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Economia

Petrobras limita perda após reunião Lula-Prates; Ibovespa cai 0,26% e dólar sobe 0,96%

Em margem estreita, entre 125.059,77 (-0,71%) e 125.957,06 pontos – uma variação de pouco menos de 900 pontos da mínima à máxima

Redação Jornal de Brasília

21/11/2023 18h50

Após quatro altas consecutivas, o Ibovespa conseguiu defender a linha dos 125 mil pontos na sessão, ainda que em viés negativo desde a abertura do dia. Em margem estreita, entre 125.059,77 (-0,71%) e 125.957,06 pontos – uma variação de pouco menos de 900 pontos da mínima à máxima -, o índice da B3 fechou em leve baixa de 0,26%, aos 125.626,03 pontos, com giro financeiro a R$ 22,6 bilhões. Na semana, ainda sobe 0,68%, com ganho no mês de 11,03% e, no ano, de 14,48%.

Com avanço de quase 2% nos preços do minério de ferro na China (Dalian) na terça-feira, Vale (ON +2,42%) voltou a ser destaque como ontem, acumulando ganho de 4,93% nessas duas primeiras sessões da semana. Em recuperação, “as altas recentes no minério de ferro na China têm trazido fluxo comprador para as ações de Vale e demais empresas do setor”, diz Matheus Sanches, sócio e analista da Ticker Research. Dessa forma, CSN Mineração (+2,60%), Bradespar (+2,51%), Vale e Gerdau (+1,65%) ocuparam o topo do Ibovespa na sessão, junto de Marfrig (+1,93%).

Além disso, “alguns bancos internacionais têm elevado a recomendação para Vale, de ‘neutra’ para ‘compra’, o que também traz fluxo para o papel, assim como a data para dividendos, hoje”, diz Lucca Ramos, sócio da One Investimentos.

A Vale confirmou os valores dos proventos a serem pagos em 1º de dezembro, de R$ 1,565890809 por ação como dividendos e R$ 0,765770758 por ação como juros sobre o capital próprio (JCP), totalizando R$ 2,331661567 por ação. Os valores tinham sido comunicados no dia 26 de outubro e não sofreram alteração porque não houve mudança do número de papéis em circulação. As ações passam a ser negociadas ‘ex-direito’ a partir de amanhã.

Por outro lado, a outra gigante das commodities, Petrobras, cedeu terreno nesta terça-feira devido a preocupações em torno da permanência, ou não, de Jean Paul Prates no comando da estatal, em meio ao que seriam pressões no governo quanto à orientação da empresa. Hoje, Petrobras ON e PN caíram, respectivamente, 0,99% e 0,65%, moderando as perdas após a reunião de Prates com o presidente Lula.

“A semana, mais curta nos Estados Unidos com o feriado de Ação de Graças na quinta-feira, tende a ser tranquila. Mas, no plano doméstico, há muita atenção sobre a possibilidade de troca na Petrobras, com a eventual saída do Prates”, diz Rose Duarte, analista da Toro Investimentos. “O governo busca que a Petrobras gere mais contratações na construção de embarcações para a própria empresa e retome atuação em fertilizantes, em que o Brasil ainda depende muito da importação do insumo para o agro”, acrescenta.

Outro ponto de pressão sobre Prates – que esteve reunido com o presidente Lula e ministros, em Brasília, nesta tarde – teria relação com a política de preços para os combustíveis. “Não acreditamos que seria tomada uma medida drástica, como mudar o comando da Petrobras, por pouca coisa. Rumores sobre alterações no cargo são bem frequentes, e esse deve ser mais um desses casos”, observa o analista Mateus Haag, da Guide Investimentos, com o argumento de que a diferença entre os preços internacional e doméstico está bem reduzida no momento.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que participou de reunião no Palácio do Planalto com Prates, disse que, no encontro, tratou-se de discutir o cronograma de investimentos da Petrobras. Também estiveram presentes os ministros Rui Costa (Casa Civil) e Alexandre Silveira (Minas e Energia). Questionado se houve discussão sobre preço de combustíveis, Haddad negou. “Foi tratado de cronograma de investimento”, afirmou ao retornar ao Ministério da Fazenda.

Depois da reunião, Prates também negou ter havido pedido do governo para baixar os preços dos combustíveis. “Isso não funciona assim, não existe pedido nesse sentido”, disse o presidente da Petrobras. “Seguramos um tempo, com estabilidade, em período de muita oscilação”, acrescentou.

Além de Petrobras, outro carro-chefe do Ibovespa, o setor de grandes bancos, também encerrou o dia predominantemente em baixa, à exceção de Banco do Brasil (ON +0,71%). Na ponta perdedora do índice, Magazine Luiza (-6,58%), MRV (-5,74%) e Eztec (-5,06%). “A abertura na curva de juros resultou em um movimento maior de correção nas ações de menor liquidez, as small caps, e também nas de varejo, que vinham em recuperação nas sessões anteriores, com o Ibovespa em ajuste natural hoje após tantas altas”, diz Ramos, da One Investimentos.

