ROGÉRIO PAGNAN E GUILHERME SETO
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)
Horas após o assassinato do empresário Antônio Vinícius Lopes Gritzbach, 38, no aeroporto de Guarulhos, crime que ainda mobiliza as forças de segurança de São Paulo, o secretário da Segurança, Guilherme Derrite, decidiu reunir-se com um grupo de policiais e participar de uma reunião especial.
Ao lado do delegado-geral Artur Dian e policiais do GER (grupo de elite da Polícia Civil), o capitão da reserva da PM paulista foi para Maresias, no litoral norte de SP, para participar das comemorações do aniversário do deputado federal Maurício Neves (PP), em uma casa de shows à beira-mar.
O parlamentar faz aniversário dia 5, mas festejou no final de semana. Conforme pessoas que participaram do evento, as comemorações começaram na sexta (8), com um “esquenta”, mas a festa principal começou na tarde de sábado (9) e se estendeu até a madrugada de domingo (10).
A Secretaria da Segurança Pública afirmou que o “secretário Guilherme Derrite participou no sábado de um evento particular, sem o uso de veículo oficial. A agenda pessoal do secretário não implica em absolutamente nenhum desdobramento e acompanhamento do caso. As providências relativas ao homicídio ocorrido no Aeroporto Internacional de Guarulhos estão sendo rigorosamente adotadas desde as primeiras horas após o fato, com o deslocamento imediato das forças de segurança ao local do crime, apreensão de veículos e celulares, e a realização de exames periciais”.
As primeiras 48 horas após um de crime, chamadas horas de ouro, são consideradas as mais importantes de toda a investigação, pois podem influenciar no sucesso do trabalho policial -principalmente quando se trata de uma apuração envolvendo assassinato, segundo a própria polícia.
Segundo a secretaria, foi criada uma força-tarefa para “acelerar a investigação, composta por integrantes das polícias Civil, Militar e Técnico-Científica, com a colaboração de policiais federais e membros do Ministério Público, que também participaram de uma reunião realizada na sede da pasta. Como resultado desse trabalho, já foram realizadas diversas oitivas e o afastamento preventivo de policiais civis e militares que estão sendo investigados, com acompanhamento das suas respectivas corregedorias, reafirmando o compromisso e o respeito da Secretaria às leis, à transparência e à imparcialidade no processo investigativo.”
Em uma foto compartilhada nas redes sociais, Derrite aparece com camiseta, camisa e bermuda brancas, abraçado com os policiais, todos vestidos de branco. Além de Dian, aparecem na foto os investigadores Fábio Bopp, e Márcio Gardenal, como investigador do Deic se apresenta publicamente.
Fábio Bopp ficou conhecido por sua ligação de amizade com o empresário Thiago Brennand, condenado por uma série de crimes, incluindo suspeita de estupro. O investigador é apelidado de Xerife de Maresias, e tem muita amizade com praticantes de surf.
Já o Deic (Departamento Estadual de Investigações Criminais) de Márcio é um dos departamentos citados por Gritzbach em acordo de delação premiada firmado entre o delatado do PCC e integrantes do Ministério Público e também para a Corregedoria da Polícia Civil.
Policiais dessa unidade e de outras duas, cujos nomes não foram revelados, teriam participado de suposto esquema de corrupção, conforme versão do empresário levada às autoridades. A delação é apontada como principal motivo para o assassinato, que pode ter participação de policiais paulistas.
Em outras imagens às quais a reportagem teve acesso, Derrite aparece aparentemente cantando em meio aos convidados. A festa contou com show do cantor Latino, que fez questão de destacar a presença do secretário da segurança no evento falando “Bora, Derrite” enquanto cantava a música “Conquista”.
Pessoas que estiveram na festa do parlamentar afirmam que foi algo reservado, com presença de políticos de relevo no cenário brasileiro.
Entre eles estavam o senador e presidente do PP Ciro Nogueira, Hugo Motta (Republicanos-PB), deputado federal e favorito à sucessão de Arthur Lira na presidência da Câmara, Fernando José da Costa, secretário de Justiça da gestão Ricardo Nunes (MDB), e Fabio Wajngarten, braço direito de Jair Bolsonaro (PL) e ex-titular da Comunicação da gestão do ex-presidente.
Além da participação na festa no sábado, Derrite e Dian deveriam embarcar juntos no domingo (10) para um evento nos Estados Unidos, mas a viagem foi cancelada a pedido do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), justamente para acompanhar as investigações da morte do empresário.
Os dois acabaram participando de uma entrevista conjunta na segunda (11), quando anunciaram a criação de uma força-tarefa para conseguir esclarecer quais foram os assassinos do delator e quem seriam os responsáveis pelo mando do crime, já que há a hipótese de contratação de matadores de aluguel.
Na entrevista, Derrite disse lamentar a morte do motorista de aplicativo Celso Novais, atingido por disparos enquanto esperava por passageiros. “É triste ter a vida de um trabalhador ceifada.”
Ao ser questionado sobre as declarações da viúva Simone Dionízia Fernandes Novais, de que a família não foi procurada pelas autoridades, o secretário disse que a melhor resposta a ser dada é um trabalho eficaz da polícia. “A melhor resposta que podemos dar à família é a justiça”, respondeu.