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Economia

Dólar supera R$ 5,16 com queda de commodities e cautela antes do payroll nos EUA

Operadores relatam ambiente de cautela diante da expectativa pela divulgação na sexta-feira, 6, do relatório de empregos (payroll) nos EUA

Redação Jornal de Brasília

05/10/2023 18h34

Após encerrar a sessão da quarta-feira, 4, praticamente estável, o dólar à vista voltou a subir no mercado doméstico de câmbio nesta quinta-feira, 5, em meio a um ambiente marcado por queda das commodities e fortalecimento da moeda norte-americana em relação a divisas latino-americanas. Com mínima a R$ 5,1508 e máxima a R$ 5,1882, a divisa terminou o dia em alta de 0,31%, cotada a R$ 5,1692 – maior valor de fechamento desde 27 de março (R$ 5,2065). 

Com agenda doméstica esvaziada, a formação da taxa de câmbio foi ditada mais uma vez pelo ambiente externo. Operadores relatam ambiente de cautela diante da expectativa pela divulgação na sexta-feira, 6, do relatório de empregos (payroll) nos EUA em setembro, cujo resultado pode mexer com as apostas em torno de uma alta adicional da taxa de juros pelo Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano).

Os dados do mercado de trabalho dos EUA divulgados nesta semana mostraram sinais distintos. O relatório Jolts revelou, na terça-feira, abertura de 9,61 milhões de postos de trabalho, bem acima das expectativas (8,9 milhões). Já o relatório ADP, divulgado na quarta-feira, mostrou que o setor privado criou 89 mil empregos em setembro, aquém do esperado (140 mil). Pela manhã, nesta quinta, o Departamento do Trabalho informou que os novos pedidos semanais de auxílio-desemprego subiram menos do que as previsões.

“Os pedidos de auxílio-desemprego mostram que o mercado de trabalho continua forte e que mais alta de juros pode ser necessária para controlar a inflação. A perspectiva de juros elevados nos EUA empurra o dólar para cima”, afirma o especialista Gabriel Meira, da Valor Investimentos. 

Segundo analistas, o desconforto com o nível dos juros longos americanos continua a pautar os mercados. A taxa da T-note de 10 anos, principal ativo do mundo, teve leve recuo nesta quinta, para o nível de 4,70%. Mas o retorno do papel de 30 anos voltou a subir, ultrapassando os 4,90% nas máximas.

De acordo com a mediana de Projeções Broadcast, o payroll vai mostrar criação de 175 mil vagas de empregos em setembro nos EUA – o que representara uma desaceleração na comparação com agosto, quando houve geração de 187 mil vagas. 

“O mercado de câmbio segue muito pressionado pela questão dos juros americanos. E amanhã saem os dados do payroll, que certamente vão ‘fazer preço’ nos ativos”, afirma o especialista em câmbio da Manchester Investimentos, Thiago Avallone. 

No início da tarde, a presidente do Federal Reserve de São Francisco, Mary Daly, disse que, se as condições financeiras seguirem apertadas, a necessidade de ações adicionais diminui. Daly disse que, se continuar vendo o mercado de trabalho desacelerando e a inflação caminhando para a meta, o BC norte-americano pode deixar as taxas de juros estáveis. Com o arrefecimento da inflação e taxa nominal inalterada, há um aumento da taxa real, o que significa política monetária mais restritiva. 

Termômetro do comportamento do dólar frente a uma cesta de seis divisa fortes, o índice DXY operava em baixa firme no fim da tarde, mas ainda em níveis elevados, na casa dos 106,300 pontos. Embora tenha recuado em relação a pares, o dólar avançou na comparação com moedas latino-americanas de países de juros altos, em dia marcado por baixa de commodities metálicas e novo tombo das cotações do petróleo. O contrato do tipo Brent para dezembro recuou 2,07%, a US$ 84,07 o barril. 

