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Economia

Ibovespa fecha em baixa de 0,84%, mas tem 5ª semana de ganhos; dólar cai 0,17%

O dia, misto em Nova York nesta Black Friday de sessão tradicionalmente mais curta em Wall Street, foi de viés negativo

Redação Jornal de Brasília

24/11/2023 19h08

Foto: Divulgação

Apesar do ajuste negativo nesta sexta-feira, 24, na qual cedeu a linha dos 126 mil que havia sustentado nos dois fechamentos anteriores, o Ibovespa obteve o quinto ganho semanal consecutivo, em alta de 0,60% no intervalo iniciado na última segunda-feira. Hoje, o índice da B3 caiu 0,84%, aos 125.517,27 pontos, vindo de ganhos moderados na quarta e quinta-feira. Nesta sexta, o topo correspondeu ao nível de abertura, a 126 552,58 pontos, e na mínima o Ibovespa buscou os 125.341,01. No mês, o índice avança 10,94% e, no ano, ganha 14,38%.

O dia, misto em Nova York nesta Black Friday de sessão tradicionalmente mais curta em Wall Street, foi de viés negativo para as ações de maior peso e liquidez na B3 – exceção para Petrobras PN, em leve alta de 0,28% no fechamento, e ao fim também para Bradesco (ON +0,63%, PN +0,06%), estendendo assim os ganhos do dia anterior, com a troca de comando no banco. A ação de maior peso no Ibovespa, Vale ON, fechou hoje em baixa de 0,85%, em sessão negativa para o setor metálico como um todo, com Gerdau à frente (PN -4,00%, na mínima do dia no encerramento).

Na ponta perdedora do Ibovespa, Grupo Casas Bahia (-8,62%), Magazine Luiza (-8,29%) e Locaweb (-6,94%), com Gol (+4,00%), CVC (+2,46%) e Azul (+1,69%) no canto oposto. O giro financeiro desta sexta-feira na B3 ficou em R$ 17,1 bilhões.

Ações de empresas intensivas em mão de obra, como as de varejo, sentiram o efeito do veto do presidente Lula, por recomendação do ministro Fernando Haddad (Fazenda), ao projeto que estendia a desoneração da folha de pagamentos de 17 setores até 2027. Hoje, em entrevista pela manhã em São Paulo, Haddad disse que enviará em breve ao Congresso medidas que compensariam o fim da desoneração – que dessa forma acaba em 2023, após 12 anos em vigor. A iniciativa, lançada em 2011 no governo Dilma Rousseff, é considerada caso de sucesso na geração e manutenção de empregos.

O Congresso, a princípio, ameaçou derrubar o veto presidencial à proposta. Hoje, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), disse que a “desoneração já foi objeto de veto do governo anterior, e o Congresso derrubou o veto”.

“O fim da desoneração poderia ser visto até como positivo pelo lado fiscal, mas traz também ruído político que pode atrasar pautas importantes, de interesse do governo. Para a Bolsa, tende a ser questão com impacto tendendo a neutro, lembrando que o veto pode ser derrubado pelo Congresso”, diz Bruna Sene, analista da Nova Futura Investimentos. “Como um todo, o dia foi de agenda mais vazia, e já se esperava liquidez menor com as bolsas de Nova York operando em meio período nesta sexta-feira, após o feriado de ontem nos Estados Unidos”, acrescenta.

“Mercado teve uma leve correção hoje, o que é natural em processos de alta estruturados. É o que temos visto desde o início de novembro, muito por conta do alívio nas pressões internacionais. De abril a julho, Ibovespa avançou de forma muito positiva, e houve reversão entre agosto e outubro, em grande parte por conta dos juros de mercado nos Estados Unidos. Em novembro, e possivelmente já olhando para dezembro, vem nova recuperação, mas isso, claro, não ocorrerá de maneira linear”, diz Matheus Spiess, analista da Empiricus Research.

No quadro micro, a perda de fôlego em Petrobras levou o Ibovespa a renovar mínima do dia, à tarde, tendo contribuído, mais cedo, para mitigar as perdas do índice. Os preços do petróleo fecharam em baixa a sessão desta sexta-feira – volátil, mais curta e com liquidez limitada -, após o feriado de Ação de Graças nos EUA. A commodity também caiu no acumulado da semana, pressionada nos últimos dias pelo adiamento da reunião da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), que levantou dúvidas no mercado quanto a divisões internas no cartel sobre o nível adequado de produção e oferta do insumo.