Destaque na agenda desta terça-feira, tanto o Ibovespa como os índices de ações em Nova York operaram com pouca volatilidade até a divulgação, no fim da tarde, da ata da mais recente reunião de política monetária do Federal Reserve – e assim se mantiveram, uma vez conhecido o teor do documento, sem surpresas

Os dirigentes do Federal Reserve avaliaram, na ata, que a posição atual da política monetária já está restritiva e que será apropriado mantê-la assim por “algum tempo”. Observaram também que as condições financeiras foram apertadas “bastante” nos últimos meses, o que pressiona a atividade e a inflação, apesar de a extensão ser incerta. Alertaram que mais aperto na política monetária pode ser apropriado, caso o ajuste da inflação se mostre insuficiente. E indicaram que, apesar de a inflação ter moderado no último ano, segue alta, de forma que são necessárias mais provas de que esteja desacelerando para a meta de 2%.

Para o BMO Capital Markets, a ata do Fed foi “cautelosamente hawkish” – em particular, o trecho que reforça o compromisso de juros restritivos “por algum tempo”.

Aqui, “no cenário político, uma boa notícia é que a tese de manter o déficit zerado em 2024 vem ganhando adesões, e só será alterada, se necessário, ao longo do ano. Com isso, inevitável será o contingenciamento de despesas, previsto entre R$ 22 bi e R$ 23 bilhões”, aponta Julio Hegedus Netto, economista da Mirae Asset. Assim, as atenções devem se voltar, com o tempo, às áreas do orçamento federal que podem ser mais afetadas.

O relator da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2024, deputado Danilo Forte (União-CE), quer blindar o agronegócio de eventuais bloqueios de gastos no próximo ano. Dentre as áreas listadas pelo relator estão o Seguro Rural, verbas da Embrapa ligadas à pesquisa e ao desenvolvimento, defesa agropecuária e assistência técnica e extensão rural, que são ligadas ao Pronaf (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar). “Muitas vezes a safra não pode esperar”, disse Forte, durante apresentação na sede da Frente Parlamentar do Empreendedorismo (FPE).

Em entrevista coletiva na tarde de hoje para apresentação do Boletim Macrofiscal, o secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Guilherme Mello, afirmou que o objetivo de zerar o déficit primário em 2024 não é um “capricho”, e que a meta deriva do entendimento da equipe econômica de que é possível recompor a base fiscal do País sem distorcer o sistema tributário.

Também nesta tarde, durante participação em evento em Brasília, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, reiterou haver “possibilidade grande” de a inflação ficar dentro da meta neste e no próximo ano. “A inflação está convergindo, os dois últimos boletins de projeções do mercado foram bons, os núcleos de serviços tiveram comportamento bom. Preços administrados mostraram um pouco de volatilidade, mas isso está relacionado ao preço do petróleo”, disse.

Ele mencionou também que a continuidade da queda da Selic não deve afetar o câmbio. De acordo com o presidente do BC, o diferencial de juros no Brasil ainda é bastante elevado na comparação com a taxa dos Estados Unidos, que está perto de suas máximas históricas.

Dólar

O dólar à vista encerrou a sessão desta terça-feira, 21, em alta de 0,96%, cotado a R$ 4,8983, após ter registrado máxima a R$ 4,9090 à tarde, quando houve uma piora do sentimento de risco no exterior. Com o avanço de hoje, o dólar anulou boa parte das perdas de ontem, quando desceu até o nível de R$ 4,85 e fechou no menor patamar desde 2 de agosto.

Os picos da moeda à tarde vieram com nova rodada de estresse no mercado de renda fixa americana. Leilão títulos públicos atrelados à inflação (Tips) de 10 anos com demanda abaixo da média levou a uma escalada momentânea das taxas dos Treasuries longos, o que abalou as bolsas em Nova York e as divisas emergentes.

Termômetro do comportamento do dólar em relação a seis divisas fortes, o índice DXY, que já operava em alta firme, chegou a superar pontualmente a linha dos 103,700 pontos após às 16h, com a divulgação da ata encontro de política monetária do Federal Reserve (Fed, o BC dos EUA) em 1º de novembro. Em seguida, contudo, o Dollar Index reduziu o ritmo de alta e passou a operar abaixo dos 103,600 pontos. Além disso, as taxas dos Treasuries longos trocaram de sinal, apresentando leve queda. Esse pacote reduziu a pressão sobre o real nos minutos finais da sessão e fez o dólar fechar abaixo de R$ 4,90.

Na ata, dirigentes do Fed reforçam que é preciso manter a política monetária em campo restritivo por “algum tempo” e que houve um aperto das condições financeiras nos últimos meses, em razão da alta das taxas dos Treasuries mais longos. Não faltaram os alertas de praxe à busca pela meta de inflação e à eventual necessidade de alta adicional dos juros caso o processo de desinflação não ocorra como o esperado.

Para o economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Nicolas Borsoi, a ata apresentou um “tom cauteloso” ao sugerir espaço para mais aperto monetário. “Apesar disso, não projeto novas altas de juros. Através do tom conservador da ata, o Fed busca manter as taxas de juros em níveis restritivos, impedindo um alívio das condições financeiras, o que frustraria a desinflação atual”, afirma Borsoi, em nota.

