa Mortis e Doação de Quaisquer bens ou Direitos]”, diz Cintia.

Se o objetivo for uma viagem, a previdência não costuma ser vantajosa No caso de um estudante de 18 anos que sonhe em realizar uma viagem sabática quando chegar aos 35, a previdência privada também não se mostra a opção mais interessante.

Se o objetivo é acumular R$ 100 mil para passar 12 meses viajando (considerando que, para isso, ele gaste em média US$ 50 por dia), ele precisaria investir mensalmente R$ 227,20 durante os 17 anos (204 meses) considerando um rendimento de 0,85% ao mês.

No final do contrato, o investidor teria acumulado R$ 123.542,20. No momento do resgate, ele terá um Imposto de Renda de R$ 23.541,79 na tabela progressiva, ficando com o valor necessário para realizar a viagem.

“Se por outro lado, em vez de utilizar a previdência, usasse um CDB, um Título do Tesouro Direto, considerando a mesma rentabilidade, ela precisaria poupar e investir todos os meses o equivalente a R$ 202,92”, diz Cintia.

Caso tivesse optado por um investimento em renda fixa, ele teria uma alíquota de IR menor (15%), valor que seria retirado apenas sobre o que rendeu e não no valor total.

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