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Economia

No Pantanal, rio Paraguai chega a 1 cm da seca recorde

A seca histórica praticamente inviabilizou a navegação de grandes embarcações, que escoam minério e outros produtos da região

FolhaPress

25/10/2021 16h59

Foto: Reprodução/TV

Fabiano Maisonnave
MANAUS, AM

Principal curso d’água do Pantanal, o rio Paraguai registrou o segundo menor nível em 121 anos de medição, na cidade de Ladário (MS). A seca histórica praticamente inviabilizou a navegação de grandes embarcações, que escoam minério e outros produtos da região.

No último dia 16, a estação de Ladário, a 426 km a oeste de Campo Grande, marcou -60 cm. Desde 1900, o nível do rio Paraguai só esteve mais seco em setembro de 1964, quando chegou a -61 cm. A informação é do Centro de Hidrografia e Navegação do Oeste, da Marinha.

Os valores negativos das medições se devem ao fato de a primeira régua instalada em Ladário, há 121 anos, acabar fora da água em períodos de nível baixo. Na época, estimou-se que o nível não desceria mais do que aquele valor, mas isso aconteceu já alguns anos depois, em 1910.

“São quase três anos sem o transbordamento do rio Paraguai, o evento clássico da região”, afirma o pesquisador Marcelo Henriques, do Serviço Geológico do Brasil (SGB/CPRM), órgão do governo federal responsável pelo monitoramento da vazão dos rios.

Com o início do período de chuvas neste mês, o SGB projeta uma tendência de estabilização seguida de elevação do nível da água na maioria das estações de medição ao longo das próximas semanas. Nesta sexta-feira (22), o nível do rio Paraguai estava um pouco mais alto em Ladário, -55 cm.

Há incertezas, no entanto, sobre o volume de chuvas para os próximos meses. A Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos (NOAA), órgão do governo americano, estima que há 87% de chances de que o fenômeno La Niña (resfriamento das águas do Pacífico) continue entre dezembro e fevereiro de 2022.

Para o Brasil, isso deve significar mais chuvas no Norte e menos precipitação no Sul. O impacto no Centro-Oeste é mais imprevisível. Em nota à imprensa, o governo de Mato Grosso do Sul avalia que choverá menos apenas no sul do estado, ou seja, não afetaria o Pantanal.

O rio Paraguai nasce perto de Diamantino, a 180 km ao norte de Cuiabá, uma área de intensa atividade agropecuária, o que pressiona as nascentes. Ao todo, possui uma extensão de 2.621 km. Sua bacia inclui também Bolívia, Paraguai e Argentina.

No final de agosto, a Folha de S.Paulo cruzou o Paraguai em Barra do Bugres (167 km de Cuiabá). O nível estava tão baixo que as pessoas cruzavam a pé, com a água abaixo da cintura, até uma ilha de areia no meio do leito. Moradores disseram que nunca haviam visto o rio com tão pouca água naquele trecho.

A partir de Cáceres (MT), já no Pantanal, o rio funciona como hidrovia, com vários terminais portuários, incluindo o da empresa Vale, em Corumbá (MS), usado para embarcar minérios. Sem o rio, a BR-262 passou a receber mais fluxo de caminhões. Procurada pela Folha, a empresa não se manifestou sobre o impacto da seca em suas operações.

Para a Bolívia, a situação é ainda mais dramática, já que o rio Paraguai é o único acesso soberano do país ao mar. Desde o início de setembro, o canal Tamengo, que liga os terminais portuários ao rio, na região de Corumbá, está inoperável para embarcações de transporte fluvial.

Segundo o especialista em Logística Fluvial Enrique Notta, da empresa multinacional InterBarge, a seca do rio Paraguai interrompeu uma trajetória de crescimento do uso do rio Paraguai iniciado em 2010, ano da inauguração da rodovia que liga essa região fronteiriça ao restante da Bolívia.

Desde 2010 até 2019, o fluxo passou de 750 mil toneladas para 2,1 milhões de toneladas no lado boliviano, principalmente derivados de soja e cimento. Em 2020, com o início da atual estiagem, houve uma redução de 50%, de acordo com Notta.

Neste ano, a tendência de queda continuou, com uma redução de 20% em relação a 2020. Assim como no Brasil, o escoamento passou a ser feito por meio rodoviário. Para o especialista boliviano, uma das soluções passa pela dragagem de trechos mais críticos do canal Tamengo e do rio Paraguai. “Contra a natureza, somos apenas seres humanos, mas podemos realizar certas obras que nos ajudem a mitigar esse impacto negativo para toda a região.”

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