O ajuste em Petrobras na sessão, contudo, veio com mais força em paralelo a comentários do presidente da estatal, Jean Paul Prates, que admitiu a possibilidade de a empresa recomprar a Rlam (Landulpho Alves), refinaria que havia sido vendida em 2021 Prates voltou a negar que exista pressão do governo para baixar o preço dos combustíveis – uma questão que o presidente Lula nesta semana, em encontro com autoridades da área, pediu para que seja tratada em privado pelo governo – ou que esteja para deixar o cargo.

Prates disse também que a companhia vai avaliar possibilidade de aquisição e desenvolvimento de projetos na Argentina, mas que, por ora, não há nada na mesa da estatal. A Petrobras mantém planta de processamento de gás de Vaca Muerta. “Tudo vai ser analisado, mas a gente não está procurando uma YPF Yacimientos Petrolíferos Fiscales, empresa argentina de óleo e gás”, disse Prates, ao ser questionado sobre investimentos no país vizinho, caso a política de privatizações do presidente eleito, Javier Milei, siga adiante.

Ontem à noite, a Petrobras anunciou o plano estratégico para o período 2024-2028, que terá investimento de US$ 102 bilhões, cifra que corresponde a R$ 500,8 bilhões. A principal novidade são os aportes em energias renováveis e descarbonização, US$ 11,5 bilhões. No plano estratégico, a estatal reduziu a previsão de pagamento de dividendos para US$ 40 bilhões a US$ 45 bilhões no período de 2024 a 2028. O valor dá conta, também, de valores previstos para recompra de ações.

O quadro das expectativas para as ações domésticas no curtíssimo prazo está bastante equilibrado no Termômetro Broadcast Bolsa desta sexta-feira. Entre os participantes, as expectativas de avanço, estabilidade e queda para o Ibovespa na próxima semana têm, cada uma, fatia de 33%. Na pesquisa da semana passada, 50,00% esperavam que a atual semana fosse de alta; 33,33%, de variação neutra; e 16,67%, de baixa.

Dólar

O dólar à vista encerrou a sessão desta sexta-feira, 24, em leve queda no mercado de câmbio doméstico, abaixo da linha de R$ 4,90, acompanhando a desvalorização da moeda americana no exterior em meio a indicadores abaixo do esperado da indústria nos EUA. Ruídos políticos e aumento da temperatura na relação entre Congresso e governo, após o presidente Lula vetar a prorrogação da desoneração da folha de pagamentos, foram monitorados, mas não tiveram impacto relevante na formação da taxa de câmbio.

Dado o pregão reduzido em Nova York nesta Black Friday, o mercado local trabalhou em ritmo lento. Com oscilação de pouco mais de dois centavos entre mínima (R$ 4,8831) e máxima (R$ 4,9068), o dólar à vista fechou em baixa de 0,17%, cotado a R$ 4,8984. Embora maior que ontem, quando não houve negócios nos mercados americanos em razão do Dia de Ação de Graças, a liquidez foi reduzida.

Na semana, o dólar à vista acumula leve desvalorização (-0,15%). Divisas latino-americanas pares do real apresentaram desempenho bem melhor, com ganho semanal de mais de 0,5% em relação à a moeda americana. Certo desconforto no campo fiscal, com aumento da previsão de déficit primário para 2023, e pressão sazonal de remessas ao exterior teriam impedido um voo mais alto do real nos últimos dias. No mês, o dólar caiu 2,84% em relação à moeda brasileira.

Termômetro do comportamento da moeda americana em relação a seis divisas fortes, em especial o euro, o índice DXY operava no fim da tarde em queda de cerca de 0,40%, abaixo dos 103,400 pontos. Nos EUA, o índice de gerente de compras (PMI, na sigla em inglês) industrial caiu de 50 em outubro para 49,4 em novembro, enquanto analistas esperavam alta para 50,2. Leituras abaixo de 50 indicam contração da atividade. De outro lado, o PMI de serviços subiu de 50,6 para 50,8, além da projeção de alta a 50,7.

O economista-chefe da Western Asset, Adauto Lima, afirma que o ambiente externo tem exercido papel preponderante no comportamento da taxa de câmbio. Ele observa que houve uma mudança na percepção de risco em torno de movimentos da curva de juros americana. No curto prazo, saiu de cena o debate sobre se o Federal Reserve (Fed, o BC dos EUA) poderia subir mais a taxa básica.

“Isso dominou o movimento de câmbio global. Todas as moedas modas se fortaleceram em relação ao dólar. Temos ainda no Brasil a sustentação de termos de trocas favoráveis, com fluxo comercial forte, o que faz com que o real apresente esse desempenho nas últimas semanas”, afirma Lima, acrescentando que pressões sobre a moeda vinda de remessas de lucros e dividendos típicas de fim do ano tendem a ser pontuais. “Tem ainda um bom espaço ainda para valorização do real se não houver movimentos de deterioração do risco lá fora, com percepção de aumento das taxas americanas”.