Segundo o chefe da mesa de operações do C6 Bank, Felipe Garcia, a alta do dólar no mercado doméstico hoje reflete o avanço da moeda americana no exterior, em especial na comparação com divisas emergentes. “Tivemos uma melhora na semana passada com os dados de inflação americana e atividade se acomodando. Hoje temos um dia de risk off lá fora, com o mercado ‘realizando’ um pouco dos ganhos”, afirma Garcia, ressaltando que uma ala relevante do mercado não apenas descartou uma alta adicional dos juros nos EUA neste ano como passou a projetar início de ciclo de cortes ainda no primeiro semestre de 2024.

Com as atenções voltadas para o exterior, o andamento da pauta econômica no Congresso foi apenas monitorado. Previstas inicialmente para hoje, foram adiadas para amanhã as votações dos projetos de lei dos fundos exclusivos e offshore e das apostas esportivas na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado. São dois dos projetos da equipe econômica para ampliar a arrecadação e cumprir a meta fiscal de déficit primário zero em 2024.

No evento “Fórum de Brasília”, organizado pela Arko Advice, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse que os esforços do governo na área fiscal têm contribuído para a gestão da política monetária. Segundo Campos neto, a continuidade de cortes da taxa Selic não deve afetar o câmbio, dado que o diferencial de juros entre Brasil e Estados Unidos continuará elevado.

Juros

Os juros futuros fecharam a sessão em alta, dando sequência ao movimento de realização de lucros iniciado ontem. Fatores internos pesaram na primeira parte dos negócios e à tarde a piora do ambiente externo ampliou o fôlego de avanço das taxas. Os rendimentos dos Treasuries de longo prazo se firmaram em alta, assim como o dólar se fortaleceu, com a mensagem da ata do Federal Reserve e um leilão de títulos pelo Tesouro americano com demanda abaixo da média.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 fechou em 10,575%, de 10,475% ontem, e o DI para janeiro de 2026 avançou a 10,33%, de 10,19% ontem. O DI para janeiro de 2027 terminou com taxa de 10,45% (de 10,31% ontem) e a do DI para janeiro de 2029 subiu de 10,71% para 10,84%.

Até o meio da tarde, o noticiário local era fator determinante a conduzir a curva. Mais Estados decidiram elevar a alíquota modal do ICMS para garantir maior receita na distribuição do Imposto sobre Bens e Serviços (IBS), o que pressionou não somente o DI mas também as taxas de inflação implícita das NTN-B no mercado secundário.

“Isso traz mais incerteza para o quadro inflacionário”, explica o economista-chefe do Banco Bmg, Flávio Serrano. “Enquanto a decisão se restringia a Estados do Nordeste, o impacto não era tão grande, mas agora vemos outros, mais parrudos, em processo de adesão”, explica.

Após o Rio Grande do Sul ter proposto aumentar a alíquota de 17% para 19,5%, outros cinco Estados das regiões Sul e Sudeste seguiram o mesmo caminho, conforme carta assinada pelos secretários da Fazenda de São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Minas Gerais e Paraná, além do próprio Rio Grande do Sul. O texto indica ainda que os Estados do Centro-Oeste devem seguir pelo mesmo caminho.

A partir do meio da tarde, as taxas locais renovaram máximas alinhadas ao fortalecimento do dólar e à consolidação dos rendimentos dos Treasuries longos em alta. O impulso veio inicialmente do leilão de US$ 15 bilhões em títulos atrelados à inflação (Tips) de 10 anos realizado pelo Tesouro dos Estados Unidos, que teve demanda abaixo da média, e depois da leitura da ata do Fed, cujo tom foi considerado levemente hawkish.

No documento, os dirigentes reforçaram a necessidade de manter a política restritiva por algum tempo e que é necessário haver mais provas de que a inflação esteja caindo a 2%, sugerindo que um alívio ainda deve demorar.

Para o economista-chefe da Traad, Leonardo Cappa, a ata deixa claro que um ciclo de corte de juros não está no horizonte de curto prazo da instituição e a precificação da curva, que mostra 59% de chances de queda em maio, é otimista. “A barra para reduzir juros no primeiro trimestre é alta. Para o Fed indicar quando vai começar a cortar, é necessário que os núcleos de inflação estejam abaixo de 3%”, avalia. O núcleo do índice de preços ao consumidor (CPI, em inglês), em 12 meses, em outubro ficou em 4%.

Para ele, a curva local tem espaço para uma correção, considerando o expressivo alívio nos prêmios visto na semana passada, que levou o mercado a precificar Selic terminal abaixo de 10,00%. “Depois desse rali, o mercado cansou um pouco”, comentou.

Os eventos em Brasília foram monitorados, em especial a reunião do presidente Lula com o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, em meio a ruídos de pressão para sua saída. No fim da tarde, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que o propósito do encontro foi tratar do cronograma de investimentos

Já a votação do projeto de lei de taxação das offshores e dos fundos exclusivos foi adiada para amanhã na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), após concessão de pedido de vista.

Estadão Conteúdo

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