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Brasil

Ex-chefe de Polícia Civil do RJ é preso sob suspeita de envolvimento com jogo do bicho

No último 7 de Setembro, Turnowski participou do ato de campanha do presidente Jair Bolsonaro (PL) na praia de Copacabana

FolhaPress

09/09/2022 17h12

Foto: Imagem ilustrativa

Italo Nogueira e Bruna Fantti
Rio de Janeiro, RJ

O delegado Allan Turnowski, que chefiou a Polícia Civil do Rio de Janeiro até março, foi preso nesta sexta-feira (9) sob suspeita de colaborar com contraventores do jogo do bicho.

De acordo com investigação do Ministério Público do Rio de Janeiro, Turnowski é acusado de receber propina da contravenção.

Também foi alvo de busca e apreensão o delegado Antônio Ricardo Lima Nunes, ex-chefe do Departamento-Geral de Homicídios. Ele é candidato a deputado estadual pelo Podemos.

O advogado de Turnowski, Fernando Drumond, afirmou que irá se posicionar quando tiver acesso ao processo. Em vídeo divulgado em suas redes sociais, gravado um mês antes da prisão, o delegado afirma estar sendo vítima de uma perseguição política.

“Por que vão entrar na minha casa? Por perseguição política, porque vocês sabem que estou forte na minha campanha. E como deputado federal, o jogo vai inverter. Hoje, só vocês podem armar para mim. Mentiras, inverdades, fazer uma costura para tentar me desmoralizar”, diz Turnowski, candidato pelo PL.
A defesa de Antônio Ricardo declarou que “não há nenhum envolvimento dele em atos criminosos vinculados com contraventores do jogo ilegal”.

“Após 23 anos combatendo o crime, sem nenhuma mácula em sua vida profissional, a defesa esclarece que respeita o trabalho realizado, porém não condiz com a realidade. O fato será esclarecido e sua inocência será comprovada”, afirmou a advogada Adriana Glauco, em nota.

A Polícia Civil afirmou, em nota, que ainda não recebeu a denúncia, mas disse que foi na atual gestão “que os três chefes das principais facções da contravenção, Rogério Andrade, Bernardo Bello e José Caruzzo Escafura, o ‘Piruinha’, foram investigados e tiveram os pedidos de prisão solicitados à Justiça”.

Turnowski foi secretário da Polícia Civil da gestão Cláudio Castro (PL), mas deixou o cargo para se candidatar a deputado federal pelo PL. Uma de suas bandeiras de campanha era a operação feita no Jacarezinho em maio de 2021, em que 27 pessoas foram mortas pela polícia -o número de vítimas da favela integrava o número de urna do delegado.

A ação é um desdobramento da investigação contra o delegado Marcelo Demétrio, preso há um ano sob acusação de cobrança de propina a lojistas de Petrópolis. Os 12 celulares apreendidos com o policial, porém, ampliaram as suspeitas contra ele, incluindo envolvimento com o bicheiro Rogério Andrade e vazamento de informações do caso Marielle.

Em maio deste ano, o inspetor Vinicius de Lima Gomez, ligado a Turnowski, também foi alvo na Operação Calígula sob suspeita de atuar em favor do bicheiro. De acordo com denúncia do Ministério Público, o agente “ostenta uma peculiar proximidade tanto com os supostos criminosos atuantes no estado do Rio de Janeiro, quanto com agentes públicos que ocuparam o alto escalão da Polícia Civil fluminense”.

“No material probatório, há um volume relevante e muito significativo de dados que confere plausibilidade à afirmação do MP de que o denunciado Vinícius é personagem emblemático, especialmente porque flutua com peculiar destreza entre os dois polos de uma conturbada e inexplicável relação de proximidade existente entre a polícia e o crime organizado”, diz trecho da denúncia.

Um dos acusados nesta operação é o ex-PM Ronnie Lessa , acusado de matar a vereadora Marielle Franco (PSOL) e seu motorista, Anderson Gomes. A apuração teve como objetivo desarticular um esquema para proteger uma organização criminosa especializada em jogos de azar. Rogério Andrade também foi alvo de mandado de prisão nesta operação, e ficou foragido por três meses.

Lessa e Turnowski trabalharam juntos. O ex-PM atuou com adido na Polícia Civil em delegacias especializadas de roubo de cargas e armas.

A proximidade entre os dois aparece em mensagens encontradas no celular de Lessa após sua prisão, em março de 2019, enviadas por Vinicius Gomez.

“Estou com Allan, te mandou um abraço”, diz Gomez a Lessa, em diálogo ocorrido dois meses após a morte da vereadora. Lessa ainda não havia sido preso pelo crime. O ex-PM responde: “Ok, manda outro para ele”.

Em suas redes sociais, contudo, Turnowski divulgava ações da polícia contra bicheiro. Em maio deste ano, ele compartilhou notícia sobre a decretação de prisão contra Rogério Andrade e Bernardo Bello, outro conhecido contraventor da capital.

Turnowski construiu sua carreira na Polícia Civil com “perfil operacional”, na defesa de confronto com facções criminosas.

Ele já havia chefiado a Polícia Civil entre 2009 e 2011, na gestão Sérgio Cabral. Ele deixou o cargo na ocasião após ser indiciado sob suspeita de vazar informações de uma operação da Polícia Federal a um inspetor alvo da apuração. O caso, porém, foi arquivado a pedido do Ministério Público.

Após amargar certo ostracismo na corporação, retomou o prestígio até ser nomeado novamente para a chefia da corporação por Cláudio Castro, assim que o governador assumiu definitivamente o cargo após o impeachment de Wilson Witzel.

No último 7 de Setembro, Turnowski participou do ato de campanha do presidente Jair Bolsonaro (PL) na praia de Copacabana. O delegado tem forte ligação com o senador Flávio Bolsonaro (PL), visto como um dos fiadores de sua nomeação ao cargo no governo fluminense.

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