Entre pares do real, o pior desempenho foi do peso mexicano, que caiu mais de 1,5% ante o dólar e voltou a níveis abril. Ao movimento de realização de lucros somou-se desconforto com a decisão do governo do México de mudar unilateralmente tarifas sobre concessões aeroportuárias.

Bolsa

Após o leve avanço da quarta-feira (de 0,17%), o Ibovespa retomou o sinal negativo nesta quinta-feira, em baixa moderada a 0,28% no fechamento, aos 113.284,08 pontos, ainda rondando os menores níveis desde o início de junho. Assim, acumula agora perda de 2,81%, o equivalente a cerca de 3,2 mil pontos em relação ao nível em que estava no fim da semana passada, aos 116,5 mil. 

Nesta quinta, a referência da B3 oscilou entre mínima de 112 704,87 e máxima de 114.359,33 pontos, saindo de abertura aos 113 608,78. No ano, o Ibovespa ainda avança 3,23%.

O giro financeiro se manteve fraco, a R$ 17,0 bilhões, nesta véspera de divulgação dos dados mais aguardados da semana: o relatório oficial sobre o mercado de trabalho nos Estados Unidos em setembro, com a geração líquida de vagas, a taxa de desemprego e a evolução média do ganho salarial no país.

Nesta quinta-feira, o desempenho de bancos como Santander (Unit +2,38%) e Itaú (PN +1,58%) em meio a expectativa mais favorável quanto a uma solução do governo para a questão do JCP (distribuição de juros sobre capital próprio, frequente entre instituições financeiras), assim como de Vale (embora muito enfraquecido, com a ON em alta de apenas 0,05% no fechamento), não foi o suficiente para se contrapor ao efeito de Petrobras (no fechamento, ON -0,39%, PN +0,34%), de utilities como Eletrobras (ON -1,36%, PNB -1,05%) e de siderúrgicas como Gerdau (PN -1,43%).

As empresas de construção também foram mal na sessão, com MRV (-3,61%) à frente, entre as maiores perdas do dia na carteira Ibovespa junto com Hapvida (-4,81%), Magazine Luiza (-4,23%), Grupo Casas Bahia (-3,45%) e 3R Petroleum (-3,12%). Na ponta ganhadora, além de Santander e Itaú, destaque também para CVC (+3,50%), TIM (+1,74%) e Petz (+1,63%).

“Dólar em alta e Bolsa em queda desde os futuros, pela manhã. Os pedidos iniciais de auxílio-desemprego, nos Estados Unidos, vieram um pouco abaixo do que se esperava para a semana, mostrando que a economia americana segue muito aquecida, corroborando o cenário de juros altos por mais tempo, até que se tenha controle da inflação”, diz Stefany Oliveira, head de análise de trade da Toro Investimentos.

“A inflação americana permanece acima da meta, e a atividade econômica tem se mostrado resiliente. É bem mais difícil trazê-la de 4% para 2% meta do Federal Reserve do que de 8% para 4% ao ano. A tarefa do Fed se mostra agora, no ponto em que se encontra, mais desafiadora”, diz Daniel Miraglia, economista-chefe do Integral Group, referindo-se ao recente movimento dos juros americanos, com a ponta longa da curva especialmente pressionada em contexto ainda marcado por política fiscal expansionista nos Estados Unidos, que afeta diretamente as expectativas do mercado para a inflação.

Miraglia observa também, na ponta longa da curva de juros em todo o mundo, o efeito sobre as expectativas de inflação derivado do forte avanço do petróleo em relação ao início de setembro, passando da casa de US$ 80 para a de US$ 90 por barril – ora em correção, com o Brent de volta aos US$ 84 e o WTI aos US$ 82 por barril nesta quinta-feira, em meio a preocupações, no mercado da commodity, de que a escalada de juros global deteriore a demanda por petróleo.

“A recuperação de preços do petróleo tem sido observada desde julho, em tendência de alta a partir de então, uma melhora que ganhou peso com o corte de oferta por produtores como Arábia Saudita e Rússia. Mais recentemente, dado o aperto de juros nos Estados Unidos, que segura as economias como um todo, veio a percepção de que a demanda deve se enfraquecer”, diz Rodrigo Moliterno, head de renda variável da Veedha Investimentos.

