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Economia

‘Inconsistências contábeis’ bilionárias nas Lojas Americanas sacodem o mercado

“Ao que tudo indica, estamos com um caso muito bem elaborado de falta de transparência em benefício da empresa e de seus acionistas”

Redação Jornal de Brasília

17/01/2023 18h25

Mauri Pimentel/ AFP

O anúncio de “inconsistências” de R$ 20 bilhões nas contas das Lojas Americanas, uma das maiores varejistas brasileiras, sacode a bolsa de valores e pode ter impacto em três dos homens mais ricos do país.

A gigante das vendas pela internet e em lojas físicas anunciou na última quarta-feira que detectou “inconsistências em lançamentos contábeis” que correspondem a operações de financiamentos de compras que “não se encontram refletidas adequadamente” em seus números.

Aparentemente, a empresa não contabilizou em seus balanços dívida com instituições financeiras contraída para pagar fornecedores, segundo o especialista em contabilidade Silas Degraf, professor da Universidade Santa Cruz de Curitiba (sul), em seu canal no YouTube. 

“Ao que tudo indica, estamos com um caso muito bem elaborado de falta de transparência em benefício da empresa e de seus acionistas”, disse à AFP Marcello Marin, diretor financeiro da Spot Finanças, especializada em contabilidade e gestão financeira.

“Não acredito em roubo em sua essência, mas sim em uma fraude para diminuir o endividamento da empresa e, consequentemente, aumentar o seu valor, assim os acionistas e a companhia ganham cada vez mais no mercado financeiro”, acrescentou Marin.

Anand Kishore, gestor dos fundos de investimento da Daycoval Asset, garantiu que a situação “não tem efeito caixa para as Lojas Americanas, mas deve ter efeito contábil no balanço”.

Donos bilionários

O escândalo levou à renúncia na quarta-feira do presidente da empresa, Sergio Rial, e de André Covre, diretor de Relações com Investidores, que haviam assumido seus cargos no último dia 2. Rial alegou que os números da empresa o impediam de executar seus planos de capitalização para saldar a dívida bruta da firma, que calculou entre 30 bilhões e 35 bilhões de reais.

Rial continuará como assessor de alguns acionistas, entre eles os bilionários Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Beto Sicupira, que possuem cerca de 30% da empresa por meio da sociedade de investimentos 3G Capital.

Os três estão entre os cinco brasileiros mais ricos de 2022, segundo a revista “Forbes”: Lemann é o primeiro, com um patrimônio de cerca de 14 bilhões de dólares; Telles é o terceiro, com US$ 9,3 bilhões; e Sicupira é o quarto, com US$ 7,7 bilhões. “Com certeza irá impactá-los, mas não deixarão de ser os mais ricos do país”, comentou Marin.

O escândalo nas Lojas Americanas levou a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), que regula o mercado de capitais, a abrir na última quinta-feira três processos administrativos “para esclarecer os fatos”, e a alertar para sanções contra os “eventuais responsáveis”.

Queda na bolsa e investigações

Em nome dos acionistas minoritários, a Associação Brasileira de Investidores (Abradin) prepara uma denúncia judicial, por considerar que os mesmos foram enganados.

“Essa situação afeta toda a economia nacional, porque mina a credibilidade do mercado de capitais brasileiro”, assinalou Aurélio Valporto, presidente da Abradin, em declarações publicadas ontem pelo jornal “O Globo”.

O Conselho de Administração da empresa, por sua vez, criou um comitê independente “para apurar as circunstâncias que ocasionaram as referidas inconsistências contábeis”.

Fundada em 1929, na cidade de Niterói, Rio de Janeiro, e presente no mercado digital desde 1999, as Lojas Americanas possuem 3.601 lojas em 900 cidades brasileiras e são listadas na B3. Um dia após o anúncio das inconsistências, a ação da empresa caiu 77%.

“A bolsa de São Paulo já não estava bem para passar por esse impacto sem sofrer. Ela já vinha caindo por conta de instabilidades, principalmente a entrada de um novo governo, com novos planos e tão diferente do anterior”, ressaltou Marin.

© Agence France-Presse

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