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Economia

População enfrenta dificuldades para pagar contas de luz mesmo com a bandeira verde

Os preços subiram e o povo se complicou com dívidas, mas para muitos as dificuldades não se encerraram com o fim da cobrança da bandeira escassez hídrica

Redação Jornal de Brasília

18/05/2022 16h18

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Henrique Sucena
(Jornal de Brasília / Agência de Notícias CEUB)

Mesmo após o Governo Federal declarar bandeira verde na conta de luz a partir do mês de abril, boa parte da população ainda enfrenta problemas para poder manter os pagamentos em dia. A criação das taxas foi para compensar o custo extra não pago de 2021, quando o país enfrentou uma grave crise energética. Os preços subiram e o povo se complicou com dívidas, mas para muitos as dificuldades não se encerraram com o fim da cobrança da bandeira escassez hídrica na conta de energia elétrica.

Como afeta a população

Com os problemas econômicos agravados no país nos últimos anos, principalmente durante o período de pandemia, tem sido cada vez mais difícil se manter em dia com as contas de luz. Moradora de Samambaia, uma aposentada que preferiu se identificar apenas como Angelita diz mora com três outras pessoas em sua residência. Ela diz gastar por volta de R$ 120 com a conta de luz.

Situação parecida ocorre com o estudante Natanael Felipe, de 19 anos. Atualmente, o jovem está desempregado e apesar de não ser o único dos quatro residentes de sua casa a pagar a conta de luz, ele costuma ajudar o restante da família com o que pode. Mas as contas têm se mostrado cada vez maiores.

Emily dos Santos, de 18 anos, é outra jovem que já começa a se preocupar com os gastos de energia. Estagiária, Emily mora com outros quatro familiares e ajuda nas contas da casa. Com família maior que os outros entrevistados, ela conta que gasta até 150 reais mensais na conta. Preocupada com a situação, ela afirma que a família costuma deixar eletrônicos como micro-ondas e secadores de cabelo fora das tomadas para tentar economizar.

Os três entrevistados, assim como diversos outros brasilienses, tentam mensalmente economizar energia para diminuir as contas de suas famílias. Nenhum dos três tinha conhecimento sobre a aplicação das bandeiras verdes que foi instaurada no último mês. Apesar da ajuda extra, a necessidade de economia elétrica não deve desaparecer.

Peculiar

 O economista William Baghdassarian considera que a conta elétrica para famílias é bastante peculiar. Ele explica que existem alguns itens que a gente consome independente do preço e existem alguns itens que a gente consome menos quando os preços sobem.

As contas, como a de energia, são um exemplo de algo que continuamos consumindo mesmo com o aumento do preço. Mesmo economizando, é normal que o consumo não varie drasticamente. Porém, com a pandemia, as pessoas passaram mais tempo em casa nos últimos dois anos e com isso não só o preço mas também o consumo aumentou.

“Tem que se lembrar que o preço da energia também subiu bastante ano passado por conta da bandeira tarifária. A gente passou muito tempo em seca, houve um risco de desabastecimento de energia e por isso o governo aumentou a bandeira tarifária, se eu não estou enganado eram 14 reais a mais a cada 100 MW, e isso fez com que a conta subisse. A lógica disso é tentar fazer com que o aumento seja tão grande que as pessoas se incomodem e acabem alterando seu padrão de consumo.”

Peso imenso

O peso dessas contas sobre as famílias acaba sendo imenso. O economista diz que muitas das usinas elétricas e termelétricas são movidas a óleo ou a gás natural que é muito ligado ao petróleo e ao dólar também. Então o aumento do preço da moeda americana acaba causando problemas nos bolsos brasileiros também.

Em 2022, com a Guerra entre Ucrânia e Rússia, os preços de produtos produzidos nos locais como petróleo e gás natural aumentam e com isso se cria uma necessidade de buscar novas matrizes energéticas para suprir as demandas e equilibrar os preços.

O economista diz que a renda das famílias não está subindo na mesma proporção nem do dólar nem do IGPM. “Se a gente pegar em 2019 o salário mínimo estava por volta de R$ 998 e hoje ele é 1200. Na prática isso significa o empobrecimento das pessoas. Com a mesma renda se consome menos do que com a renda anterior, principalmente produtos que são inelásticos. Se eu não posso mudar meu consumo de energia, eu acabo tendo que consumir a mesma quantidade por um preço maior e me impede de consumir algo como um chocolate ou uma cerveja.”

Efeitos

Os efeitos da pandemia do Covid-19 chegaram aos preços da conta de luz e o ano de 2021 viu recordes de atrasos nos pagamentos. Por um período, foi proibido pela Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) o corte de energia em domicílios brasileiros. Porém, com o fim da proibição, os casos de inadimplência em relação aos pagamentos e, consequentemente, os cortes de energia voltaram a aumentar.

William Baghdassarian explica que essa situação atípica da pandemia se mostra problemática uma vez que muda o padrão de consumo. Com mais tempo em casa se aumenta o consumo de eletrônicos e consequentemente os preços. A economia de energia se mostra mais difícil quando se tem a necessidade de trabalhar remotamente por meio da internet e assim as pessoas se veem obrigadas a aumentar seu consumo.

Em relação ao que se pode esperar para os próximos meses, o economista diz que vê a pandemia perto do fim. Os movimentos do mercado pós-pandemia são difíceis de prever mas a previsão de William não é a mais otimista:

“Em termos de probabilidade, eu acho que é mais possível a gente ter aumentos no preço da energia elétrica do que reduções. A guerra na Ucrânia ainda não acabou. Muito pelo contrário, é uma guerra que tende a permanecer por uns meses. Isso deve trazer pressão tanto sobre a taxa de câmbio quanto sobre o preço dos derivados de petróleo e gás natural. Isso pressiona as usinas termelétricas.”

Ele contextualiza que uma boa notícia é que existem também novas matrizes sendo instaladas no Brasil a todo momento que, ao longo do tempo, devem gerar uma redução de consumo dessas fontes de energia movidas a gás ou óleo em favor de outras menos poluidoras e mais baratas. Então essa maior oferta de energia deve trazer uma pressão sobre o preço.

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