“A tendência de alta de preços deve se manter, com o inverno europeu, que apoia o consumo da commodity”, acrescenta. “Abaixo de US$ 80, vem corte de produção da Opep, que dita os preços, e próximo de US$ 100 tende a haver aumento da oferta.”

No quadro mais amplo, “essa alta dos preços do insumo foi muito rápida e expressiva, o que trouxe o receio de uma segunda onda inflacionária”, diz Miraglia, do Integral Group. “Com o petróleo caindo agora, caso venha a se firmar abaixo de US$ 90 o barril, a curva de juros americana pode fechar mais de 20 pontos-base, talvez até um pouco mais do que isso, em relação ao que se vê no momento”, acrescenta o economista.

“Nessas últimas duas semanas, nos ativos brasileiros como no resto do mundo, 80% do que se vê, do que tem ocorrido com os preços, decorre da curva longa nos Estados Unidos. Uma abertura maior na curva de juros americana resultaria em deterioração adicional para os ativos brasileiros, como nos demais emergentes E uma melhora, por outro lado, traria alívio”, aponta Miraglia

Após ter chegado a 4,80% recentemente, o rendimento da T-note de 10 anos retrocedeu nesta quinta para a faixa de 4,69% na mínima do dia, enquanto o de 2 anos, que chegou a 5,15%, recuou nesta quinta-feira para 5,01%, no piso da sessão e também no fechamento. 

O Brent, por sua vez, que chegou a tocar recentemente a marca de US$ 96, foi negociado nesta quinta abaixo de US$ 84, a US$ 83,84 na mínima do dia, e fechou a US$ 84,07 para o contrato de dezembro, em baixa de 2% em Londres, estendendo a perda de 5,62% observada no dia anterior.

Taxas de juros

Os juros futuros operaram majoritariamente com viés de alta nesta quinta-feira, acompanhando o compasso de espera dos demais mercados pelo payroll norte-americano de setembro, na sexta-feira. A oscilação das taxas foi limitada, tendo de um lado o comportamento comedido dos Treasuries e o recuo do petróleo e, de outro, o avanço, também moderado, do dólar ante o real. Agenda e noticiário domésticos nesta quinta esvaziados não também não conseguiram ditar a dinâmica do mercado.

O contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 encerrou com taxa de 11,00%, de 10,97% na quarta-feira no ajuste, e a do DI para janeiro de 2026 avançou a 10,88%, de 10,84%. O DI para janeiro de 2027 terminou com taxa de 11,14%, de 11,08%. O DI para janeiro de 2029 projetava taxa de 11,63%, de 11,57%.

A pouca disposição para o risco se manifestava já pela manhã, com taxas oscilando em alta e o mercado evitando assumir posições antes da divulgação do relatório de emprego nesta sexta-feira, depois de dois indicadores divergentes sobre o emprego nos EUA esta semana. 

“Quem vai ditar o ritmo dos mercados será mesmo o payroll”, afirma o economista da MAG Investimentos Felipe Rodrigo de Oliveira, que considerou também discreta a movimentação desta quinta nos Treasuries. 

O consenso das expectativas para o payroll coletadas pelo Projeções Broadcast é de geração de 175 mil vagas nos EUA no mês passado. O economista-chefe do PicPay, Marco Caruso, trabalha com 170 mil, “número bom e saudável, mas que representaria o quarto mês seguido de criação de vagas abaixo de 200 mil, fato que não acontece desde 2018”, destaca. Sobre a renda fixa doméstica, mesmo com o desmanche recente, Caruso diz que ainda tem muita posição aplicada em prefixados. “A leitura é de que estamos numa janela ruim de mercados, mas os alguns fundamentos ainda ancoram o ciclo de cortes da Selic”, explica.

Estadão Conteúdo

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