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Economia

Com fuga de investidores, fundos têm resgates de R$ 82 bilhões no 1º trimestre

Em um cenário de juros altos com a Selic em 13,75% no qual os investidores têm dado preferência à alocação direta em títulos de renda fixa

FolhaPress

06/04/2023 16h24

Foto: Agência Brasil

Lucas Bombana

São Paulo, SP

Em um cenário de juros altos com a Selic em 13,75% no qual os investidores têm dado preferência à alocação direta em títulos de renda fixa, a indústria de fundos de investimento encerrou o primeiro trimestre com saques líquidos de R$ 82,1 bilhões, o primeiro resultado negativo para o período desde 2019, segundo dados divulgados nesta quinta-feira (6) pela Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais).


O resultado representa uma forte reversão de tendência em comparação ao mesmo período do ano passado, quando houve captação líquida de R$ 42,6 bilhões.


Segundo Pedro Rudge, vice-presidente da Anbima, a fuga de recursos dos fundos não foi um movimento exclusivo do mercado brasileiro, com um sentimento de maior aversão ao risco também entre os investidores nos Estados Unidos e na Europa, em um cenário global de crise bancária e aumento de juros nos países desenvolvidos para combater a pressão inflacionária.


“As grandes explicações [para o saque dos fundos] é a aversão a risco e uma taxa de juros alta, fazendo com que outros instrumentos disponíveis se tornem mais atrativos do que os fundos”, afirmou Rudge durante entrevista a jornalistas.


Os instrumentos isentos de IR (Imposto de Renda), acrescentou o vice-presidente da Anbima, estão entre os que mais ganharam atratividade no radar dos investidores nos últimos meses. Em um cenário de juros elevados, “poder fazer investimentos e não pagar imposto é um diferencial bastante relevante que faz com que as pessoas acabem realocando seus investimentos”, afirmou Rudge.


Entre as principais categorias, os fundos do tipo multimercado foram os que sofreram o maior volume de resgates de janeiro a março, que alcançou saídas de R$ 37,4 bilhões. Já os fundos de ações tiveram retiradas líquidas de R$ 23,9 bilhões no período. Em igual período do ano passado, as duas classes haviam registrado saques de R$ 41 bilhões e R$ 30,7 bilhões, respectivamente.


A principal diferença para o resultado consolidado da indústria de fundos, contudo, veio da renda fixa –após registrar captação líquida de R$ 108,4 bilhões no primeiro trimestre de 2022, os fundos da categoria tiveram saques líquidos de R$ 12,2 bilhões nos três primeiros meses deste ano.


Rudge afirmou que o caso da Americanas teve um impacto limitado para a saída de recursos da categoria de renda fixa, em especial no caso dos fundos que investem em crédito privado.


“A gente viu em um primeiro momento uma aversão ao risco maior em decorrência de Americanas e um medo que isso pudesse contaminar eventualmente outras empresas, mas, quando olhamos o comportamento do trimestre como um todo não parece ser alguma coisa concentrada ou um movimento muito grande”, afirmou o vice-presidente da Anbima.


Ele disse ainda que, assim que veio a tona, o episódio envolvendo a varejista causou uma paralisia na emissão de títulos pelas empresas, mas que, “nesse último mês já começamos a ver alguma movimentação.”


Diretor da Anbima, Giuliano De Marchi afirmou que, para os próximos meses, o que mais vai contribui para determinar o movimento na indústria de fundos é o patamar da taxa de juros, seja no Brasil ou no exterior.


“Se tivermos um cenário internacional com menos incerteza e começar a ter uma queda de juros lá fora e aqui dentro também, começamos a ter uma busca maior por ativos de risco. [É um movimento que] deve começar mais para o final do ano”, afirmou De Marchi.


Apesar da fuga de recursos, a valorização dos ativos contribuiu para que o patrimônio líquido da indústria de fundos tenha encerrado o mês de março no patamar de R$ 7,5 trilhões, um aumento de 4,2% na comparação com o mesmo período do ano anterior.


Em termos de rentabilidade, os destaques positivos ficaram por conta dos fundos de renda fixa que investem em títulos públicos de longo prazo, com retorno acumulado de 3,9% no primeiro trimestre. Na sequência vêm os fundos multimercado de investimento no exterior, com rentabilidade positiva de 3,3%.


Na ponta contrária, os piores retornos ficaram com as estratégias de investimentos em ações -os fundos small caps, que alocam os recursos em ações de menor capitalização, tiveram rentabilidade média negativa de 8%, enquanto a estratégia “ações livres”, em que os gestores têm liberdade de escolher os papéis que entendem com as melhores perspectivas, teve recuo médio de 5%.

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