Leituras benignas de inflação ao consumidor e a produtor nos EUA neste mês, somadas à ata do Federal Reserve, divulgada na última terça-feira, 21, levaram o mercado a apostar que não haverá alta adicional dos juros americanos. Uma ala dos investidores acredita em início de um processo de afrouxamento monetário já no fim do primeiro semestre de 2024.

Por aqui, o dia foi dominado pelos debates em torno dos eventuais impactos da decisão do presidente Lula de vetar integralmente o projeto de lei que prorroga até 31 de dezembro de 2027 a manutenção da desoneração da folha de pagamentos de 17 setores. Pela manhã, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, prometeu apresentar medidas sobre o tema a Lula depois de conversar com municípios e setores que podem sofrer impactos.

Analistas consideram o veto positivo do ponto de vista fiscal, mas alertam que a decisão de Lula cria atritos com o Congresso e pode dificultar a tramitação das medidas gestadas pela Fazenda para ampliar a arrecadação federal. O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), disse que o Senado está a aberto a ouvir” as propostas de Haddad. Mas ressaltou que a desoneração da folha tem apoio do Congresso, que pode derrubar o veto e Lula É esperada para a semana que vem a votação dos projetos da taxação de fundos exclusivos e offshore, além das apostas esportivas.

Juros

Os juros futuros fecharam com taxas perto da estabilidade, com viés de alta na ponta longa. As taxas oscilaram ao redor dos ajustes durante toda a sexta-feira, sem conseguir definir tendência, mas resistindo à influência de alta dos rendimentos dos Treasuries. Por outro lado, houve queda nos preços do petróleo e o câmbio esteve bem comportado. No noticiário fiscal, o veto do presidente Lula à desoneração da folha de pagamentos de 17 setores teve leituras divergentes, mas acabou sendo absorvido pelos agentes. A liquidez ficou novamente comprometida pela sessão reduzida em Wall Street, no dia seguinte às celebrações de Ação de Graças nos Estados Unidos.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 fechou em 10,455%, de 10,491% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2026 passou de 10,22% para 10,19%. O DI para janeiro de 2027 encerrou com taxa de 10,35%, estável. A do DI para janeiro de 2029 ficou em 10,78%, de 10,75%. Em relação à sexta-feira passada, as taxas curtas ficaram estáveis ante e as intermediárias e longas tiveram pequeno avanço.

O volume foi fraco também nos Treasuries e, por isso, o avanço das taxas não chegou a pesar nos negócios domésticos. “Subiram, mas sem liquidez”, ponderou Adauto Lima, economista-chefe da Western Asset, para quem vai se consolidando a ideia de alívio das taxas americanas, o que ajuda a contrapor o noticiário fiscal negativo. “Cada vez que sai algo do fiscal, é pior”, afirma. A taxa da T-Note de dez anos avançou para 4,46%, mas ainda muito distante do pico de 5% atingido a meados de outubro

Outro fator positivo para a curva de juros é o recuo nos preços do petróleo, na medida em que vai se reduzindo o temor de escalada da tensão geopolítica no Oriente Médio. O barril do tipo Brent voltou a US$ 80.

Na seara fiscal, o mercado mal pôde comemorar o veto integral de Lula à desoneração da folha de pagamentos de 17 setores até 2027, que em tese deve recuperar um pouco da arrecadação, porque está claro que a decisão será derrubada no Congresso. “A desoneração tem uma razão de ser, não é um benefício ao acaso. O país precisa gerar emprego”, disse o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG).

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, alega que a proposta era inconstitucionale disse que pretende, na volta da COP-28, apresentar novas medidas relacionadas ao tema para o presidente Lula. O veto gerou uma grita por parte de empresas e associações, que afirmam que a medida pode gerar demissões em massa, o que, caso se concretize, representa risco para a atividade. Com isso, a arrecadação deverá cair, numa anulação do efeito inicial favorável à área fiscal.

Para o economista-chefe da JF Trust, Eduardo Velho, o veto e o mal-estar gerado pela aprovação no Senado do projeto que restringe poder no STF aumentam os ruídos políticos e podem afetar a tramitação das pautas no Congresso, embora ele acredite na aprovação dos projetos de taxação de fundos de alta renda e apostas esportivas, cuja votação está prevista para a próxima semana. “Isso já está acordado, mas questão das subvenções do ICMS é mais importante e ainda está envolta em muita incerteza”, diz. Por isso, considera que os DIs têm pouco potencial de queda

Estadão Conteúdo

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