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Economia

Alta dos alimentos deve ‘espremer’ mais os brasileiros

No Brasil, os principais grãos têm reservas equivalentes entre um e dois meses de consumo, concentradas no setor privado

FolhaPress

18/03/2022 21h58

Supermercado na zona sul do Rio de Janeiro.

Fernando Canzian

O Ministério da Agricultura acredita que os preços dos alimentos continuarão em patamar elevado e descartou redução de exportações durante a guerra entre Rússia e Ucrânia, medida adotada por alguns países para aumentar estoques.

No Brasil, os principais grãos têm reservas equivalentes entre um e dois meses de consumo, concentradas no setor privado.

Segundo Sílvio Farnese, diretor de Comercialização e Abastecimento do ministério, o governo não tem como adotar medidas para conter a disparada dos preços. Nem como agir para elevar estoques. “Temos como baixar o preço dos alimentos? Não. Aumentar os estoques neste momento também só traria mais pressão de alta”, diz. “Os preços estão elevados, e a tendência é de alta. Mas o melhor remédio para preço alto é preço alto. É isso que incentiva a produção.”

Nos últimos dois anos, alguns dos principais grãos produzidos, consumidos e exportados pelo Brasil tiveram aumentos superiores a 100%, casos de trigo, milho e soja. Arroz e feijão, básicos na alimentação, subiram entre 40% e 50%.

Mas a produção de grãos ainda não aumentou substancialmente. Em relação à safra 2019/2020, a alta para a atual será inferior a 4% –considerando a colheita prevista, de 268,2 milhões de toneladas.

Antes mesmo da nova disparada de preços ao longo de 2021 e neste ano, quase 20 milhões de brasileiros, um Chile, declaravam passar 24 horas ou mais sem ter o que comer em alguns dias da semana.

No total, mais da metade (55%) dos brasileiros sofriam de algum tipo de insegurança alimentar (grave, moderada ou leve), segundo inquérito da Rede Penssan.

O quadro vem se agravando com a queda sustentada na renda nos últimos anos. No trimestre de novembro de 2021 a janeiro deste ano, o IBGE registrou nova baixa no rendimento médio do trabalho. A renda real habitual foi estimada em R$ 2.489, menor valor para trimestres comparáveis na série histórica, iniciada em 2012.

Em termos relativos, taxa de desemprego (11,2%) e patamar de renda encontram-se bastante piores no Brasil do que nos países ricos. Como eles ainda têm “gordura” para absorver e sustentar alguma alta nos alimentos, pessoas mais pobres de países como o Brasil devem continuar sendo “espremidos” pela tendência de alta.

Desde que a guerra na Ucrânia estourou, há quatro semanas, o preço de alguns itens como trigo subiu mais 30%, com ucranianos e russos respondendo por 25% da oferta global do produto. Além da alta na esteira do conflito, os preços de alguns fertilizantes explodiram –o que deve encarecer alimentos em todo o mundo.

Farnese afirma que o Brasil tem estoques de fertilizantes garantidos neste ano e que, mesmo com menos insumos, produtores teriam o campo preparado para aguentar uma nova safra. “Temos um bom estoque de fertilizantes no solo. Os produtores poder reduzir à metade a fertilização por um período sem comprometer a competitividade”, afirma.

Farnese considera que restringir exportações de alimentos no Brasil neste período crítico, a exemplo de Egito e Indonésia, entre outros, provocaria distorções no mercado. “Fechar a porta [das exportações] para resolver um problema pontual numa estrutura totalmente integrada ao mercado internacional só traria prejuízos.” Segundo ele, a Argentina também considera restringir exportação de trigo.

Além da produção local de cerca de 7,7 milhões de toneladas/ano de trigo, o Brasil importa um montante equivalente a esse para suprir a demanda interna. Cerca de 90% do produto vêm do Mercosul –e não há dependência de trigo ucraniano ou russo.

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