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Economia

Presidente do IBGE defende receita ousada para recuperação econômica em dois anos

Arquivo Geral

14/09/2016 17h43

Rose Brinck/Divulgação

Jorge Eduardo Antunes
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Enfrentar a questão dos juros altos cobrados pelos bancos, promover um choque tributário e uma reforma previdenciária urgentes, “para conduzir o País a um novo capitalismo antes que se eleja um socialismo novo e pior em 2018”. Essa é a receita apresentada pelo presidente do Instituo Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o economista Paulo Rabello de Castro, aos membros do Lide Brasília, grupo de empresários de alto faturamento, comandado pelo empresário e ex-senador Paulo Octavio.

Rose Brinck/Divulgação

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Em palestra de uma hora e meia, Rabello de Castro desfilou teorias econômicas ousadas e disse que o presidente da República, Michel Temer, tem todos os meios para uma virada econômica que classificou como “espetacular”, a ser feita em dois anos, desde que tenha “um espírito de JK para reger a orquestra”. O evento também teve a presença dos deputados federais Izalci Lucas (PSDB-DF) e Alex Canziani (PTB-PR) e dos distritais Agaciel Maia (PTC) e Sandra Faraj (SD).

Defendendo setores e espaços mais dinâmicos, queda dos juros, choque tributário e novo pacto federativo, Rabello de Castro disse que é inadmissível o País possuir reservas internacionais na casa dos US$ 300 bilhões e enfrentar solavancos econômicos como o atual, com retração de 7% na economia em dois anos. Ele atacou o gigantismo do estado, defendeu a PEC 241, que limita o teto de gastos das contas públicas, alertando que não pode ser a única medida para frear os custos, e disse que embora o tempo, que chamou de o maior recurso para sair da crise, seja escasso, a oportunidade de superar o atual quadro em dois anos é excelente.

Empossado em junho no IBGE, após ter seu nome ventilado para a pasta do Planejamento, Rabello de Castro disse que há sinais equivocados na atual crise brasileira, mesmo diante do déficit primário na casa dos R$ 170 bilhões, como prevê o orçamento deste ano. Ele identifica como um fator pior para a economia o déficit financeiro de R$ 503 bilhões do ano passado, proveniente em especial da dívida pública, gerada em parte pelos juros altos. Mas acredita que o País tem todas as chances de superar a crise em pouco tempo. “O Brasil sai dessa na hora que quiser, e o sacrifício não precisa ser tão grande assim. Basta fazer a coisa certa”, avalia.

Uma das medidas para “fazer a coisa certa”, segundo ele, é o enfrentamento das altas taxas de juros praticadas no País. “Se não acertarmos na macroeconomia, não tem jeito. E os juros do Brasil são os mais altos do mundo. Juro alto não detém a inflação. Isso é um mito. Enquanto não enfrentarmos isso, continuaremos pagando somas vultosas de juros na nossa dívida interna”, disse. “Em 23 anos, o juro no Brasil nunca foi normal. Fora o período de Armínio Fraga à frente do Banco Central, os brasileiros pagaram juros caros, que só sustentaram a dívida interna. E, com isso, fica sempre a impressão de que não estamos vendendo a riqueza brasileira pelo preço certo”, avaliou.

Para o economista, Michel Temer tem todos os meios para uma mudança radical e vitoriosa na economia. “Quem administrou o PMDB, com todas as suas particularidades, por 16 anos, pode administrar qualquer coisa. Temer é uma pessoa adequada para o cargo”, disse. Mas alertou que o presidente precisa entregar à nação a estabilização da economia, com crescimento. “Para isso, é preciso reincorporar o espírito de JK, mesmo inflacionando um pouco”, avisou. E disse que sem planejar adequadamente e sem avaliar o entorno econômico e financeiro, o Brasil corre o risco de ver surgir novos projetos econômicos equivocados.

“Lula saiu devendo, por estimular o consumo e deixar o investimento capenga em sua presidência. A aposta no petróleo também foi equivocada, com a criação de fundos para despesas permanentes baseados em verbas incertas. Com o petróleo e o dólar em trajetórias opostas, tivemos um duplo tranco em 2014, com a queda à metade da cotação do primeiro e o ajuste cambial. Os dados chegaram tarde, e Dilma acabou vencendo para perder depois, com o fim do superaquecido período das commodities, entre 2003 e 2014, que fez Lula surfar em uma onda favorável”, exemplificou. Agora, com o que chamou de alinhamento cambial nos patamares de R$ 3,30 do dólar, o Brasil acabou por colher uma queda drástica na renda salarial e uma alta no desemprego, cujo cálculo o IBGE pretende ampliar nos próximos meses.

“Vamos aumentar o espectro dos índices de desemprego, para anunciar em 13 de outubro os números do desemprego amplo, que incluem na conta aqueles que estão fora do mercado de trabalho e que desistiram de voltar a integrar a força de trabalho, hoje excluídos das contas”, alertou, avisando ainda que Temer não tem responsabilidade se houver crescimento das bases, que hoje giram em torno dos 11,6%. “Isso é uma herança do trem descarrilado que nos trouxe até aqui”, acrescentou.

Classificando como “manicômio tributário” o arcabouço de impostos, taxas e contribuições do País, ele defendeu também que sejam olhados com atenção os programas de economistas mais antigos, como Roberto Campos e Octávio Gouveia de Bulhões, acreditando que destravar a poupança, o FGTS e o FAT, entre outros mecanismos, pode levar a mais crescimento. “É preciso um choque tributário, uma reforma da previdência, tornando-a mais atraente aos novos contribuintes, e a preparação de áreas para serem vendidas a bom preço. Precisamos de um novo capitalismo, antes que, em 2018, se eleja um novo e pior socialismo”, concluiu.

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